Aras se irrita com ação da PF e teme implosão de esforço contra golpismo, diz jornal
A Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão em endereços envolvendo oito empresários que defenderam um golpe de Estado
O procurador-geral da República, Augusto Aras, demonstrou ter ficado irritado com a operação contra empresários bolsonaristas, segundo divulgado pela Folha de São Paulo. A operação foi deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 23, e autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Segundo a Folha, relatos apontam que Aras acredita que o gesto de Moraes, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pode implodir os esforços do Executivo e do Judiciário, que tentam conseguir um acordo harmônico para que o presidente Jair Bolsonaro (PL) pare de fazer declarações golpistas e também contra as cortes.
Ainda de acordo com o veículo, aliados do presidente tentam conseguir um acordo com Moraes, em que o ministro atenderia a um dos pedidos das Forças Armadas relacionadas às urnas e, em contrapartida, Bolsonaro pararia de fazer declarações questionando o processo eleitoral.
Conforme a Folha de S. Paulo, Aras afirmou em determinadas conversas ter ficado indignado pelo fato da Procuradoria Geral da República (PGR) ter sido intimada para acompanhar as ações contra os empresários bolsonaristas apenas na véspera da operação, tendo, desta forma, pouca margem para opinar sobre as diligências.
A operação
A Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão em endereços envolvendo oito empresários que defenderam um golpe de Estado em um grupo de WhatsApp. A determinação partiu do ministro Alexandre de Moraes, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os empresários Afrânio Barreira Filho (Coco Bambu), Ivan Wrobel (W3 Engenharia), José Isaac Peres (Multiplan), José Koury (shopping Barra World), Luciano Hang (lojas Havan), Luiz André Tissot (Sierra Móveis), Marco Aurélio Raymundo (Mormaii) e Meyer Joseph Nigri (Tecnisa) são alvos da ação.
A PF cumpre os mandados em endereços em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará.
Segundo informações da jornalista Camila Bomfim, da GloboNews, Alexandre de Moraes também determinou o bloqueio das contas bancárias e dos perfis em redes sociais dos empresários, e também pediu quebra de sigilo bancário e tomada de depoimentos.
Mensagens a favor do golpe
A coluna de Guilherme Amado, do Metrópoles, teve acesso ao conteúdo do grupo que mostra trocas de mensagens como a do dia 31 de julho. Na ocasião, o empresário José Koury defendeu explicitamente uma ruptura na democracia do País. "Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, afirmou, deixando implícito que não se importaria que o Brasil virasse uma ditadura novamente.
A mensagem recebeu apoio de parte dos integrantes do grupo, como o de Morongo, como é conhecido o dono da rede de lojas de surfe Mormaii. “Golpe foi soltar o presidiário! Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar m...”.
Morongo também citou os atos marcados para o 7 de Setembro. "Está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”, escreveu.
Ainda no mesmo dia, André Tissot, do Grupo Sierra, endossou a opinião sobre o golpe e disse que a ruptura já deveria ter ocorrido antes: “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. [Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”.
Pedido de investigação
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse ter acionado o Supremo Tribunal Federal (STF) para quebrar o sigilo de um grupo de WhatsApp com empresários bolsonaristas que teriam defendido, na troca de mensagens, um golpe de estado para manter o presidente Jair Bolsonaro no Planalto. O parlamentar defende que os autores das mensagens sejam presos "se necessário".
"A democracia não pode tolerar a convivência com quem quer sabotá-la", argumentou.