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Boulder: a cidadezinha americana que tem muito a ensinar ao Brasil

3 fev 2017 - 11h54
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Com apenas 100 mil habitantes, a cidade de Boulder, no estado americano do Colorado, é um exemplo de município de pequeno porte com alto impacto mundial. Localizado aos pés de um grandioso conjunto de montanhas, as Rocky Mountains, o local teria tudo para ser mais uma cidadezinha interiorana com costumes tradicionais e sem muita perspectiva. Entretanto, o que se vê por lá é um dos mais bem-sucedidos ecossistemas empreendedores do mundo. Segundo estudos da Kauffman Foundation, Boulder tem a maior densidade de startups de tecnologia do planeta, além de ser o segundo ecossistema do país em relevância, logo atrás do Vale do Silício, na Califórnia.

Foto: DINO

"Durante muito tempo, a única forma de ter um trabalho decente na cidade era criando, você mesmo, essa função. Por conta disso, o empreendedorismo está na base da cultura de Boulder", explica Alex Bogusky, fundador da Boomtown Accelerators, uma das principais aceleradoras da cidade. Boulder também é berço da Techstars, incubadora altamente desejada pelos pequenos empreendimentos em tecnologia do mundo todo, com presença em mais de 18 localidades, incluindo Londres e Nova York. A Techstars ofecere às startups selecionadas um programa de 13 semanas com aporte de U$118.000, espaço para funcionamento e conexão com mentores do mais alto nível. Tudo isso em troca de participação, entre sete e dez por cento da empresa. O surgimento da Techstars foi responsável pela chegada de milhares de empreendedores, startups, fundos de investimento, e de um enorme aumento na taxa de sucesso dos negócios fundados ali. Boulder também é berço do Startup Weekend, evento que acontece em centenas de cidades no mundo todo, com cerca de 70 empreendedores juntos durante 54 horas para criar uma startup, além de ser palco de outras centenas de eventos voltados ao empreendedorismo durante o ano todo. Além de todos esses aspectos, a qualidade de vida, as belezas naturais e a cultura jovem e criativa, fazem da cidade um local amplamente desejado. "É difícil conseguir trabalho em Boulder, já que muita gente quer viver aqui e não há mercado suficiente para um número tão alto de pessoas qualificadas. Por isso é tão comum encontrar garçons e baristas com mestrado", conta Bogusky, que também é fundador e ex-sócio da CP+B. Depois de décadas à frente da agência de publicidade sediada em Boulder, uma das mais premiadas do mundo, ele abandonou a área para se dedicar exclusivamente ao universo das startups.

Antes mesmo da Techstars, criada em 2016, a presença da Universidade do Colorado no município sempre foi um diferencial. A instituição de ensino é uma das mais respeitadas tanto na formação de programadores e desenvolvedores quanto na de designers, em uma combinação infalível de habilidades. Além disso, a política de priorizar novas empresas ao invés de grandes corporações, a distância de apenas 35 km da capital Denver, e uma vida pacata que permite conciliar trabalho e lazer, formam um ecossistema sem igual. Sean De Clercq, criador da startup Kickfurther, conta que os custos de operação são outro grande atrativo. "Talentos são muito mais baratos aqui e isso se deve ao baixo custo de vida. Em Boulder, todas as nossas despesas são 20 por cento menores do que seriam em Nova York ou San Francisco", destaca De Clercq.

Já Megan Linch, pesquisadora de ecossistemas empreendedores na McCombs School of Business, braço de negócios da Universidade do Texas, conta que o modelo de Boulder é um caso que vem sendo estudado há anos e já serve de exemplo para o desenvolvimento em massa de novos ecossistemas de startups nos Estados Unidos. "Boulder é o principal exemplo, que mostrou aos centros de pequeno porte dois pontos essenciais: o de que é possível fazer, e o de como fazer". Linch conta que o pequeno município do Colorado trouxe uma perspectiva muito diferente da realidade de grandes metrópoles como San Francisco e Nova York. "A partir do modelo de Boulder", ressalta, "novos hubs de startups não param de surgir ao redor do país". Entretanto, segundo Marcos Garcia, especialista em empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas, essa é uma realidade ainda pouco disseminada no Brasil.

"Aqui no Brasil, apenas a pequena Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais, consegue se aproximar do que ocorre em Boulder", conta Garcia. A pequena cidade conhecida como Vale da Eletrônica tem apenas 40.000 habitantes e, mesmo assim, sedia o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), que forma programadores e desenvolvedores de alto nível, e conta com cerca de 50 startups, quatro incubadoras e outra centena de empresas de base tecnológica. Para o professor, o município mineiro é uma exceção que se destaca no país, mas está longe da maturidade de um ecossistema de alto impacto como o de Boulder. "Santa Rita tem startups promissoras em grande quantidade, uma longa história em tecnologia e empreendedorismo com empresas consolidadas - algumas até adquiridas por grandes grupos estrangeiros - e reúne diversas outras características de um ecossistema de sucesso. É um exemplo único no Brasil de cidade pequena que já é um hub consolidado. No entanto, ainda tem pouco acesso a capital semente e não possui aceleradoras", completa Garcia.

"O Brasil tem ecossistemas empreendedores bem desenvolvidos em capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis", aponta. "Mas as cidades pequenas, com exceção do exemplo sul mineiro, estão totalmente fora do circuito". Para o especialista da FGV, os municípios brasileiros, principalmente aqueles com a população abaixo de 500 mil habitantes, precisam investir com urgência no empreendedorismo e na criação de startups. "É um papel principalmente da iniciativa privada e das universidades, mas que pela realidade brasileira ainda muito dependente dos governos, pode ser facilitado pelo poder público. Caso contrário", conclui, "perderemos a oportunidade de seguir exemplos com o de Boulder, que continuarão muito distantes da nossa realidade".

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