Zumbi dos Palmares: saiba mais sobre o maior líder do movimento negro no Brasil
Entenda quem foi Zumbi dos Palmares, sua biografia e como funcionava o Quilombo dos Palmares
Um dos nomes mais conhecidos da luta contra a escravidão no Brasil é Zumbi dos Palmares (1655 - 1695), líder quilombola nascido em 1655 e último líder do chamado Quilombo dos Palmares, que fica na Serra da Barriga, no atual estado de Alagoas.
Na área, que hoje corresponde ao município de União dos Palmares, Zumbi foi a liderança da comunidade livre, composta por pessoas escravizadas que fugiram de fazendas no período escravocrata do Brasil Colonial. Não à toa, o dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado como o Dia da Consciência Negra.
O que Zumbi dos Palmares fez de importante?
Apesar de ter nascido uma criança livre no Quilombo dos Palmares, Zumbi foi capturado e entregue a um padre da igreja católica quando tinha 7 anos de idade. Durante a infância, aprendeu a língua portuguesa e, aos 15 anos, retornou ao quilombo.
Esses territórios eram uma área de resistência ao sistema de escravidão e, também, representavam a manutenção da cultura africana. Por isso, eram constantemente atacados pelos exploradores europeus, como os bandeirantes.
Zumbi foi a principal liderança do Quilombo dos Palmares entre 1678 e 1695. Ele chegou ao poder após a morte do líder anterior, Ganga Zumba, durante uma disputa interna pelo poder desencadeada por um acordo de paz feito com o governador da então capitania de Pernambuco, que foi mal visto pelos quilombolas.
Zumbi dos Palmares manteve a resistência do quilombo durante 17 anos, em uma postura de luta contra as missões patrocinadas por senhores de engenho e governos coloniais, até o seu assassinato. Por sua atuação e liderança, é considerado símbolo da resistência negra contra o regime colonial e escravocrata, sendo um dos maiores nomes do movimento negro da história.
Como Zumbi dos Palmares morreu?
Em uma expedição comandada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho com mais de 6 mil homens em 1694, o Quilombo de Palmares foi atacado. Apesar de ferido, Zumbi conseguiu escapar e viveu escondido na vegetação.
Porém, quase 2 anos depois, Zumbi foi traído por um grupo de aliados que participaram da criação de uma emboscada contra o líder, revelando seu esconderijo. Um de seus companheiros, Antônio Soares, foi capturado e torturado até delatar o líder quilombola, que foi morto por um batalhão colonial em 1695.
Como funcionava o Quilombo dos Palmares?
O termo quilombo significa “povoação” na língua banto, que era comum entre a população negra escravizada trazida ao Brasil. Estima-se que o Quilombo dos Palmares foi fundado no final do século 16, chegando a abrigar 30 mil habitantes ao longo dos seus quase 100 anos de existência. A população ocupava 9 aldeias, também chamadas de mocambos (“esconderijos”, em língua banto).
A vida no quilombo funcionava de maneira similar a uma república, na qual a liderança era ocupada por um representante dos habitantes que ali viviam. Porém, segundo o Museu Afro Brasil, por não haver um mandato com tempo específico para a liderança ocupar o cargo, não é possível definir o território como uma república propriamente dita.
Segundo o instituto, o mais correto é definir que Palmares funcionava a partir da coletividade camponesa, na qual a terra e os bens são comuns a todos os habitantes do local. Dessa maneira, não havia propriedade da terra no Quilombo dos Palmares e, assim, também não havia posses, dinheiro ou classes sociais.
O sistema político do Quilombo dos Palmares funcionava como um tipo de “Estado africano”, no qual existe uma liderança escolhida pela população e um grupo de súditos. O chefe do território, além de eleito, também poderia ser contestado ou mesmo afastado após uma assembleia geral formada por quilombolas.
A produção material e econômica em Palmares era baseada na produção de cerâmicas, produtos de metalurgia como flechas, foices e facões, artefatos como cestos, cordas e cachimbos e, também, a criação de animais e pequenas produções agrícolas de culturas como farinha de mandioca e manteiga.
O excedente das produções era comercializado com moradores de regiões próximas ao quilombo. Além disso, a população podia, por exemplo, cultivar alimentos em pequenas roças voltadas à subsistência ou comercializar esses itens com outros habitantes do quilombo, prática proibida para pessoas escravizadas pelos europeus.
Zumbi dos Palmares tinha escravos?
Historiadores afirmam que o Quilombo dos Palmares mantinha prisioneiros de guerra prestando serviços forçados como punição durante o cativeiro, por um tempo específico, de forma similar a modelos de escravidão existentes na África. Por isso, esses regimes eram diferentes da escravidão executada pelos invasores europeus contra pessoas africanas.
Por que o Quilombo dos Palmares foi destruído?
A vida no Quilombo dos Palmares era diferente daquela do restante do Brasil Colônia, de acordo com o Museu Afro Brasil. As principais mudanças eram:
- No Quilombo dos Palmares, havia variedade de alimentos cultivados pela agricultura local, enquanto no restante do país predominava a monocultura da cana de açúcar;
- Por isso, em Palmares, havia abundância de alimentos, contra a escassez de comida no Brasil Colônia;
- A produção econômica de Palmares era voltada principalmente para o consumo da população do quilombo, enquanto a colônia produzia para o mercado externo;
- A terra em Palmares era considerada um bem comum, enquanto que no Brasil as propriedades eram a base da riqueza da classe alta;
- Por fim, apesar dos privilégios para o grupo de lideranças em Palmares, não havia distinção de classes, enquanto que a sociedade era dividida em classes na colônia.
Esse cenário fazia com que o território de Palmares fosse visto como uma saída para pessoas escravizadas viverem fora do regime autoritário e escravista imposto nas fazendas coloniais. Não à toa, o quilombo abrigava, além de pessoas negras, indígenas e brancos marginalizados em outros territórios.
As fugas de pessoas em direção ao quilombo e a vida em Palmares representavam perdas financeiras para os fazendeiros e colonizadores, que também tinham interesse nas terras em que os quilombolas viviam. Por isso, mais de 30 expedições tentaram destruir o Quilombo dos Palmares durante sua existência, o que só aconteceu no final do século 17.
Atualmente, o município de União dos Palmares abriga o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, localizado a 70 km de Maceió (AL). O local abriga espaços para homenagear a história do povo quilombola e visa estimular o turismo sustentável, a partir da valorização e preservação da cultura e história da comunidade local.
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