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Americano do Projeto Veritas, que atua para desacreditar a mídia, encontra bolsonaristas no Brasil

Ryan Hartwig já participou de ato político no 7 de Setembro e deu entrevistas em portunhol a blogueiros e youtubers de direita

10 set 2020 - 19h07
(atualizado em 11/9/2020 às 20h39)
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BRASÍLIA - Com adesivo de apoio à reeleição de Donald Trump e Jair Bolsonaro no peito, o militante norte-americano de direita Ryan Hartwig fez um road show no Brasil. Participou de ato político no 7 de Setembro e deu até entrevistas em portunhol a blogueiros e youtubers de direita, como o canal governista Terça Livre. Apresentado como "delator" de uma suposta "censura política" à direita em organizações de mídia, Hartwig desembarcou no País na semana passada para uma série de encontros com grupos conservadores, em São Paulo e Brasília.

O ativista ganhou notoriedade no círculo conservador por meio do projeto Veritas, iniciativa da extrema direita americana que busca desacreditar jornalistas, empresas de comunicação e gigantes da área de tecnologia. A organização tem como método principal, segundo Jane Kirtley, professora de ética e lei de mídia da Universidade de Minnesota, criar situações para filmar e depois editar de forma seletiva conversas informais de jornalistas e executivos sobre política e suas firmas.

Ryan Hartwig em Brasília no 7 de Setembro
Ryan Hartwig em Brasília no 7 de Setembro
Foto: Twitter/Reprodução / Estadão

No seu site oficial, o Veritas já divulgou conversas privadas de funcionários e documentos internos do Facebook, Google e Pinterest, além das TVs CNN e ABC News, na tentativa de demonstrar um suposto viés ideológico no trabalho dessas empresas. As conversas foram gravadas sem autorização e expostas no site do Veritas, por meio de entrevistas com ex-funcionários dessas companhias, tratados como "infiltrados".

Em 2017, o jornal Washington Post revelou que uma pessoa tentou repassar à publicação uma notícia falsa envolvendo um candidato a senador nos Estados Unidos. O Post investigou a suposta "fonte" e descobriu que ela frequentava o escritório do Projeto Veritas. Na época, o Veritas nada comentou.

Em carta ao Estadão, enviada após a publicação da reportagem no portal estadão.com.br, o Projeto Veritas informou que não edita seus vídeos seletivamente nem favorece nenhuma ideologia em particular. Procurado por e-mail antes da publicação, Hartwig não se manifestou.

Tour. A agenda das visitas de Hartwig ao Brasil não foi pública, mas ele e seus admiradores divulgaram parte dela.

Em Brasília, o militante almoçou e se reuniu na terça-feira passada com a deputada Bia Kicis (PSL-DF), alvo do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal (STF). Depois, participou da transmissão ao vivo do Terça Livre. O canal é liderado pelo blogueiro Allan dos Santos, também investigado no processo que apura a existência de uma rede para divulgar mensagens de ódio e notícias falsas.

"Estamos conversando sobre as mentiras, as fake news produzidas pela esquerda, e que têm completo amparo de redes como o Facebook. E aquelas verdades que a gente fala são tratadas como fake news", afirmou Bia Kicis em um vídeo postado no Instagram, após almoçar com Hartwig. "Ele tem as gravações de pessoas, funcionários, empregados do Facebook confessando que perseguem mesmo conservadores, que a ordem é retirar posts de conservadores e deixar os progressistas."

Numa rede social, um perfil anônimo celebrou a visita do militante ao Brasil em tom de brincadeira. "Agora a CIA (agência de inteligência dos EUA) chegou, porra! Ninguém nos detém", diz o post. Hartwig respondeu: "Não, não sou da CIA. Só um norte-americano preocupado tentando ajudar o Brasil a manter a liberdade de expressão".

No Twitter, Hartwig classificou a mídia no Brasil como "tão desonesta quanto a dos Estados Unidos". E provocou: "Voltarei ao Brasil para depor no Congresso Nacional sobre censura", numa menção a CPI das Fake News, que investiga uma rede formada por apoiadores do presidente Bolsonaro que tem como objetivo difamar os opositores do governo.

De Phoenix, no Arizona, Hartwig se define como conservador e simpatizante do Partido Republicano. Ao todo, o norte-americano disse ter feito 17 reuniões em sete dias - sendo 13 entrevistas a blogueiros e sites aliados do governo Jair Bolsonaro. "Não vim ao Brasil de férias, de forma alguma", disse.

Hartwig afirma ter trabalhado por dois anos, de 2018 a 2020, para o Facebook. Era moderador de conteúdo contratado como terceirizado. Depois, divulgou gravações que alega ter feito, com câmera oculta. Para o ativista, o Facebook é leniente com ataques a Trump e Bolsonaro.

"A orientação do Facebook é promover pontos de vista esquerdistas e apagar direitistas", afirmou ele ao Terça Livre. A empresa nega as acusações. "Nossas políticas de conteúdo se aplicam igualmente a todos, e não censuramos ou promovemos quaisquer correntes políticas", informou o Facebook ao Estadão.

No Brasil, ele ainda incentivou campanha virtual contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, um adversário de Bolsonaro, questionou o perfil Sleeping Giants, que tenta expor financiadores de sites com conteúdo falso, e compartilhou o vídeo usado pelo vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro Ricardo Salles para contestar incêndios na Amazônia, mas com imagens de animais da Mata Atlântica.

Para cobrir as despesas do tour conservador com passagens e hospedagem, o advogado Emerson Grigollette, de Presidente Prudente (SP), que faz as vezes de cicerone de Hartwig, promoveu uma "vaquinha virtual" e arrecadou R$ 11,9 mil de um total de R$ 16 mil pretendidos. O militante disse que pagou do próprio bolso uma grande parte da viagem, passando as despesas no cartão de crédito pessoal.

Estadão
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