'Sonho de ajudar a família': saiba quem era aluna estuprada e morta na universidade
Janaína da Silva Bezerra, de 22 anos, era estudante de jornalismo e morreu após uma festa de calouras na Universidade Federal do Piauí
A estudante Janaína da Silva Bezerra, de 22 anos, morreu após uma festa de calouros na Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina, no último sábado, 28. De acordo com um laudo do Instituto de Medicina Legal (IML), a jovem sofreu violência sexual e teve o pescoço quebrado. O estudante de mestrado em matemática Thiago Mayson da Silva Barbosa foi preso suspeito do crime.
Janaína era estudante do curso de Jornalismo na UFPI. Ela iniciou os estudos na universidade no segundo semestre de 2020. Era a primeira da família a ingressar no ensino superior. Em entrevista ao Balanço Geral da TV Antena 10, afiliada à Record TV na região, a mãe da jovem, Maria do Socorro, afirmou que a filha era estudiosa e sonhava em dar uma vida melhor para a família.
Maria do Socorro contou que é vendedora de geladinho e que a filha sempre ajudava ela nas vendas. "Ela começou a fazer bolo no pote para ajudar. Botei minha filha pequena para entregar. Ela sempre me ajudou muito. [Um dia ela] disse: 'mãe eu vou conseguir'. O sonho dela era ajudar a gente. Eu quero justiça, tiraram minha filha muito nova. Tiraram tudo dela. Eu estou sofrendo muito. Eu amava minha filha e quero que ele pague", desabafou.
Além do sonho de ser jornalista e garantir uma vida melhor a sua família, Janaína tinha uma página no Instagram em que compartilhava poemas de sua autoria. Na sua publicação mais recente, no início de janeiro deste ano, o poema postado começava com a frase "anseio o que o futuro tem pra mim".
Mãe pede por mais segurança
"Quando cheguei lá encontrei minha filha morta. Não acreditei, fiquei em desespero, fiquei sem saber o que fazer. Ele tirou a vida da minha filha e eu só quero justiça. Eu quero que as pessoas grandes tenham mais cuidado, porque muitas mães já perderam. Lá dentro tem tudo. Vejo que tem sala fechada, não tem segurança, não tem nada", afirmou Maria do Socorro à TV Antena 10.
A mãe da estudante também clamou por mais segurança dentro das universidades. "Eu vou falar para todas as mães, muito cuidado com suas filhas porque minha filha era tudo pra mim. Eles tiraram vida da minha filha, destruíram sonhos. Quero justiça para que [isso] não aconteça com outras mães, porque se não tomarem uma providencia muitas mães vão perder [seus filhos]. Muitas já perderam e outras vão perder. Lá dentro [UFPI] já aconteceu muitas coisas", finalizou.
Causa da morte e alegação do suspeito
Segundo o IML, a causa da morte aponta para trauma raquimedular por ação contundente, ou seja, uma contusão na coluna vertebral a nível cervical, que causou lesão da medula espinhal e provocou a morte da jovem.
De acordo com a legista, a ação contundente pode ter sido causada por pancada, ação das mãos no pescoço com intuito de matar ou fazer asfixia, queda, luta, dentre outras possibilidades que estão sendo analisadas junto às investigações do caso.
Ainda de acordo com a nota divulgada pelo IML, em depoimento à Polícia Civil, o suspeito afirmou que já conhecia a vítima e que ele e Janaína teriam "ficado" em outras ocasiões. Ele teria relatado que os dois estavam em uma calourada na UFPI e que, por volta das 2h, convidou a jovem para ir a um corredor e, em seguida, entraram em das salas de aula, onde tiveram relação íntima consensual. Depois, ele disse que a vítima ficou desacordada duas vezes, sendo a última por volta das 4h.
O suspeito alegou que ficou ao lado do corpo da vítima durante toda a madrugada e que pediu socorro aos seguranças da universidade por volta das 9h. Ele levou a jovem ao Hospital da Primavera, onde o óbito foi constatado.
A Polícia Civil solicitou a prisão preventiva dele, que passou por audiência de custódia pelos crimes de feminicídio e estupro. Segundo o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), foram adotadas todas as providências necessárias para o fiel esclarecimento do caso, com a realização de entrevistas e a realização de exames periciais, além de perícia no local do crime. O inquérito policial será concluído em até dez dias.
De acordo com a UFPI, a administração não havia autorizado a festa realizada na sexta-feira, 27. A instituição colabora com as investigações.
Caso gerou revolta
A morte de Janaína gerou revolta não só entre familiares e amigos da jovem, mas a todos que acompanharam o caso. Nas redes sociais, a União Nacional dos Estudantes (UNE) lamentou o ocorrido.
"A estudante saiu de casa para viver o sonho de entrar no ensino superior público e conquistar seu diploma e sua autonomia, mas teve a vida interrompida por uma violência cruel. Infelizmente, a realidade de Janaina não é isolada nas universidades brasileiras. Na volta às salas de aula as mulheres estudantes encontraram também um espaço inseguro. Denúncias de casos como o que aconteceu na UFPI já surgiram em outras instituições pelo Brasil", escreveu a UNE, ao pedir justiça pelo crime.
Além disso, estudantes da UFPI preparam uma vigília em homenagem à vítima a partir de 16h desta segunda-feira, 30. O ponto de encontro será na praça em frente à reitoria e, em seguida, os alunos farão uma caminhada até o Carretel - espaço de convívio dos estudantes de jornalismo no Centro de Ciências da Educação (CCE).
"Nesse momento de profundo luto, consternação e indignação, convidamos a família de Janaína da Silva Bezerra, a comunidade ufpiana e a todos aqueles que se sentirem à vontade, para virem homenagear nossa eterna Jana amanhã (30), a partir das 16h. Será um momento de reflexão, coletividade e celebração à sua memória! Celebraremos Janaína, e seguiremos lutando pelo fim da violência de gênero, que nos rouba nossas meninas e mulheres", destacou o Diretório Central dos Estudantes da instituição.