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Bangladesh aperta cerco contra protestos sangrentos de estudantes

19 jul 2024 - 18h58
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Governo baixou toque de recolher e enviou militares às ruas para controlar a pior crise da década no país. Polícia é acusada de usar munição real contra manifestantes, que se opõem a cota no serviço público.O governo de Bangladesh declarou na noite desta sexta-feira (19/07, horário local) toque de recolher nacional e anunciou o envio de militares às ruas para controlar a pior crise da década no país no sul da Ásia.

Protestos estudantis em Bangladesh começaram no início do mês, mas escalaram na última semana, com relatos de vários mortos
Protestos estudantis em Bangladesh começaram no início do mês, mas escalaram na última semana, com relatos de vários mortos
Foto: DW / Deutsche Welle

Segundo a agência de notícias AFP, a onda de protestos que começou no início do mês nos campi universitários e tomou o país teria deixado ao menos 105 mortos - não há um balanço oficial por parte do governo.

A polícia é acusada de agir com violência contra os manifestantes e de disparar munição real nas ruas. Apoiadores do governo também estariam agredindo os estudantes.

Os manifestantes estão insatisfeitos com os planos para instituir uma reserva de 30% das vagas no serviço público para parentes de ex-combatentes na guerra de 1971, em que Bangladesh se emancipou do Paquistão.

Eles argumentam que a política é injusta e discriminatória diante dos altos índices de desemprego entre jovens, de cerca de 40% - ou 32 milhões de desocupados. As cotas, segundo eles, beneficiariam principalmente membros do partido da primeira-ministra, Sheikh Hasina. O pai dela é o fundador da sigla e liderou a luta de independência de Bangladesh.

Hasina, que governa desde 2009, tem visto as denúncias de corrupção contra o seu gabinete aumentar. Ao mesmo tempo, persegue rivais e críticos com mão de ferro.

Blackout nas comunicações e invasão de penitenciária com liberação de detentos

Mais cedo nesta sexta, apesar de o governo ter proibido atos e reuniões públicas após o dia mais sangrento de protestos, manifestantes invadiram uma prisão no distrito de Narsingdi e libertaram centenas de detentos.

Um apoiador dos protestos e líder do principal partido de oposição, o Partido Nacionalista de Bangladesh, foi preso.

O país amanheceu sob um blackout nas comunicações: vários portais de notícias e canais de TV estavam fora do ar, o acesso à internet foi interrompido e as redes sociais, bloqueadas por ação do governo. No dia anterior, os manifestantes haviam invadido e incendiado os estúdios da emissora estatal em Daca, capital do país.

Páginas do governo, incluindo o Banco Central e a polícia, foram aparentemente hackeadas. Uma mensagem postada no site do gabinete da primeira-ministra pedia o fim da matança de estudantes, anunciando que os eventos já não eram mais "um protesto", e sim "uma guerra".

Nações Unidas condenam ataques "chocantes" contra protestos estudantis

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, chamou de "chocante e inaceitável" os ataques aos estudantes em Bangladesh, e demandou a investigação "imparcial, rápida e exaustiva" e responsabilização pelos eventos.

"Estou profundamente preocupado com a violência desta semana em Bangladesh, que resultou em relatos de dezenas de mortos e centenas de feridos. Os ataques aos estudantes que protestam são particularmente chocantes e inaceitáveis", disse Turk em comunicado.

Turk citou relatos de uso de forças paramilitares, que segundo ele têm "longo histórico de violações", e instou o governo a adotar medidas para garantir a segurança dos estudantes em protestos pacíficos e o direito à liberdade de reunião.

Bangladesh em situação econômica difícil

Especialistas também atribuem os protestos à estagnação do mercado de trabalho no setor privado em meio à alta da inflação - algo que aumentou a atratividade do setor público, com seus ajustes salariais recorrentes e benefícios.

A competição pela estabilidade e altos salários no setor público é alta no país. A cada ano, cerca de 400 mil formados disputam cerca de 3 mil vagas.

As cotas para parentes de veteranos da guerra existiram até 2018, mas foram extintas após os protestos estudantis. Recentemente, porém, um tribunal reinstituiu a medida, que ainda será analisada pela Suprema Corte do país.

Hasina pediu aos manifestantes que esperassem essa decisão, e disse que sua oferta de negociar com os estudantes foi rejeitada. Ela, porém, chegou a defender o sistema de cotas, afirmando que veteranos merecem máximo respeito por suas contribuições à guerra, independente de filiação política.

ra (Reuters, AFP, AP, dpa, ots)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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