02 diz que não haverá transformação por "vias democráticas"
No Twitter, Carlos Bolsonaro sugere que as mudanças que o governo propõe para o Brasil não se concretizam por meio da democracia
O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente da República, usou sua conta oficial no Twitter para dizer que "a transformação que o Brasil quer" não acontecerá na velocidade almejada por meio de "vias democráticas".
Ele sugere, ainda, que as mudanças que o governo propõe para o País não se concretizem por meio da democracia, e reclama da atuação de oponentes políticos, sem citar nomes.
"Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer", escreveu Carlos. "Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes."
Na mesma sequência de mensagens, o vereador escreve que o governo federal vem "desfazendo absurdos" e tenta "recolocar nos eixos" o País. Ele reclama que os "avanços (são) ignorados e os malfeitores esquecidos".
A publicação foi seguida de outra mensagem, em que o filho do presidente diz que está "tranquilo" como o pai e que "o poder jamais me seduziu".
No Palácio do Planalto, dois auxiliares do presidente disseram, sob a condição de anonimato, que o que Carlos fala não se escreve. Um ministro chegou a afirmar que a postagem do vereador "é uma maluquice".
Nos bastidores do governo, no entanto, há preocupação com interpretações que mensagens assim podem passar no momento em que Bolsonaro tenta recuperar popularidade. Mesmo interlocutores do presidente que tentaram amenizar o post de Carlos admitiram que as afirmações têm viés autoritário.
A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) usou o mesmo Twitter para comentar a mensagem do filho do presidente, e questionou as alternativas que o comentário do vereador pode sugerir. "Para Carlos Bolsonaro, vias democráticas não trarão a transformação que o país precisa. O que ele sugere? A tirania?", escreveu. "A democracia é o único caminho a se seguir para termos uma sociedade justa, livre e inclusiva", completou.
Carlos é próximo do escritor Olavo de Carvalho e sempre tentou influir na comunicação do governo. Foram dele as críticas mais ácidas ao general Carlos Alberto dos Santos Cruz, então ministro da Secretaria de Governo, e ao advogado Gustavo Bebianno, que era ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Os dois acabaram caindo.
Amigos do presidente sempre dizem que Carlos nunca publica nada nas redes sem Bolsonaro saber. Um dos filhos mais próximos do presidente, Carlos tem passado os últimos dias ao lado de Jair Bolsonaro no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo. Ele acompanha o dia-a-dia da recuperação do pai, enquanto outros filhos do presidente, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) fizeram visitas durante esta segunda-feira, 9, mas não ficaram no hospital.
Depois da repercussão em torno da mensagem na imprensa, o vereador voltou ao Twitter e questionou: "agora virei ditador?". A postagem foi acompanhada de emoticons com carinhas "chorando de rir".