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Alemanha entrega à Namíbia ossadas da era colonial

29 ago 2018 - 11h33
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Cerimônia em Berlim marca devolução de restos de vítimas de genocídio ocorrido na época em que país era dominado pelo Império Alemão. Ossos foram levados à Alemanha no início do século 20 para pesquisas de cunho racial.A Alemanha devolveu nesta quarta-feira (29/08) à Namíbia ossadas de vítimas do genocídio dos povos herero e nama que estavam guardadas há décadas, entre outros lugares, nos arquivos da Clínica Universitária Charité, em Berlim.

Crânios humanos são expostos em Berlim durante cerimônia pelas vítimas do massacre dos povos herero e nama
Crânios humanos são expostos em Berlim durante cerimônia pelas vítimas do massacre dos povos herero e nama
Foto: DW / Deutsche Welle

A devolução dos ossos humanos foi realizada após um culto pela memória das vítimas na igreja Friedrichstadtkirche, em Berlim. Os restos humanos - em maior parte, crânios - haviam sido transportados para a Alemanha no início do século 20, quando o território da atual Namíbia esteve sob domínio colonial alemão.

Foram entregues 19 crânios, assim como outros ossos e restos de pele a uma delegação do governo da Namíbia. As ossadas devem ser recebidas na sexta-feira em uma cerimônia do governo na capital do país africano, Windhuk.

"Estes crânios nos contam uma história de um passado colonial brutal e sem Deus e de sua subsequente supressão do povo da Namíbia. Eles dizem: 'Nunca mais!'", afirmou o chefe da delegação do Conselho da Igreja da Namíbia, Ernst Gamxamub, em seu sermão.

Em 2011 e 2014, a Alemanha já devolvera ossadas humanas à Namíbia. Esta, entretanto, foi a primeira vez que a entrega foi acompanhada de uma cerimônia oficial, com participação dos governos alemão e namíbio.

O Império Alemão ocupou o território da atual Namíbia de 1884 a 1915. No então protetorado Sudoeste Africano Alemão, as tropas dos colonizadores alemães esmagaram brutalmente insurreições dos grupos étnicos dos herero e nama, matando cerca de 65 mil hereros e ao menos 10 mil namas, naquilo que os historiadores consideram o primeiro genocídio do século 20.

Os restos mortais das vítimas foram levados para a Alemanha para "pesquisa racial". Eles estiveram guardados no acervo de clínicas, museus e em propriedades privadas.

Desde 2015, o governo alemão classifica oficialmente os crimes na atual Namíbia como genocídio. Negociações sobre possíveis reparações foram iniciadas também em 2015, mas estão travadas.

Representantes de hereros e namas que não reconhecem essas conversas entraram, em janeiro deste ano, com recurso em um tribunal de Nova York para reivindicar indenizações por danos.

Berlim se recusa a pagar reparações financeiras, destacando ter destinado várias centenas de milhões de euros para o desenvolvimento da Namíbia, desde a sua independência da África do Sul, em 1990.

Atualmente, os hereros representam 7% da população da Namíbia, número distante dos 40% do início do século 20.

MD/dpa/lusa/afp

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