Brasil pode estar do lado oposto da maioria da comunidade global, diz porta-voz da Casa Branca
O Brasil pode estar do outro lado da comunidade global, disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, após ter sido questionada nesta sexta-feira sobre a visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia em meio à crise com o Ocidente sobre uma eventual invasão da Ucrânia por aquele país.
A representante do governo dos EUA foi perguntada sobre o encontro de Bolsonaro com o presidente russo, Vladimir Putin, no qual o chefe de Estado brasileiro expressou solidariedade àquele país. Ela foi questionada sobre se o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se sentiu traído pelos comentários do presidente brasileiro e de que forma isso afeta a relação dos EUA com o Brasil.
"Eu não discuti seus comentários com o presidente, mas o que eu diria é que a grande maioria da comunidade global está unida em sua visão compartilhada de que invadir outro país, tentar tomar algumas de suas terras, aterrorizar seu povo certamente não está alinhado com valores globais, então acho que o Brasil pode estar do outro lado de onde a comunidade global está", respondeu Psaki.
REAÇÃO ANTERIOR
Na véspera, já tinha ocorrido uma forte reação do governo norte-americano em relação à visita de Bolsonaro à Rússia.
A dura declaração do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre o encontro do presidente a Putin à Rússia foi recebida com surpresa pelo governo brasileiro pelo tom e pelo método como foi feito, mas não há intenção de dar uma resposta aos norte-americanos, disseram à Reuters fontes da diplomacia brasileira.
A declaração de um porta-voz do Departamento de Estado chegou a jornalistas na noite de quinta-feira, mas não foi repassada ao governo brasileiro pelos canais diplomáticos e nem ao menos por uma conversa entre diplomatas, disse uma das fontes.
"Como iríamos responder a um texto que não temos? E de autoria atribuída?", disse uma das fontes. "Nossos contatos com o Departamento de Estado são assíduos e sempre amistosos, sobre temas da agenda de trabalho. Não são pautados por declarações anônimas circuladas na imprensa."
Na declaração, o Departamento de Estado afirma que foi criada uma "falsa narrativa" de que o governo norte-americano estaria tentando fazer com que o Brasil tivesse que escolher um lado entre EUA e Rússia.
"Esse não é o caso. Essa é uma questão de o Brasil, como um país importante, parecer ignorar uma agressão armada de uma grande potência contra um país vizinho menor, uma postura inconsistente com a ênfase histórica do Brasil na paz e na diplomacia", diz a declaração.
"O timing do presidente do Brasil para expressar solidariedade à Rússia, conforme as forças russas estão se preparando para lançar ataques a cidades ucranianas, não podia ser pior", acrescenta. "Isso enfraquece a diplomacia internacional, direcionada a evitar um desastre estratégico e humanitário, assim como os próprios apelos brasileiros para uma solução pacífica para a crise."
O texto, vários tons acima do que normalmente é usado em comunicações diplomáticas, irritou o Itamaraty e não há intenção de procurar os norte-americanos para pedir explicações ou tentar pavimentar uma nova conversa.
Na quarta-feira, no primeiro encontro com Putin, Bolsonaro afirmou ao lado do presidente russo que o Brasil era "solidário à Rússia". Depois, durante declaração a imprensa também ao lado de Putin, fez um ajuste: "Somos solidários a todos aqueles países que querem e se empenham pela paz."