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Análise: Bolsonaro mostra pouco apreço pelo Congresso

Perdemos a habilidade de negociação política, que é essencial do processo civilizatório

18 abr 2020 - 05h11
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Por essência, o Poder Legislativo é a casa do povo. Por isso, governos e parlamentares negociam sempre na perspectiva de achar um ponto de convergência, e essa é a razão de os governos valorizarem a relação com o Legislativo e sempre escolherem seus melhores quadro da base de apoio político para negociarem seus interesses.

Entretanto, desde que assumiu a presidência, Jair Bolsonaro não mostrou muito apreço pelas relações políticas com o Congresso. À revelia da tradição do presidencialismo de coalizão, optou por formar uma base com grupos de interesse colocando como protagonistas pessoas com pouca experiência política e, muitas delas, com baixa interlocução junto a lideranças no Congresso.

Não se pode culpar o Congresso pela falta de governabilidade, já que os poucos projetos aprovados nesta gestão, como a reforma da Previdência, se devem à atuação pessoal de Rodrigo Maia e outros líderes que assumiram a lacuna deixada pelo governo.

A briga mais recente vociferada pelo presidente contra Maia é mais uma etapa deste processo. Poucos instantes depois de tirar da frente o "inimigo imaginário" Mandetta, Bolsonaro já volta a mobilizar a sua artilharia contra o presidente do Câmara. Neste processo, perdemos todos. Descartou-se um ministro da Saúde em meio a uma pandemia. Perdemos a habilidade de negociação política, que é essencial do processo civilizatório. Perdemos a capacidade de construir consensos e diminuir desavenças, que são elementos fundamentais de uma democracia. Perdemos enquanto país. Perdemos enquanto sociedade.

* PROFESSORES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DA FGV-SP

Estadão
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