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Áreas verdes urbanas contribuem para a prática de atividade física e melhor saúde cardiometabólica

Num mundo cada vez mais urbanizado, morar em locais com parques, praças ou jardins pode ser um fator importante para reduzir o risco de desenvolvimento de problemas de saúde como diabetes e doenças cardiovasculares

12 nov 2024 - 11h06
(atualizado às 18h11)
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Pessoas que residem em locais com a maior quantidade de áreas verdes têm menor chance de apresentar obesidade geral, obesidade abdominal e níveis baixos de HDL-colesterol (o colesterol bom). Além disso, têm maior chance de manter a prática de atividade física em intensidade moderada ou vigorosa.

É o que mostraram dois estudos que realizamos recentemente, explorando a associação entre a quantidade de áreas verdes na vizinhança e a prática de atividade física e fatores de risco cardiometabólico, que são um conjunto de condições que aumentam a probabilidade de desenvolvimento das doenças cardiometabólicas, diabetes e doenças cardiovasculares.

A obesidade (geral e abdominal) e os níveis baixos de HDL-colesterol são fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes e doenças cardiovasculares. Já a prática de atividade física é considerada um comportamento que reduz o risco de desenvolvimento delas. Nossos estudos, portanto, indicam que as áreas verdes urbanas têm um possível efeito protetor sobre a saúde cardiometabólica de pessoas adultas.

Saúde urbana: riscos e benefícios de se morar em cidades

O mundo está se tornando cada vez mais urbanizado. De acordo com a Organização das Nações Unidas, 55% da população mundial já vivia em cidades em 2018. Em 2050, espera-se que esse número aumente para 68%. Quando olhamos para a América Latina e Caribe, esses valores são ainda mais altos: em 2018, 81% da população dessa região já residia em áreas urbanas e esta proporção irá crescer para 90% em 2050.

Esses dados impõem desafios para os setores de planejamento urbano e saúde, pois o ambiente urbano pode oferecer tanto riscos quanto benefícios à saúde das pessoas.

Por um lado, violência, poluição ambiental, degradação das áreas residenciais e as desigualdades na distribuição de recursos sociais e econômicos no espaço urbano são alguns fatores associados a piores indicadores de saúde. Por outro, o ambiente urbano pode oferecer o acesso a recursos e estruturas que contribuem para a saúde das coletividades, como as áreas verdes, espaços públicos para atividade física, centros de saúde e locais de venda de frutas, legumes e verduras de qualidade e com preços acessíveis.

As áreas verdes urbanas têm sido frequente objeto de estudo de pesquisadores da área de saúde urbana, que é um campo de estudo dedicado a investigar como as características físicas e sociais das cidades podem afetar a saúde e o bem-estar de populações urbanas.

As áreas verdes podem ser definidas como locais públicos com presença de vegetação, como parques, praças, florestas urbanas, zoológicos, jardins e ruas ou canteiros arborizados. As evidências científicas indicam que pessoas que residem em locais com maior quantidade de áreas verdes têm melhor saúde física e mental.

Por que as áreas verdes beneficiam a saúde?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, há algumas explicações para os benefícios das áreas verdes urbanas na saúde das pessoas:

1. A vegetação urbana, especialmente as árvores, contribui para a redução de poluição atmosférica. Árvores promovem a deposição de material particulado na superfície das folhas e absorvem poluentes gasosos pelos estômatos, além de atuar como barreiras ao reduzir a dispersão de poluentes pelo vento. Há menor quantidade de poluição atmosférica no entorno de áreas verdes de grande extensão, como parques, jardins botânicos e florestas urbanas, devido a menor circulação de carros nesses locais.

2. As áreas verdes também podem amenizar a poluição sonora. Árvores podem atuar como uma barreira física ao ruído, principalmente o gerado pelo transporte rodoviário, através dos fenômenos de difração e absorção das ondas sonoras. Além disso, no interior de áreas urbanas de grande extensão há uma tendência à menor ruído devido à ausência de meios de transporte nesses locais.

3. Áreas verdes diminuem a temperatura local pelo processo de evapotranspiração, que consome a energia solar para o resfriamento das folhas. O sombreamento também é outro fenômeno que explica a diminuição da temperatura ao bloquear a radiação solar e impedi-la de chegar à superfície. Dessa forma, áreas verdes urbanas são responsáveis por promover maior sensação de conforto térmico entre aqueles que residem ou frequentam esses locais.

4. Áreas verdes urbanas proporcionam uma ambiência favorável à prática de atividade física ao ar livre, sendo efetivamente utilizadas se também oferecerem segurança. Essas áreas proporcionam também o contato social em atividades de lazer, sociais e recreativas, contribuindo para a interação social e favorecendo a coesão social em uma vizinhança e, por conseguinte, contribuindo para o sentimento de pertencimento ao local, o bem-estar subjetivo e a diminuição dos níveis de estresse.

5. A presença de áreas verdes pode contribuir para a redução de estresse dos indivíduos. Frequentar e ver uma paisagem com vegetação pode estimular a evocação de emoções e pensamentos positivos, ao passo que bloqueia as negativas, contribuindo, dessa forma para amenizar o estresse.

Áreas verdes e saúde - resultados do ELSA-Brasil

O Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) é o maior estudo epidemiológico realizado na América Latina sobre os fatores determinantes das doenças cardiovasculares e do diabetes. Conduzido com servidores públicos, ativos e aposentados, de seis capitais brasileiras — Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória —, o ELSA-Brasil fez a primeira avaliação de seus participantes em 2008-2010.

Já são mais de 17 anos de acompanhamento dos participantes do estudo e foram realizadas mais três visitas para novas entrevistas e exames. Mais de 500 artigos científicos já foram publicados sobre os mais diversos temas na área da saúde usando o ELSA como base de dados. Nossos estudos estão entre eles.

No primeiro trabalho, realizamos uma análise transversal com cerca de 2 mil participantes residentes na cidade de Belo Horizonte na linha de base do ELSA-Brasil (2008-2010). O estudo, publicado na renomada revista na área de saúde urbana Health & Place, mostrou que os participantes que residiam em locais com a maior quantidade de áreas verdes, quando comparados àqueles que moravam em locais com a menor quantidade de áreas verdes, tinham menor chance de apresentarem obesidade geral e abdominal e níveis baixos de HDL-colesterol.

No outro estudo, publicado no Journal of Urban Health, foi realizada uma análise longitudinal de 4,8 mil participantes residentes em Belo Horizonte e São Paulo. Esses participantes foram indagados quanto à prática de atividade física em três visitas de seguimento do ELSA-Brasil: 2008-2010, 2012-2014 e 2017-2019.

Quando comparados aos participantes que residiam em locais com a menor quantidade de áreas verdes, aqueles que residiam em locais com maiores quantidade de áreas verdes tinham maior chance de manter a prática de atividade física em intensidade moderada/vigorosa durante esse período de seguimento.

Importante destacar que essas associações foram independentes de outras características do ambiente da vizinhança, como a percepção de segurança e a quantidade de calçadas pavimentadas e postes de iluminação pública. No entanto, foram fortemente influenciadas pela condição socioeconômica da vizinhança, ou seja, locais com melhor condição socioeconômica tinham mais áreas verdes e mais moradores fisicamente ativos.

Esses estudos mostram, portanto, que o desenvolvimento de intervenções no ambiente urbano que visem a proteção, a manutenção e o aumento da quantidade de áreas verdes podem contribuir para melhorar a saúde da população. Também, acreditamos que essas intervenções contribuam para atenuar desvantagens contextuais, sobretudo nas áreas urbanas mais vulneráveis, contribuindo para redução das iniquidades em saúde.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Luciene Almeida não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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