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A população global está em declínio; isso é bom para o ambiente?

Durante décadas, parecia que nada poderia mudar a trajetória do crescimento populacional. Mas uma grande mudança está se aproximando.

2 out 2024 - 11h43
(atualizado às 13h26)
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A natureza se instalou quando as pessoas deixaram a vila de pescadores de Houtouwan, em Zhejiang, Chinac Joe Nafis/Shutterstock
A natureza se instalou quando as pessoas deixaram a vila de pescadores de Houtouwan, em Zhejiang, Chinac Joe Nafis/Shutterstock
Foto: The Conversation

Neste momento, o crescimento da população humana se movimenta de um jeito que há muito tempo era considerado impossível: vacilante. Agora, a previsão é que atinja o pico muito antes do esperado, chegando a 10 bilhões na década de 2060. Em seguida, ela começaria a cair.

Nos países mais ricos, isso já está acontecendo. No Japão, a diminuição é drástica: perda de 100 pessoas a cada hora. Na Europa, América e Leste Asiático, as taxas de fertilidade despencaram. Muitos países de renda média ou baixa também estão prestes a cair.

Essa é uma mudança extraordinária. Há apenas dez anos, os demógrafos previam que o número de habitantes global poderia chegar a 12,3 bilhões, em comparação com os cerca de 8 bilhões atuais.

Durante 50 anos, alguns ambientalistas tentaram salvar o ambiente reduzindo o crescimento da população global. Em 1968, o livro The Population Bomb (A Bomba Populacional) previu a fome em massa e pediu o controle de natalidade em larga escala.

Agora enfrentamos uma realidade muito diferente: o crescimento populacional está desacelerando sem controle populacional, o número de pessoas dos países ricos está diminuindo, o que desencadeia esforços frenéticos, mas amplamente ineficazes, para incentivar mais filhos. O que uma população global em queda pode significar para o ambiente?

O despovoamento já está acontecendo

Em grande parte da Europa, da América do Norte e em parcela do norte da Ásia, o despovoamento existe há décadas. As taxas de fertilidade vêm em queda contínua nos últimos 70 anos e permaneceram baixas, enquanto as expectativas de vida mais longas apontam que o número de pessoas muito idosas (acima de 80 anos) dobrará nessas regiões em 25 anos.

Até recentemente, a China era a nação mais populosa do mundo, respondendo por um sexto do número global. Mas, a China também está em declínio e, espera-se, essa queda deve acelerar-se rapidamente.

Até o final do século, a projeção é de que a China tenha dois terços a menos de pessoas do que os 1,4 bilhão atuais. A diminuição repentina se deve à longa duração da Política do Filho Único, que terminou em 2016, tarde demais para evitar a queda. O Japão já foi o 11º país mais populoso do mundo, mas deverá ser reduzido pela metade antes do final do século.

Muitas pessoas atravessando as ruas no Cruzamento Shibuya, em Tóquio
Muitas pessoas atravessando as ruas no Cruzamento Shibuya, em Tóquio
Foto: The Conversation

Por enquanto, o cruzamento de Shibuya, em Tóquio, é um dos mais movimentados do mundo. Mas o despovoamento está começando a atingir fortemente o Japão. Takashi Images/Shutterstock

O que está acontecendo é conhecido como transição demográfica. À medida que os países deixam de ser predominantemente rurais e agrários para se tornarem economias industriais e baseadas em serviços, a fertilidade cai drasticamente. Quando as baixas taxas de natalidade e as baixas taxas de mortalidade se combinam, as populações começam a cair.

Por quê? Um fator importante é a escolha das mulheres. As mulheres estão tendo filhos cada vez mais tarde na vida e, em média, com menos filhos, devido a melhores opções e liberdades em relação à educação e à carreira.

Por que de repente estamos focados no despovoamento, já que as taxas de natalidade nos países ricos vêm caindo há décadas? Quando a pandemia da COVID chegou em 2020, as taxas de natalidade entraram em queda livre na maioria dos países antes de se recuperarem um pouco, enquanto as taxas de mortalidade aumentaram. Essa combinação antecipou o início do declínio populacional de forma mais ampla.

Uma população em queda representa desafios reais do ponto de vista econômico. Há menos trabalhadores disponíveis e mais pessoas muito idosas precisando de apoio.

Os países em rápido declínio podem começar a limitar a emigração para garantir que mantenham os trabalhadores escassos em seus países e evitar mais envelhecimento e declínio. A concorrência por trabalhadores qualificados se intensificará globalmente. Obviamente, a migração não altera o número de pessoas, apenas a localização delas.

Esses problemas são apenas dos países ricos? Não. O crescimento populacional no Brasil, um grande país de renda média, é agora o mais lento já registrado.

Até 2100, espera-se que o mundo tenha apenas seis países onde os nascimentos superam as mortes - Samoa, Somália, Tonga, Níger, Chade e Tajiquistão. Prevê-se que os outros 97% das nações tenham taxas de fertilidade abaixo dos níveis de reposição (2,1 filhos por mulher).

Ruim para a economia - bom para o ambiente?

Menos pessoas significa um alívio para a natureza, certo? Não. Não é tão simples assim.

Por exemplo, a quantidade per capita de energia que usamos atinge um pico entre os 35 e 55 anos, cai e volta a subir a partir dos 70 anos, pois é mais provável que os idosos fiquem mais tempo em casa e morem sozinhos em casas maiores. O extraordinário crescimento da população idosa neste século poderia compensar os declínios decorrentes da queda da população.

Além disso, há a enorme disparidade no uso de recursos. Se você mora nos Estados Unidos ou na Austrália, sua pegada de carbono é quase o dobro quase o dobro da pegada de carbono de uma pessoa que mora na China, o maior emissor global.

Os países mais ricos consomem mais. Portanto, à medida que mais países se tornam mais ricos e saudáveis, mas com menos filhos, é provável que mais pessoas da população global se tornem grandes emissores. A menos, é claro, que dissociemos o crescimento econômico de mais emissões e outros custos ambientais, como muitos países estão tentando fazer - mas muito lentamente.

Espera-se ver políticas de migração mais liberais para aumentar o número de pessoas em idade ativa. Já estamos vendo isso - a migração já ultrapassou as projeções para 2050.

Quando as pessoas migram para um país desenvolvido, isso pode ser economicamente vantajoso para elas e para o país adotado. Do ponto de vista ambiental, isso pode aumentar as emissões per capita e o impacto ambiental, já que a relação entre renda e emissões é muito clara.

Fila num aeroporto
Fila num aeroporto
Foto: The Conversation

Com a redução da população, os países competirão por migrantes qualificados. PeopleImages.com - Yuri A/Shutterstock

Além disso, há a agitação iminente da mudança climática. À medida que o mundo esquenta, a migração forçada - em que as pessoas têm que sair de casa para escapar de secas, guerras ou outros desastres influenciados pelo clima - deverá aumentar para 216 milhões de pessoas em um quarto de século. A migração forçada pode alterar os padrões de emissões, dependendo de onde as pessoas encontram refúgio.

Além desses fatores, é possível que uma população global em queda possa reduzir o consumo geral e diminuir a pressão sobre o ambiente natural.

Os ambientalistas preocupados com a superpopulação há muito tempo esperam que a população global diminua. Em breve, eles poderão realizar seu desejo. Não por meio de políticas de controle de natalidade impostas, mas, em grande parte, por meio das escolhas de mulheres instruídas e mais ricas que optam por famílias menores.

É uma questão em aberto se a diminuição da população reduzirá a pressão sobre o mundo natural. A menos que também reduzamos as emissões e mudemos os padrões de consumo nos países desenvolvidos, isso não é de forma alguma garantido.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Os autores não prestam consultoria, trabalham, possuem ações ou recebem financiamento de qualquer empresa ou organização que se beneficiaria deste artigo e não revelaram qualquer vínculo relevante além de seus cargos acadêmicos.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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