Bolsonaro volta a Brasília após indiciamento por tentativa de golpe e se reúne com advogados
Após ser indiciado por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarca em Brasília na noite desta segunda-feira (25). Nos próximos dias, ele deve se reunir com sua equipe jurídica para definir estratégias de defesa diante das acusações formais apresentadas pela Polícia Federal (PF).
A volta à capital federal ocorre em meio à expectativa pela divulgação do relatório final da PF, que detalha como a organização criminosa liderada por Bolsonaro teria planejado evitar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O documento, cujo sigilo deve ser levantado em breve, promete revelar novos detalhes da dinâmica por trás do plano golpista.
Operação e novas revelações sobre Bolsonaro e aliados
Bolsonaro passou a última semana em São Miguel dos Milagres (AL), acompanhado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, na residência do ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL). De lá, ele monitorou a Operação Contragolpe, deflagrada pela PF na terça-feira (19), que mirou militares e um policial federal, incluindo o general da reserva Mario Fernandes, suspeito de planejar o assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes.
- Retornando a Brasília.
- Obrigado meu Nordeste.
- 25/novembro.
- Gilson Machado.
- Jair Bolsonaro. pic.twitter.com/W9XRoTRVE2
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 25, 2024
Na quinta-feira (21), a PF apresentou um relatório que indicia 37 pessoas, entre elas Bolsonaro, militares e antigos aliados políticos. O inquérito menciona figuras de destaque, como o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil. De acordo com depoimentos colhidos no acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, Braga Netto teve papel ativo na tentativa de articular a trama golpista.
Bolsonaro tem minimizado as acusações em conversas com aliados, dizendo que o indiciamento era "esperado". Ele insiste que os áudios de Mario Fernandes provam que não apoiou um golpe. Contudo, Fernandes, então número dois da Secretaria-Geral da Presidência, teria pressionado por ações concretas para barrar a posse de Lula, incluindo a impressão de um plano de golpe em seu gabinete no Palácio do Planalto.
Negativas e justificativas
Entre aliados de Bolsonaro, a narrativa mais recorrente para negar sua participação no esquema é a alegação de que o ex-presidente rejeitava ideias "mirabolantes" que surgiam diariamente. Em tom crítico, ele teria argumentado que qualquer medida necessitaria do aval do Conselho da República, instância constitucional convocada apenas em situações excepcionais, como intervenção federal ou Estado de Defesa.
No entanto, diálogos atribuídos a Bolsonaro indicam ambiguidade. Em um dos trechos mais citados, ele teria dito: "'Ah, não, porra, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe' [teria dito Bolsonaro]. Porra, negão. Qualquer solução, Caveira [apelido de Marcelo Câmara], tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais. Então, meu amigo, parti pra cima, apoio popular é o que não falta".
Com as investigações em andamento, a expectativa é de que novos detalhes sobre o esquema golpista e seus desdobramentos sejam revelados nos próximos dias.