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Análise: Encontro entre Bolsonaro e Binden foi diálogo de surdos

A reaproximação dos EUA buscada pelo presidente brasileiro não deverá prosperar sem avanços concretos na agenda amazônica e na atenuação da retórica sobre ameaças à democracia e às eleições

9 jun 2022 - 22h21
(atualizado em 10/6/2022 às 12h44)
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Em encontro com Bolsonaro, Biden defende democracia e Amazônia
Em encontro com Bolsonaro, Biden defende democracia e Amazônia
Foto: Reuters

Os presidentes Bolsonaro e Biden alcançaram seus objetivos ao se reunirem pela primeira vez desde o início do governo de Washington em janeiro de 2021. Biden evitou um maior esvaziamento político da Cúpula das Américas pela não participação do México e do Brasil, os dois maiores países hemisférios, depois dos EUA. Bolsonaro obteve uma foto ao lado do presidente norte-americano para mostrar na campanha eleitoral que não está isolado e que também pode discutir temas globais e de interesse brasileiro com líderes como Biden e Putin.

Em encontro formal, os presidentes, como seria de esperar, trataram, de forma superficial, cada um expondo suas próprias percepções, questões de interesse de seus respectivos governos, como meio ambiente e a preservação da Amazônia, sobre o fortalecimento da democracia e comércio exterior (expansão das trocas bilaterais, cadeias de valor, suspensão das restrições ao aço e necessidade de fertilizantes, segurança alimentar, do lado brasileiro).

Embora reconhecendo que, em alguns momentos, Brasil e EUA estiveram afastados por questões ideológicas, Bolsonaro afirmou que os dois países têm tudo para ampliar suas relações e integrar-se cada vez mais para serem exemplos para o mundo. No tocante às eleições, o presidente comentou que quer eleições limpas, confiáveis e auditáveis para que não restem dúvidas e sejam resolvidas democraticamente. Quanto à Amazônia, reiterou que, por vezes, sente a soberania ameaçada, mas que defende bem o território e a riqueza da região. Bolsonaro ainda mencionou esperar um fim rápido para a guerra e que o mundo retorne à normalidade.

Sem confrontar o presidente brasileiro e evitando constrangimentos, Biden mencionou a democracia vibrante e inclusiva e as instituições fortes brasileiras e elogiou o bom trabalho do Brasil para defender a Amazônia.

Confirmou-se a percepção de que pouco se poderia esperar do encontro em termos de resultados concretos, em vista das posições tão diferentes e de resistências políticas recíprocas. Felizmente, a reunião transcorreu em clima ameno, sem cobranças sobre as eleições, democracia e meio ambiente de parte de Biden. A reaproximação dos EUA, em nível presidencial, buscada por Bolsonaro, contudo, não deverá prosperar sem avanços concretos na agenda amazônica e na atenuação da retórica presidencial sobre ameaças à democracia e às eleições.

Bolsonaro ficou menos de 48 horas em Los Angeles, foi o último a chegar e o primeiro a sair. Não participou da abertura da Cúpula e por isso não esteve presente no discurso de Biden, mas sua presença na cidade não passou despercebida, sendo marcada por forte reação pública com críticas à política na Amazônia e cobrança sobre o desaparecimento do jornalista britânico e do indigenista brasileiro.

*É PRESIDENTE DO IRICE E EX-EMBAIXADOR DO BRASIL EM WASHINGTON E LONDRES

Estadão
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