"A ditadura de Maduro tem que ser cercada diplomaticamente", diz Iván Duque
Em entrevista à DW, presidente da Colômbia afirma que governo venezuelano vive seus últimos dias e "já não tem nenhum respaldo". Quanto ao cenário nacional, ele diz que o ELN não tem interesse em acordo de paz.O presidente da Colômbia, Iván Duque, afirmou em entrevista à DW em Bogotá que a crise na Venezuela deve ser resolvida por meio de pressão diplomática e considerou que o governo de Nicolás Maduro já vive seus últimos dias.
"A ditadura tem que ser cercada diplomaticamente. A ditadura já está vendo seu estertores, já está vendo seu fim porque há uma reação uníssona, importante, do Grupo de Lima", afirmou.
Na entrevista, gravada um dia antes do atentado à Escola de Cadetes da Polícia Nacional na Colômbia, o presidente colombiano declara que o Exército de Libertação Nacional (ELN) - grupo guerrilheiro que assumiu nesta segunda-feira a autoria do ataque - não tem real interesse em chegar a um acordo de paz.
"O ELN insiste em falar de paz, mas continua cometendo atos criminosos", destacou Duque. "Durante 17 meses de negociação, foram mais de 400 atos de terrorismo e mais de 115 pessoas assassinadas. Isso mostra que não há vontade de alcançar a paz."
"Se querem falar de paz, têm que começar pela libertação de todos os sequestrados e têm que pôr fim a todos os atos criminosos porque não vamos aceitar a violência como mecanismo de pressão ao Estado."
DW: Que posição o senhor tem hoje sobre o processo de paz? Durante a campanha, o senhor anunciou que haveria grandes mudanças nesse processo e, como presidente, adotou um tom mais moderado?
Iván Duque: Primeiro: adotamos a mesma linha na campanha e no governo. Temos que construir uma paz com legalidade. E isso implica que estamos apoiando as pessoas que estão genuinamente fazendo um processo de reincorporação para passar da ilegalidade para uma vida de convivência social, em conformidade com a lei. Porém, é claro que seremos drásticos e implacáveis com aqueles que quiserem seguir com atividades criminosas.
A reforma que senhor pleiteia não torpedeia as últimas esperanças de que se possa retomar uma negociação com o ELN?
Ao contrário, temos que aprender as lições do passado. O ELN insiste em falar de paz, mas continua cometendo atos criminosos. Nos meus primeiros 30 dias de governo, fiz uma análise do processo de negociação entre o ELN e o governo de meu antecessor. Durante 17 meses de negociação, foram mais de 400 atos de terrorismo e mais de 115 pessoas assassinadas. Isso mostra que não há vontade de alcançar a paz. O que eu disse ao ELN é: se querem falar de paz, têm que começar pela libertação de todos os sequestrados e têm que pôr fim a todos os atos criminosos, porque não vamos aceitar a violência como mecanismo de pressão sobre o Estado.
Calcula-se que cerca de 1.800 dissidentes e também líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), como Iván Márquez, se distanciaram do processo de paz por considerar que o Estado não cumpre as promessas que fez. Existe um perigo real de que a guerrilha volte a se armar?
Primeiro, o que Iván Márquez disse é uma falácia. Ele não pode se apoiar, para continuar com a violência, no argumento de que o governo não cumpre promessas. Ele é que não as cumpre, que não se apresentou para a Justiça Especial para a Paz, que não assumiu seu cargo no Congresso com medo de ser implicado pelo senhor Marlon Marín [sobrinho de Márquez] em atividades de narcotráfico.
Sobre a Venezuela. O seu governo e os outros governos do Grupo de Lima elevaram as pressões diplomáticas sobre o regime de Nicolás Maduro, mas isso não o impediu de tomar posse. O que mais pensam em fazer?
A ditadura tem que ser cercada diplomaticamente. A ditadura já está vendo seu estertores, já está vendo seu fim porque há uma reação uníssona, importante, do Grupo de Lima, que não apenas reconhece a Assembleia Nacional como único órgão democrático legitimo como também está dizendo à ditadura que vai pedir - e vamos pedir - que se acelerem as investigações no Tribunal Penal Internacional, que se imponham sanções não ao povo venezuelano, mas ao contorno da ditadura, ao ditador e seus sequazes.
E, adicionalmente, há um pronunciamento categórico por parte da OEA [Organização dos Estados Americanos]. Creio que essa reação da América Latina não se via há muito anos e só mostra que queremos continuar fortalecendo a democracia. Espero que a ditadura entenda que já não tem nenhum respaldo, que seu respaldo será cada vez menor e que Venezuela merece recuperar a democracia.
O Grupo de Lima exortou a Assembleia Nacional a assumir o Poder Executivo. O presidente da Assembleia, Juan Guaidó, se declarou presidente. O senhor o reconhece como presidente legítimo da Venezuela?
O que estamos esperando, todos os países do Grupo de Lima, é que esse ato [a possível investidura de Guaidó como presidente] possa ter um revestimento de formalidade, e a reação deve ser de todos, em uníssono. O interessante que está ocorrendo hoje, esse cerco à ditadura, essa defesa da Assembleia Nacional, essa defesa das vozes de cidadãos que são quase heróis permanentes, como Juan Guaidó, é que possam se transformar nessa alternativa para a transição à democracia. [...] A Venezuela merece hoje mais do que nunca ter essa voz tranquila para que a ditadura chegue ao fim e que as forças militares não reprimam a expressão popular".
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