Visiblidade trans: "Parem de nos matar", apela modelo brasileira
A modelo trans Kayla Oliveira, 27 anos, faz parte da nova geração de apostas na moda brasileira
A modelo trans Kayla Oliveira, 27 anos, natural de Tamboril (Ceará) - município com aproximadamente 25 mil habitantes - deixou o sertão, onde trabalhava com telemarketing, para trabalhar como modelo. Integrando a nova geração de apostas da moda brasileira, a jovem vendia planos telefônicos, até participar da seleção de modelos "The Look of The Year", onde ficou entre as finalistas da edição de 2018.
Desde então, estrela campanhas para grifes de moda, beleza e acessórios e, em 2021, debutou nas passarelas do São Paulo Fashion Week, onde desfilou com exclusividade para a grife Misci. Hoje é agenciada pela Way Model, a mesma de Sasha, Alessandra Ambrosio e Carol Trentini. Em 2022, o "Elas no Tapete Vermelho", na Semana da Mulher, fez uma série de entrevistas com mulheres para dar voz a modelos que fogem dos padrões até pouco tempo estabelecidos pelo mundo fashion.
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Neste 31 de Março, Dia Internacional da Visibilidade Trans, republicamos a entrevista de Kayla Oliveira, porque o que ela disse, infelizmente, não perdeu a validade. Mulheres trans, ainda que estejam tendo mais presença em alguns segmentos - lembrando que a paulista Erika Hilton e a mineira Duda Salabert foram as primeiras deputadas federais eleitas - muito ainda tem que ser feito.
Segundo o "Dossiê Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras", da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), o Brasil continua o primeiro, pelo 14º ano consecutivo a ser o país com mais mortes de pessoas trans e travestis pelo mundo, na frente de México e Estados Unidos. Em 2022, foram 131 trans e travestis assinados no Brasil. Assim, o apelo de Kayla - "Parem de nos matar" -, ainda precisa ecoar aos quatro ventos.
Entre os principais obstáculos para as pessoas transgêneros, Kayla apontou, em vídeo exclusivo gravado para o "Elas no Tapete Vermelho", o preconceito. "Ele nos afasta do convívio social", disse. "Quero poder usar a moda como plataforma para inclusão, para debate, para colaborar na busca por respeito às travestis e transexuais. É uma questão onde ainda há muito para evoluir. Precisamos de mais empatia e respeito!". Assista ao vídeo completo abaixo e leia a entrevista.
Elas no Tapete Vermelho - Qual o maior perrengue que você passou por ser mulher trans?
Kayla Oliveira - Vivemos em um mundo repleto de preconceitos, são muitos os perrengues que uma mulher trans precisa enfrentar. Uma vez saí com um menino, para quem eu já havia contado que sou trans, justamente para evitar algo de ruim, mas quando nos encontramos, ele falou que não sabia e foi uma situação bastante desagradável.
Elas no Tapete Vermelho - Nesta Semana da Mulher, o que você realmente gostaria de comemorar? (a matéria foi publicada originalmente em 10 de março de 2022)
Kayla Oliveira - Teria vários motivos para comemorar, mas seria um grande avanço e uma alegria enorme a queda do número de assassinato de mulheres trans. Também precisamos de mais oportunidades e respeito, para todas nós, além do direito de ir e vir, sem nos preocuparmos com o que possa acontecer, já que falamos do país que mais mata mulheres trans no mundo todo.
Elas no Tapete Vermelho - Você acha que a sociedade evoluiu nos últimos anos em relação à aceitação da diversidade?
Kayla Oliveira - Toda vez que damos um passo à frente, parece que logo depois voltamos dois passos atrás. A sociedade não evoluiu o suficiente com nós. Nós é que não estamos nos calando diante do preconceito e estamos indo atrás dos nossos direitos. Quem está evoluindo somos nós.
Elas no Tapete Vermelho - Há sororidade/parceria entre as mulheres trans?
Kayla Oliveira - Não, isso ainda falta muito.
Elas no Tapete Vermelho - Qual o recado que você gostaria de deixar neste Dia da Mulher para a sociedade em geral e também para os jovens?
Kayla Oliveira - Parem de nos matar. Somos todas iguais. Sejam felizes e nos deixem ser também.