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Torcedor é condenado por comentários racistas em publicação do Corinthians

O caso aconteceu em 2016, quando o Corinthians levou refugiados de dez países para conhecerem o estádio do time, em São Paulo; no processo, a defesa do torcedor negou que ele foi racista por ter uma esposa negra

14 set 2022 - 12h44
(atualizado às 12h48)
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Imagem é uma colagem que mostra um internauta anônimo e uma foto com crianças pretas
Imagem é uma colagem que mostra um internauta anônimo e uma foto com crianças pretas
Foto: Facebook/SC Corinthians Paulista | Montagem: Vinicius de Araújo/Alma Preta / Alma Preta

Um torcedor, homem branco, foi condenado pela Justiça por fazer comentários racistas em uma publicação do Corinthians, feita em 2016. Na época, o time divulgou uma ação em que levou 80 refugiados de dez países para assistir uma partida na Arena Corinthians, em São Paulo.

Na foto da publicação, seis crianças pretas aparecem usando a camisa do time. No comentário, o torcedor disse: "Que merda. Só preto nessa p*rra. Escureceu ainda mais a torcida. Ainda bem que lá no Allianz (sic) a torcida é bonita", escreveu no Twitter. Após a repercussão, o internauta excluiu a conta.

O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou aplicação de pena restritiva de direitos com pena de dois anos e quatro meses de prestação de serviços à comunidade e pagamento de dois salários mínimos, preferencialmente destinados a instituições voltadas ao combate do preconceito racial. A sentença foi confirmada no final de agosto deste ano.

A Alma Preta Jornalismo teve acesso ao processo. À Justiça, o torcedor confirmou que fez o comentário e justificou que estava "chapado" e "embriagado", porque tinha sido reprovado em um concurso público em razão da política de cotas para pessoas negras.

Disse também que não era racista, porque a namorada era negra e também tinha amigos negros. Ainda conforme o torcedor, antes de fazer os comentários ele havia sido insultado pela própria torcida do Corinthians como "branco azedo" por se posicionar contrário à política de cotas e que, por esse motivo, respondeu daquela forma.

"Confirmou que, realmente, a postagem teria partido dele. Afirmou ser corintiano e alegou que não pensa assim, que foi um comentário infeliz. Sua esposa é negra. Tem amigos negros também. Afirmou não desejar que alguém seja racista com sua filha (quando tiver uma)", cita um trecho da defesa do torcedor, representado pela Defensoria Pública de São Paulo.

Durante o processo, o promotor do MPSP, Marcelo Luiz Barone, chegou a pedir o arquivamento dos autos do processo do torcedor sob alegação de "estar ausente o ânimo do investigado em ofender pessoas em função de sua cor".

O pedido foi negado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, por meio do juíz Pedro Luiz Fernandes Nery Rafael, que apontou que o autor associou as pessoas negras à características depreciativas e negativas.

"Disse que o fato de terem mais negros na torcida seria uma 'merda' e que a presença dos refugiados 'escureceu ainda mais a torcida', algo negativo na ótica do interlocutor", cita o juíz.

Além disso, o TJSP, por meio da 21ª Vara Criminal, também apontou que, apesar do torcedor ter dito que a postagem teve um tom de deboche, ele apresentou contradições ao afirmar que fez o comentário porque estava alterado por ter sido reprovado em concurso.

No processo, a justiça também rebateu o argumento da defesa de que o autor não seria racista por ter esposa e amigos negros. Segundo a ação, a justificativa foi considerada como "equivocada" já que, segundo o entendimento do processo, "invocar a existência de familiares ou amigos negros é a defesa usual de pessoas acusadas de racismo, como se isso os isentasse de atitudes racistas".

"É justamente o contrário: quem assim se comporta se justifica explicando que casou com alguém, apesar de ser uma pessoa negra, é amigo de alguém, mesmo ele sendo um negro. O réu está sendo julgado por uma postagem racista, não por seu comportamento diário", pontua a decisão.

Atualmente o processo tramita na 21ª Vara Criminal de São Paulo e o processo segue em grau de recurso, quando a defesa pode se manifestar para revisão da decisão ou sentença.

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Alma Preta
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