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Trabalhadores são resgatados de condições análogas à escravidão em fornecedora do açúcar Caravelas

Resgate ocorreu em uma fazenda na cidade de Pirangi (SP); trabalhadores foram alojados em péssimas condições de higiene e conforto

7 mar 2023 - 14h11
(atualizado às 14h17)
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Trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão
Trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão
Foto: Divulgação/MPT

Trinta e dois trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão em uma fazenda na cidade de Pirangi, no estado de São Paulo, durante uma operação conjunta realizada pelo Ministério do Trabalho e Previdência (MTPS), Ministério Público do Trabalho (MPT), Defensoria Pública da União (DPU) e Polícia Rodoviária Federal (PRF). 

Segundo o MPT informou ao Terra, o resgate aconteceu no dia 26 de janeiro. Porém, o caso repercutiu nesta semana após uma reportagem do Brasil de Fato revelar que a fazenda onde os trabalhadores estavam é fornecedora de cana-de-açúcar à marca Caravelas. Em nota, a empresa diz que atuou de forma imediata ao saber do caso (confira o posicionamento abaixo)

Conforme informações do Ministério Público do Trabalho, as vítimas trabalhavam no plantio de cana-de-açúcar e vieram para o interior de São Paulo originários das cidades de Francisco Badaró, Minas Novas, Turmalina, Jenipapo de Minas e Berilo, no estado de Minas Gerais, trazidos por dois turmeiros (conhecidos como "gatos") que prometeram emprego e salário.

Os migrantes tiveram que custear do próprio bolso as passagens para o local onde ficavam os alojamentos, no município vizinho de Palmares Paulista (custo de R$ 320 cada um), e foram transportados de forma clandestina em duas vans.

Trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão
Trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão
Foto: Divulgação/MPT

Segundo depoimentos dos trabalhadores, eles não tinham dinheiro para pagar a própria alimentação e só conseguiram comer ao chegar no seu destino, quando houve a compra de mantimentos em um mercado local pelos turmeiros. As dívidas no mercado, ao longo da estadia dos migrantes, foram transferidas para os trabalhadores.

Ainda de acordo com o MPT, chegando em Palmares Paulista, os trabalhadores foram alojados em casas e um cômodo comercial, onde anteriormente funcionava um açougue, em péssimas condições de higiene e conforto. Nos alojamentos havia colchões velhos, forros rasgados, fogões e geladeiras velhos, banheiros em condições precárias de higiene e instalações elétricas expostas.

Devido ao extenso período de chuvas no mês de janeiro, os trabalhadores ficaram nove dias sem trabalhar e sem receber qualquer valor monetário, sequer o pagamento da chamada "diária da chuva", como é conhecida a diária mínima que é paga quando não há condições climáticas para o trabalho na lavoura.

"Os trabalhadores foram encontrados em condições degradantes, em local de higiene e conforto precários, sem receber salários, sem garantia de trabalho e, ainda, tendo sido trazidos de seu local de origem fora das normas exigidas, sob falsas promessas, o que configura aliciamento de mão de obra. A conduta dos empregadores representa uma afronta aos direitos fundamentais do trabalhador e à dignidade da pessoa humana", afirma a procuradora e vice-coordenadora regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo (CONAETE), Regina Duarte da Silva.

Trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão
Trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão
Foto: Divulgação/MPT

Resgate

Os auditores fiscais do trabalho resgataram os 32 migrantes, mediante lavratura de auto de infração, garantindo o direito ao seguro-desemprego.

Os empregadores celebraram termo de ajuste de conduta (TAC) perante o MPT e a DPU, se comprometendo a pagar as verbas rescisórias devidas aos resgatados, assiim como os custos relativos a passagens e alimentação para a volta dos trabalhadores às cidades de origem.

Também foi definido que os valores referentes às passagens de ida para Palmares Paulista fossem reembolsados aos trabalhadores, e a dívida contraída com o mercado paga pelos empregadores.

O TAC também previa o cumprimento de uma série de obrigações trabalhistas relacionadas a alojamentos, saúde e segurança do trabalho, pagamento de salários e formalização de contratos, sob pena de multas que variam de R$ 1.000 por item a R$ 5.000 por trabalhador.

Trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão
Trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão
Foto: Divulgação/MPT

O que diz a Colombo Agroindústria

A Colombo Agroindústria S/A, empresa dentetora da marca Caravelas, divulgou uma nota pública sobre o ocorrido e afirmou que, em mais de 80 anos de existência, sempre foi reconhecida e zelosa com o cumprimento das leis. A empresa destacou ainda que não há qualquer investigação direcionada à Colombo, que não praticou qualquer conduta irregular. 

Confira o posicionamento na íntegra:

"Nossa empresa, nos últimos dias, tem sido alvo de especulações acerca de conduta irregular na contratação de trabalhadores para o plantio da cana-de-açúcar, com práticas análogas ao trabalho escravo. Por isso, viemos a público esclarecer que:

A Colombo não tolera qualquer forma de contratação de colaboradores diretos ou indiretos que não esteja em conformidade com as leis e com respeito à dignidade humana.

Dada a natureza do trabalho eventual (período de três meses), a contratação dos prestadores de serviço, como feito tipicamente no setor, foi realizada pela empresa especializada, a R. Pereira Coelho Serviços de Plantio, que é a empregadora direta e que é alvo das investigações do Ministério Público do Trabalho.

Não há qualquer investigação direcionada à Colombo, que não praticou qualquer conduta irregular, muito menos aquelas que estão sendo atribuídas à empresa r. Pereira Coelho.

O evento ocorrido em Pirangi, que não se deu nas instalações da empresa, diz respeito a trabalhadores da empresa empregadora contratada e, quando informada do fato, a Colombo atuou de forma imediata e tempestiva para:

  • Apoiar o trabalho desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho, fornecendo todas as informações necessárias para o curso das investigações acerca da atuação da empresa R. Pereira Coelho Serviços de Plantio;
  • Instalou sindicância, por meio de sua auditoria externa de caráter permanente, como rege seu modelo de compliance, para apurar todos os fatos;
  • Assegurou que os funcionários envolvidos na situação retornassem, de imediato, aos seus domicílios de origem;
  • Reforçou os esforços para se certificar de que todos os demais trabalhadores estavam com sua condição de trabalho e moradia regulares e seguras. 

A Colombo Agroindústria S/A é uma empresa com mais de 80 anos de existência e sempre reconhecida pelo zeloso cumprimento das leis, cuja atuação é permanentemente marcada pelo respeito aos funcionários, aos prestadores de serviços, à comunidade, ao meio ambiente e à sociedade em geral.

A empresa se solidariza com os trabalhadores envolvidos e reforçou seus mecanismos de fiscalização e controle para que práticas condenáveis não se repitam."

Fonte: Redação Terra
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