Belga assassinado revelou rotina de agressões: “É o inferno aqui"
Walter Henri Maximillen Biot foi encontrado morto no dia 5; seu marido, o cônsul alemão Uwe Herbert Hahn, está preso suspeito pelo crime
O belga Walter Henri Maximillen Biot, encontrado morto no último dia 5 em uma cobertura em Ipanema, no Rio de Janeiro, relatava agressões e clima de medo na rotina com o marido, o cônsul alemão Uwe Herbert Hahn. Ele está preso suspeito de ter assassinado o companheiro.
Em uma troca de mensagens revelada por um amigo do casal, Biot envia uma foto de um ferimento no queixo para seu irmão e diz: "É o inferno aqui com Uwe". Na sequência, o belga acrescenta que irá procurar a polícia, e é incentivado a fazer isso pelo familiar.
- "Eu te ligo outro dia. É um inferno aqui com Uwe"
- "Não se preocupe. Tenha coragem"
- "Eu vou para a polícia"
O irmão de Walter enviou um registro da conversa para a testemunha, um espanhol que conhecia Walter e Uwe de um quiosque em Ipanema, que levou o material à polícia. As informações são do jornal O Globo.
Segundo o amigo do casal, os dois viviam uma rotina de brigas e Walter chegou a se separar em dado momento, mas retomou a relação meses depois. O clima, no entanto, não melhorou. A testemunha relatou ainda ter visto porta e janelas quebradas no apartamento do casal.
O espanhol, no entanto, só soube da morte do amigo pelos noticiários, já que Walter havia ficado cada vez mais recluso e se afastado dele. No depoimento, a testemunha também relatou que o cônsul sempre dizia que, por ser um diplomata, nada poderia lhe acontecer.
O alemão foi preso pela delegada assistente da 14ª DP (Leblon), Camila Lourenço, responsável pelas investigações. Em conversa inicial feita no próprio local, Hahn alegou que o companheiro tinha passado mal e desmaiado, batendo o rosto no chão. Depois, reiterou as declarações em depoimento prestado na delegacia.
O caso
Walter Henri Maximillen Biot, de 52 anos, foi encontrado morto na cobertura de um apartamento em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele tinha mais de 30 lesões em diversas partes do corpo, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML).
O cônsul alemão Uwe Herbert Hahn foi preso temporariamente na noite de sábado, 6, por suspeita de homicídio e teve o pedido de habeas corpus negado. Os dois eram casados há 23 anos e atualmente viviam no apartamento onde o corpo de Biot foi encontrado.
Biot, de acordo com o laudo do exame de necropsia obtido pelo jornal O Globo, morreu de hemorragia subaracnoide (extravasamento de sangue entre o cérebro e o tecido), contusão craniana e traumatismo cranoencefálico provocados por ação contundente. Ainda segundo o exame, o corpo do belga apresenta mais de dez ferimentos nos braços e nas mãos.
Havia ainda quatro lesões foram detectadas no rosto. Outras seis, na região do tronco. Nas pernas, foram identificados seis ferimentos. Também foram registradas lesões no ânus. Há ainda uma grande lesão entre a barriga e o tórax, compatível com um "pisão", que pode indicar que a vítima tenha sido imobilizada.
Crime violento
O caso é investigado pela 14ª Delegacia de Polícia, no Leblon, que diz que a prisão de Hahn foi corroborada por perícia feita no apartamento do casal, que encontrou cenário suspeito e que indicam que Biot teve uma morte violenta. Também foram identificadas contradições nos depoimentos de Hahn.
"A versão dele (Uwe Hahn) é muito frágil, diante das evidências arrecadadas, das provas e da perícia técnico-científica", disse ao Estadão a delegada Camila Lourenço, ao justificar a prisão em flagrante do cônsul alemão por homicídio.
Na noite de sexta-feira, 5, o cônsul da Alemanha acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e alegou que o marido havia tido um mal súbito, caído e batido a cabeça. Os médicos encontraram a vítima com parada cardiorrespiratória e várias lesões. O corpo foi enviado ao Instituto Médico Legal (IML) para perícia, que constatou múltiplas lesões, incompatíveis com o relato do cônsul.
Aos policiais, Hahn disse que Biot tomava remédio para dormir e costumava beber quase todos os dias.
Na perícia feita no apartamento, os peritos detectaram manchas de sangue no chão e em uma poltrona. Também foi apreendido um bastão, que pode ter sido usado nas agressões.