Bolsonaro 'perde boas oportunidades para ficar calado', diz Janaina Paschoal sobre ataque do presidente a jornalista
Deputada, no entanto, afirma que não vê ofensa nas insinuações sexuais do presidente contra a jornalista Patrícia Campos Mello como ataque à imprensa, mas como 'algo pontual'.
Em reação às ofensas com insinuações sexuais feitas pelo presidente Jair Bolsonaro à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, a deputada Estadual Janaina Paschoal (PSL) diz que "o presidente perde boas oportunidades para ficar calado".
Nesta terça-feira (18/02), durante uma entrevista em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que a repórter "queria dar o furo a qualquer preço contra mim".
O ataque foi feito após um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp dizer, sem apresentar qualquer prova, que a jornalista teria tentado "se insinuar" sexualmente para ele em busca de informações. A declaração ocorreu na semana passada, durante depoimento do ex-funcionário à CPMI das Fake News no Congresso.
Após o episódio, a jornalista publicou suas trocas de mensagens com o ex-funcionário, nas quais não havia qualquer indício daquilo que afirmou o depoente ao Congresso.
A situação atraiu repúdio de diversas entidades, instituições e políticos — incluindo o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que cobrou punição ao depoente por falso testemunho.
No ano passado, Campos Mello publicou uma reportagem em que revelava que uma rede de empresas fez disparos em massa de mensagens com mentiras durante a campanha presidencial beneficiando políticos — entre eles, Bolsonaro.
Eleita com recorde de votos pelo PSL, partido que elegeu o presidente, Janaina foi umas das principais apoiadoras de Bolsonaro durante a campanha, mas tem feito críticas pontuais à sua administração desde então.
"Ele tem esse jeitão, não se policia, reitera na prática das grosserias", diz ela à BBC News Brasil.
A deputada, no entanto, afirma que não vê ofensa de Bolsonaro à jornalista Patrícia Campos Mello como ataque à imprensa, mas como "algo pontual".
O jurista Miguel Reale Jr., que co-assinou com Janaina o predido de impeachment de Dilma Rousseff, disse à revista Veja nesta terça que a atitude de Bolsonaro pode levar a um impeachment. Mas Janaina não vê essa possibilidade.
"Acho que as pessoas estão exagerando muito ao falar de impeachment, que requer crime de responsabilidade, num contexto diferente. Que é uma grosseria não tenho dúvida, mas não vejo elemento nenhum para falar em impeachment", disse ela.
Bolsonaro e a imprensa
A ofensa de Bolsonaro a Patrícia Campos Mello não é o primeiro ataque do presidente à veículos de imprensa.
Além de diversas críticas à Folha, de dizer que os anunciantes do jornal "devem prestar atenção" e de ordenar o cancelamento das assinaturas do jornal em repartições públicas, no ano passado o presidente também faz ameaças à TV Globo.
"Teremos uma conversa em 2022", disse ele, se referindo ao prazo de renovação da concessão da emissora. "O processo de renovação da concessão não vai ter perseguição, mas tem que estar enxuto, tem que estar legal. Não vai ter jeitinho pra vocês, nem para ninguém. É essa a preocupação de vocês? Continuem fazendo essa patifaria contra o presidente Bolsonaro e sua família. Continua, TV Globo!", disse o presidente, aos gritos, em uma transmissão no Facebook.
Depois, em entrevista durante uma viagem, ele recuou.
"Qualquer concessão tem que cumprir a lei, nada mais além disso. Nunca, em nenhum momento, partiu de mim nenhuma ameaça a qualquer órgão de imprensa no Brasil", afirmou a jornalistas.
Janaina afirma que Bolsonaro "fala mais do que faz" em relação à imprensa.
"Eu não corroboro esse tipo de comentário, nem esse tipo de linchamento, mas não vejo um cerceamento à liberdade de imprensa. Ele fala mais do que faz."
'Sou atacada por me manifestar livremente'
Janaina Paschoal também já foi alvo de ataques nas redes sociais, tanto por ser a autora do pedido de impeachment de Dilma quanto por criticar Bolsonaro em 2019.
"Eu não gosto desse discurso meio vitimista do machismo. Eu sou atacada por me manifestar livre e claramente e por não me submeter a ninguém. Não descarto que haja uma indignação maior por eu ser mulher. Mas creio que o que incomoda mais é a independência. Na luta entre gangues, apanha mais quem anda sozinho."
Diversos apoiadores de Bolsonaro têm acusado a deputada de "ter pego carona" na popularidade de Bolsonaro e agora abandoná-lo.
"Ontem, fiz uma postagem crítica ao bolsonarismo e apanhei o dia todo. Eles não entendem que não nos ajudam a ajudar", diz a deputada à BBC News Brasil.
No Twitter, ela disse que quem a acusa de traidora "ou não tem memória, ou tem problema de cognição".
"Na convenção do PSL, eu disse, olhando nos olhos do então candidato à Presidência, ser fiel ao Brasil e não a ele pessoalmente. Disse que o apoiaria em razão de, naquele momento, ele ser o único com condições de vencer o PT. Se os bolsonaristas fossem inteligentes, não atacariam quem apoiou e apoia o presidente deles."