Amorim chama de genocídio ataques a civis em Gaza e pede conferência internacional pela paz
O assessor especial da Presidência, Celso Amorim, classificou de "genocídio" os ataques de Israel à população civil na Faixa de Gaza e pediu a realização de uma conferência internacional para discutir uma solução para a região.
O discurso duro foi feito durante um encontro convocado pelo governo francês para discutir a situação humanitária na região, em que Amorim representou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Eu reitero a condenação do Brasil dos ataques terroristas contra os israelenses e a tomada de reféns. No entanto, atos bárbaros como esses não justificam o uso indiscriminado da força contra civis", disse Amorim. "A morte de milhares de crianças é chocante. A palavra genocídio inevitavelmente vem à mente."
De acordo com dados do governo de Gaza, controlado pelo Hamas, o número de mortos no enclave, que tem uma população de cerca de 2 milhões de pessoas, já passa de 10 mil. Cerca de 40% seriam crianças.
Amorim começou seu discurso lembrando uma fala de Lula, em que o presidente afirmou que "os inocentes são os que pagam o preço pela loucura da guerra", em especial mulheres e crianças, e voltou a cobrar a permissão de saída de brasileiros de Gaza.
"Enquanto eu discurso, estamos ainda ansiosos sobre a saída de brasileiros de Gaza", afirmou.
"Um cessar-fogo humanitário é essencial. Passagens seguras e desimpedidas para a entrada de ajuda humanitária em benefício de hospitais, escolas e creches precisam ser respeitadas. A passagem de feridos deve ser garantida. É altamente perturbador que quase 100 funcionários das Nações Unidas tenham perdido suas vidas em Gaza", seguiu.
Cerca de 30 brasileiros e suas famílias estão há três semanas próximos da fronteira com o Egito aguardando permissão de saída. Desde a semana passada, Israel divulgou a autorização para que 2.240 pessoas deixassem a Faixa de Gaza. A expectativa do governo era de que os brasileiros pudessem sair na quarta-feira, mas a lista divulgada, de 601, não inclui nenhum deles.
De acordo com uma fonte, há nova promessa de saída para esta quinta, mas o atraso está criando rusgas na relação entre os governos brasileiro e israelense.
O Itamaraty fez chegar a Israel que, se algo acontecer a algum dos brasileiros que estão em Gaza, a relação diplomática entre os dois países ficará insustentável, e fontes ouvidas pela Reuters confirmam que o país aumentou a pressão sobre o governo de Benjamin Netanyahu.
Há já um estranhamento na relação com a demora em liberar os brasileiros em Gaza. O Itamaraty considera que o Brasil tem mantido uma relação equilibrada, e cita como exemplo o fato de ter conseguido apoio de 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança para a proposta de resolução - não aprovada apenas pelo veto dos Estados Unidos.
No entanto, posturas dos diplomatas israelenses no país têm incomodado o governo. Na semana passada, o cônsul de Israel em São Paulo, Rafael Erdreich, afirmou que o presidente Lula estava "mal informado" sobre o que acontecia na Faixa de Gaza. Além disso, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, reuniu-se na quarta-feira no Congresso com o ex-presidente Jair Bolsonaro, o que foi mal visto no Palácio do Planalto.
Amorim ainda pediu por uma conferência nos moldes do encontro de Anápolis, em 2007, em que 50 países se reuniram para iniciar um processo de paz na região. O embaixador avaliou que a crise atual é o mais perigoso desafio para a paz mundial e tem alto risco de se transformar em um conflito global, e classificou de "indispensável" uma conferência com um grande número de países para discutir uma solução para a região.
"Essa não é só uma guerra entre Hamas e Israel. Isso é parte de um conflito maior, de 75 anos, que tem como raiz a falta de um território seguro para os palestinos", disse Amorim. "O reconhecimento de um Estado Palestino viável, convivendo lado a lado com fronteiras mutualmente acordadas com Israel, é a única solução possível."