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Bolsonaro nomeia almirante e isola núcleo ideológico do governo

Flávio Augusto Viana Rocha assume posto de secretário especial de Assuntos Estratégicos

14 fev 2020 - 09h31
(atualizado às 22h07)
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BRASÍLIA - A nomeação do almirante Flávio Augusto Viana Rocha para o comando da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), ligada diretamente ao gabinete presidencial, enfraqueceu ainda mais o grupo do ideólogo Olavo de Carvalho no governo de Jair Bolsonaro. A avaliação de auxiliares no Palácio do Planalto é que Bolsonaro tenta se afastar da ala radical do seu time e caminha para adotar um discurso mais conciliador com o Congresso e com o Judiciário em seu segundo ano de mandato.

A "militarização do terceiro andar", como definiu o próprio presidente, referindo-se ao local onde está seu gabinete, também tem o objetivo de se distanciar do olavismo, segundo auxiliares. Antes, a SAE era subordinada à Secretaria-Geral da Presidência, chefiada pelo ministro Jorge Oliveira. Agora, o almirante Rocha atuará de forma independente e terá como função chefiar a assessoria especial do presidente. Isso significa que Filipe Martins, assessor especial, e Arthur Weintraub (irmão do ministro da Educação, Abraham Weintraub), dois dos mais fervorosos seguidores dos ideais de Olavo, terão de prestar contas ao militar.

Além disso, Tércio Arnaud Thomaz e José Matheus Sales Gomes, responsáveis pelas redes sociais do presidente e integrantes do que ficou conhecido como "gabinete do ódio", também passarão a responder a Rocha. A dúvida é como essa nova configuração funcionará na prática, uma vez que Tércio e José Matheus são ligados ao vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente.

Antecipada pelo Estado na semana passada, a nomeação de Rocha foi publicada ontem no Diário Oficial da União. A chegada do almirante ocorreu na mesma semana em que Bolsonaro tirou da Casa Civil o ministro Onyx Lorenzoni e entregou a pasta para o general Walter Braga Netto, chefe do Estado-Maior do Exército. Onyx saiu do Planalto para ficar à frente do Ministério da Cidadania, antes chefiado por Osmar Terra, que reassumirá seu mandato de deputado federal.

Desde o ano passado, militares alertavam o presidente de que as questões ideológicas criam crises desnecessárias com os demais poderes e repercutem mal. Com as alterações dos últimos dias, olavistas admitem estar perdendo espaço no governo e reconhecem um distanciamento do presidente.

Diante das mudanças, a ala ideológica do governo já trabalha até mesmo com a possibilidade de Weintraub ser substituído por um militar. Para este grupo, a exoneração não foi consumada porque o ministro tem o apreço dos filhos do presidente.

Calibrada

Integrantes do Planalto afirmam, no entanto, que a demissão do ministro da Educação está descartada. Bolsonaro evita criticá-lo pelos erros no Enem e por sua gestão no ministério, mas já admitiu que "falta dar uma calibrada" na maneira de Weintraub falar.

O primeiro ano do governo Bolsonaro foi marcado justamente por intrigas e desavenças entre militares e os alunos de Olavo. Ex-ministro da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, foi demitido após ser alvo de ataques internos e nas redes sociais dos olavistas.

Porta-Voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros também perdeu espaço no Planalto depois de entrar na mira da ala ideológica. Outro alvo constante foi o vice-presidente Hamilton Mourão, que ficou nove meses com a relação estremecida com Bolsonaro, praticamente sem função.

Nos últimos meses, os ministros e generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) agiram para reaproximar os dois. Bolsonaro designou Mourão para comandar o Conselho Nacional da Amazônia Legal.

Até então comandante do 1.º Distrito Naval, no Rio, o almirante Rocha, por sua vez, recebeu a missão de ajudar Bolsonaro na coordenação das ações de governo. "Estamos comprando o passe dele da Marinha. Não vai ser ministro, não, apesar de ele merecer", disse Bolsonaro ao Estado, no último dia 5, quando apresentou o almirante à reportagem.

Na ocasião, o presidente afirmou que Rocha fala seis idiomas e trabalhou como assessor parlamentar. Foi nessa época que os dois se conheceram. "É sempre bom ter pessoas qualificadas, com o coração verde e amarelo para estar do nosso lado", disse o presidente. Apesar de ter um estilo centralizador, Bolsonaro vinha se queixando de estar sobrecarregado com a coordenação do governo, função que deveria ser executada pela Casa Civil.

Estadão
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