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Bolsonaro tenta se desvincular de senador que escondeu dinheiro na cueca

'De vez em quando a pessoa faz malversação do dinheiro público', diz Bolsonaro a apoiadores sobre o Chico Rodrigues, destituído nesta quinta da vice-liderança

15 out 2020 - 11h09
(atualizado às 19h09)
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BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro tentou se desvincular das acusações envolvendo o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado pela Polícia Federal com dinheiro na cueca. Até ser destituído no fim da manhã desta quinta-feira, 15, ele ocupava o cargo de vice-líder do governo no Senado. Em conversa com apoiadores, o chefe do Planalto admitiu que há desvios de dinheiro público destinado pela União para Estados e municípios, mas repetiu que não há corrupção em seu governo.

Chico Rodrigues, porém, foi nomeado pelo próprio presidente da República, ainda em 2019, para exercer o cargo de vice-líder no Senado, ou seja, atuar como representante do governo entre os parlamentares.

"Alguns acham que toda a corrupção tem a ver com o governo. Não. Nós destinamos aí dezenas de bilhões para Estados e municípios, tem as emendas parlamentares também e, de vez em quando, não é muito raro, a pessoa faz uma malversação desse recurso. Agora, a CGU (Controladoria-Geral da União) está de olho, a nossa Polícia Federal está de olho e tomamos decisões", afirmou o presidente.

O agora ex-vice-líder do governo foi alvo de uma operação da Polícia Federal na quarta-feira, 14, em Boa Vista (RR), e escondeu dinheiro na cueca durante a abordagem dos policiais. A Controladoria-Geral da União também faz parte da apuração. Aos simpatizantes, o chefe do Planalto chegou a dizer que o mal uso do dinheiro público "não é muito raro", mas repetiu que não há corrupção no governo.

A investigação, sob sigilo, apura desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia de covid-19, oriundos de emendas parlamentares. A ordem de busca e apreensão foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. Na manhã desta quinta-feira, 15, Bolsonaro foi questionado por um apoiador sobre a operação enquanto cumprimentava simpatizantes no Palácio da Alvorada.

O vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR).
O vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (DEM-RR).
Foto: Jefferson Rudy/ Agência Senado / Estadão

"Essa investigação de ontem é um exemplo típico do meu governo, que não tem corrupção no meu governo, não tem corrupção, e combate à corrupção seja de quem for", declarou o presidente. "Vocês estão há quase dois anos sem ouvir falar em corrupção no meu governo. O meu governo são ministros, estatais e bancos oficiais. Esse é o meu governo."

Segundo o Estadão apurou com duas fontes que tiveram acesso a informações da investigação, foram encontrados R$ 33.150,00 na cueca e outros R$ 10 mil e US$ 6 mil em um cofre. A investigação apura indícios de irregularidades em contratações feitas com dinheiro público, que teriam gerado sobrepreço de quase R$ 1 milhão.

No Alvorada, Bolsonaro disse "lamentar" desvios de recursos na saúde pública, pontuando que essa prática acaba matando "inocentes". Aos simpatizantes, o presidente da República declarou que a operação de quarta é "orgulho para o meu governo, para o meu ministro Wagner Rosário (da CGU) e para a minha Polícia Federal." Chico Rodrigues deve perder o cargo de vice-líder no Senado. "Nós estamos combatendo a corrupção, não interessa quem seja a pessoa suspeita", afirmou.

Em nota divulgada na quarta-feira, Chico Rodrigues disse que tem "um passado limpo e uma vida decente" e afirmou nunca ter se envolvido em escândalos. "Acredito na justiça dos homens e na justiça divina. Por este motivo estou tranquilo com o fato ocorrido hoje em minha residência em Boa Vista, capital de Roraima. A Polícia Federal cumpriu sua parte em fazer buscas em uma investigação na qual meu nome foi citado. No entanto, tive meu lar invadido por apenas ter feito meu trabalho como parlamentar, trazendo recursos para o combate ao covid-19 para a saúde do Estado", afirmou o senador.

Também em nota, o DEM, partido de Chico Rodrigues, afirmou estar atento a todos os detalhes da investigação. "Havendo a comprovação da prática de atos ilícitos pelo parlamentar, a Executiva Nacional aplicará as sanções disciplinares previstas no estatuto do partido", disse a legenda.

Estadão
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