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1976: Ulrike Meinhof é encontrada morta na prisão

9 mai 2016 - 03h58
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Em 9 de maio de 1976, a terrorista alemã Ulrike Meinhof é encontrada morta na cela de número 719 na prisão de Stuttgart-Stammheim. Ela havia sido condenada como uma das líderes da Fração do Exército Vermelho.

Era Dia das Mães e 31º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial quando Ulrike Meinhof foi encontrada morta na cela 719 da prisão de Stuttgart-Stammheim, na manhã de 9 de maio de 1976. A jornalista que se tornara a inimiga número um do Estado alemão enforcara-se na grade da janela com tiras feitas de uma toalha.

Mãe de duas adolescentes, ela parecia ter optado pelo suicídio nesse dia, com a intenção de chamar a atenção, pela última vez, para sua luta contra a guerra, o fascismo, os velhos nazistas, o sistema político da República Federal da Alemanha, e em defesa dos direitos humanos.

Meinhof não deixou nenhuma carta de despedida a suas filhas ou a seus companheiros de prisão, os militantes da Facção do Exército Vermelho (RAF) Andreas Baader, Gudrun Ensslin, Jan-Carl Raspe e Irmgard Möller.

O fato foi interpretado por uma comissão internacional de inquérito como um indício de que a morte não teria sido suicídio. No enterro, em 16 de maio de 1976 no bairro de Mariendorf (então Berlim Ocidental), o editor Klaus Wagenbach disse que ela "sucumbiu às circunstâncias alemãs".

Vida entre dois mundos

Ulrike Maria Meinhof ganhara fama nacional em 1961, durante um processo contra o então ministro da Defesa, Franz-Josef Strauss. Ela era porta-voz da ala antinuclear do movimento socialista estudantil, filiada ao clandestino Partido Comunista Alemão (KPD), e redatora-chefe da revista Konkret, financiada pelo partido. "Assim como os nossos pais são questionados a respeito de Hitler, um dia nós seremos questionados a respeito de Strauss", escreveu num editorial.

Nazismo, rearmamento, perigo nuclear e pacifismo foram palavras-chave na vida e obra de Meinhof. Órfã desde 1948, casou-se com o editor de Konkret, Klaus Rainer Röhl, em 1962. Em meados da década de 60, ambos viviam entre dois mundos: circulavam na alta sociedade de Hamburgo e, ao mesmo tempo, apoiavam grupos socialmente marginalizados.

De início jornalista burguesa-esquerdista, o caminho de Meinhof para tornar-se cofundadora e ideóloga radical da Facção do Exército Vermelho começou com a morte do estudante Benno Ohnesorg, baleado por um policial durante uma manifestação, em 2 de junho de 1967. E reforçou-se com o atentado contra o líder estudantil Rudi Dutschke, em 11 de abril de 1968.

A chamada Oposição Extraparlamentar (APO) e os grupos de esquerda viam a Alemanha Ocidental a caminho de se tornar um Estado policial. Eles responsabilizavam o governo do chanceler federal Kurt Kiesinger e os jornais do grupo editorial Springer pelos atos de truculência da polícia e da direita.

A partir daí, a professora universitária cristã Ulrike Meinhof mudou radicalmente de opinião a respeito do uso da violência como instrumento da política. A pretexto de escrever um livro sobre jovens marginalizados em coautoria com Andreas Baader (condenado por haver incendiado um estabelecimento comercial), ela organizou a visita do preso ao Instituto de Questões Sociais de Berlim, em 14 de maio de 1970.

Salto para a clandestinidade

Gudrun Ensslin e outros deveriam invadir o instituto e libertar Baader. Ulrike Meinhof se mostraria surpreendida. O plano falhou: um funcionário do instituto foi gravemente ferido; Meinhof e Baader pularam a janela, entrando na clandestinidade. No dia seguinte, ela passaria a ser procurada como criminosa por "tentativa de assassinato – recompensa: 10 mil marcos".

Sob a liderança de Meinhof, Baader e Ensslin, a RAF sacudiu a Alemanha Ocidental com sequestros e atentados a bomba. Para Meinhof, a luta armada terminou no dia 9 de maio de 1976, depois de três anos de prisão, isolamento e greves de fome. O poeta Erich Fried declarou: morreu "a mulher mais importante na história da Alemanha desde Rosa Luxemburgo".

Também Baader, Ensslin e Raspe suicidaram-se na prisão, em 19 de outubro de 1977, depois de fracassados os sequestros do presidente da Confederação Alemã dos Empregadores, Hans-Martin Schleyer, e de um avião da Lufthansa. Os dois sequestros tinham por objetivo libertar os terroristas.

Mais tarde, descobriu-se que a Justiça alemã usara métodos questionáveis para combater o terrorismo. Conversas entre os terroristas e seus advogados foram gravadas secretamente, e os terroristas presos teriam recebido pacotes com cordas, numa sugestão para que se enforcassem. O ex-ministro do Interior da Alemanha, Otto Schily, na época advogado de defesa dos terroristas da RAF, declarou em 1995, que "nunca teria imaginado que algo assim fosse possível na Alemanha".

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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