'Aranhas de Marte' são recriadas em laboratório por cientistas
O que torna estas "aranhas" intrigantes é o processo de formação, que envolve gelo de dióxido de carbono
A superfície de Marte é um lugar fascinante e misterioso, repleto de formações geológicas únicas. Uma dessas formações, conhecida como "terreno araneiforme", chamou a atenção dos cientistas por suas características peculiares. Essas formações podem se estender por mais de um quilômetro, com múltiplas "pernas" finas que dão à superfície uma aparência enrugada e estranha.
O que torna estas "aranhas" ainda mais intrigantes é o processo de formação, que envolve gelo de dióxido de carbono, um fenômeno que não ocorre naturalmente aqui na Terra. Recentemente, cientistas conseguiram recriar, em laboratório, esses processos sob temperaturas e pressões que simulam as condições marcianas, proporcionando novas compreensões sobre este fenômeno extraterrestre.
Como se formam as Aranhas de Marte?
A teoria predominante para a formação das aranhas de Marte é explicada pelo "modelo de Kieffer". Segundo este modelo, o fenômeno tem início no inverno marciano, quando o gelo de dióxido de carbono se acumula na superfície do planeta. Durante esse período, a luz solar aquecida penetra através das transparentes placas de gelo, aquecendo o solo marciano abaixo.
Este solo, sendo mais escuro do que o gelo, absorve calor, causando a sublimação do gelo, ou seja, o gelo se transforma diretamente em gás sem passar pelo estado líquido. Esse gás pressurizado se infiltra pelas fraturas no gelo, levando consigo poeira e areia que acabam formando as marcas "araneiformes" quando o gelo sublima completamente na primavera.
O que acontece durante a primavera em Marte?
Na transição do inverno para a primavera em Marte, o gelo de dióxido de carbono começa a sublimar devido ao aumento da temperatura. Isso provoca uma série de pequenas erupções de gás e material particulado, criando as características formações que vemos na superfície do planeta.
Simular as condições de Marte é um desafio e tanto. A pressão atmosférica em Marte é extremamente baixa e as temperaturas podem chegar até -185°C. No Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, Lauren Mc Keown e sua equipe utilizaram uma câmara específica chamada "DUSTIE" para replicar essas condições extremas.
A câmara de teste DUSTIE foi resfriada com nitrogênio líquido para alcançar as temperaturas necessárias. Além disso, a pressão foi reduzida para imitar as condições da superfície marciana. Uma vez recriado esse ambiente, os pesquisadores puderam realizar os experimentos e observar as formações das aranhas em tempo real.
Qual foi o impacto dos resultados dos experimentos?
Os resultados dos experimentos foram surpreendentes e revelaram detalhes não previstos pelo modelo de Kieffer. Por exemplo, observaram a formação de gelo entre os grãos do simulador de solo e como ele também influenciava a quebra do gelo. Esse comportamento alternativo pode explicar por que algumas aranhas têm uma aparência mais rachada.
Lauren Mc Keown, que buscava reproduzir essas condições há cinco anos, descreveu a emoção de finalmente testemunhar uma coluna de gás dióxido de carbono emergindo de modo semelhante ao observado em Marte. Este progresso ajuda a ajustar nossos modelos teóricos e aprimorar nossa compreensão sobre os processos geológicos marcianos.