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Fim do bloqueio do X? O embate de Musk e Alexandre de Moraes capítulo a capítulo

Elon Musk atacou Alexandre de Moraes em postagens no X ao longo do ano, mas parou de mencionar o Brasil nas últimas semanas.

8 out 2024 - 15h02
(atualizado às 15h23)
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Elon Musk atacou Alexandre de Moraes em postagens no X ao longo do ano, mas parou de mencionar o Brasil nas últimas semanas
Elon Musk atacou Alexandre de Moraes em postagens no X ao longo do ano, mas parou de mencionar o Brasil nas últimas semanas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A plataforma de rede social X solicitou seu desbloqueio — depois de mais de um mês de bloqueio, em meio a uma queda de braço entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e a empresa com sede nos Estados Unidos.

Segundo o jornal O Globo, a Procuradoria-Geral da República já se manifestou favoravelmente à liberação após pagamento de multas.

As tensões começaram no ano passado, quando o ministro do STF Alexandre de Moraes, que é relator de inquéritos sobre fake news no Brasil, determinou a suspensão de contas de redes sociais de diversas pessoas ligadas aos tumultos de janeiro de 2023 em Brasília.

Outras plataformas cumpriram com as decisões judiciais, mas o X não acatou as ordens. A empresa veio a público em abril desse ano com críticas ao STF, a quem acusou de censura.

Desde então, as tensões cresceram, com trocas de farpas entre Alexandre de Moraes e o bilionário Elon Musk, dono da plataforma. A maior parte das declarações de Moraes apareceram em despachos judiciais; já Musk escolheu sua plataforma para publicar críticas e ironias.

Nas últimas semanas, Elon Musk não vem mais se manifestando sobre o Brasil. E a empresa recuou em sua decisão de descumprir ordens judiciais dadas pela Justiça brasileira.

Confira abaixo uma cronologia das tensões entre o X e o STF.

8 de janeiro de 2023 - Tumultos em Brasília

Em 8 de janeiro de 2023, uma multidão de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, insatisfeitos com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, invadiu o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, e vandalizou símbolos da República.

Após esse episódio, o STF intensificou investigações sobre a disseminação de conteúdos falsos e o possível financiamento de grupos que ameaçam a democracia brasileira.

O ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos que apuram a disseminação de fake news, milícias digitais e atos golpistas, ordenou o bloqueio de diversos perfis em redes sociais administrados por usuários acusados de atentar contra a democracia brasileira e o processo eleitoral.

As ordens emitidas pelo ministro geraram repercussão negativa entre parte dos apoiadores de Bolsonaro e eleitores da ala direitista da política brasileira, que alegavam que as medidas violavam o direito à liberdade de expressão.

Moraes contou com o apoio dos demais ministros do STF, que ressaltaram que a liberdade de expressão não deve ser confundida com a permissão para desrespeitar leis ou promover ideais antidemocráticos.

3 de abril de 2024 - Documentos do X publicados

Mais de um ano depois dos tumultos em Brasília, vieram à público comunicações entre a plataforma X, de Elon Musk, e o STF.

O STF exigiu que o X retirasse do ar diversas contas ligadas ao bolsonarismo e aos tumultos em Brasília.

Esses dados vieram à tona quando o jornalista Michael Shellenberger publicou documentos internos do X que teriam sido entregues a ele por Elon Musk.

Shellenberger é um dos jornalistas escolhidos por Musk como parte de um episódio chamado Twitter Files ("Arquivos Twitter"). Depois que Musk assumiu o controle do X, em outubro de 2022, ele deu a jornalistas documentos internos, para que fosse exposto o modo como funcionários lidavam com problemas dentro da plataforma, como no caso da moderação de conteúdo.

Musk e outros políticos conservadores acusavam a empresa de favorecer políticos progressistas em diversas decisões internos — algo que nunca ficou comprovado.

Em 3 de abril, Shellenberger publicou documentos que mostravam mais de dois anos de comunicações entre a equipe jurídica do Twitter e os tribunais brasileiros. Segundo o jornalista, os documentos mostram evidência de "uma repressão radical à liberdade de expressão".

As decisões de Moraes mandavam o X retirar do ar contas de algumas das pessoas envolvidas nos tumultos de 8 de janeiro de 2023.

6 de abril - Musk acusa STF de 'censura agressiva'

Três dias depois da divulgação dos documentos, Elon Musk falou publicamente sobre o assunto. Ele disse que a ação do Supremo Tribunal Federal era uma "censura agressiva".

"Este juiz aplicou multas pesadas, ameaçou prender nossos funcionários e cortar o acesso a X no Brasil", disse Musk.

"Provavelmente perderemos toda a receita no Brasil e teremos que fechar nosso escritório lá. Mas os princípios importam mais do que o lucro."

Elon Musk escreveu em 6 de abril: "Provavelmnete perderemos toda nossa receita no Brasil e teremos que fechar o escritório lá"
Elon Musk escreveu em 6 de abril: "Provavelmnete perderemos toda nossa receita no Brasil e teremos que fechar o escritório lá"
Foto: X / BBC News Brasil

Musk prometeu publicar tudo que estava sendo exigido do X por Moraes: "Este juiz traiu descarada e repetidamente a constituição e o povo do Brasil. Ele deveria renunciar ou sofrer impeachment."

Musk também chamou Moraes de "ditador do Brasil" e disse que o juiz mantém o presidente Lula "em uma coleira".

O caso teve repercussões políticas no Brasil.

As mensagens de Musk geraram intensa movimentação de bolsonaristas em seu apoio. O ex-presidente Jair Bolsonaro compartilhou uma mensagem no X em que diz que "@elonmusk é o mito da nossa liberdade", acompanhado de um vídeo de um encontro dos dois em maio de 2022.

Já integrantes do governo Lula fizeram duras críticas a Musk.

Usando sua conta no X, o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, disse que "nossa soberania não será tutelada pelo poder das plataformas de internet e do modelo de negócio das big techs [grandes empresas de tecnologia]".

"Não vamos permitir que ninguém, independente do dinheiro e do poder que tenha, afronte nossa Pátria. Não vamos transigir diante de ameaças e não vamos tolerar impunimente nenhum ato que atende contra a democracia", disse.

Elon Musk no Twitter: "Como Alexandre de Moraes virou ditador do Brasil? Ele tem Lula em uma coleira."
Elon Musk no Twitter: "Como Alexandre de Moraes virou ditador do Brasil? Ele tem Lula em uma coleira."
Foto: X / BBC News Brasil

15 de agosto - Moraes aumenta multa ao X

O caso voltou ao noticiário em 15 de agosto, quando Alexandre de Moraes aumentou de R$ 50 mil para R$ 200 mil a multa diária aplicada ao X por descumprir suas decisões.

O ministro havia determinado que a rede social bloqueasse o perfil do senador Marcos do Val (PL-ES) e de outros investigados. Do Val é um dos investigado por obstruir investigações sobre as invasões de 8 de janeiro ao Supremo e Congresso Nacional.

Do Val vinha realizando ataques ao STF e a Alexandre de Moraes e dizia que iria acioná-lo em "tribunais internacionais". O STF ordenou a retirada da conta de Marcos do Val em outras plataformas, mas o X não cumpriu a ordem.

Na sua decisão, Moraes afirmou que ficaria configurado o crime de desobediência do representante legal da companhia, caso a decisão não fosse cumprida.

17 de agosto - Musk fecha escritório do X no Brasil

Em resposta à decisão de Moraes, Elon Musk decidiu fechar o escritório do X no Brasil, retirando seu representante legal.

A rede social anunciou, por meio de uma publicação na própria plataforma, o fechamento do escritório, alegando ameaças de prisão contra a responsável pela rede no país, Rachel de Oliveira Villa Nova Conceição. Mesmo com o encerramento das atividades administrativas, a rede social continuaria funcionando normalmente.

Em suposto despacho divulgado pelo X, Moraes teria afirmado que a representante da empresa no Brasil agiu de má-fé, tentando evitar a notificação da decisão proferida nos autos, conforme noticiado pela Agência Brasil.

Todos os cerca de 40 funcionários do X (ex-Twitter) no Brasil foram surpreendidos com uma reunião online de emergência, em que acabaram demitidos.

Em seu perfil no X, Elon Musk se manifestou horas depois, atribuindo o fechamento do escritório brasileiro a "exigências de censura" do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

"A decisão de fechar o escritório X no Brasil foi difícil, mas, se tivéssemos concordado com as exigências de censura secreta (ilegal) e entrega de informações privadas de @alexandre, não haveria como explicar nossas ações sem ficarmos envergonhados."

O perfil oficial do X dedicado às relações governamentais publicou uma nota confirmando o fim da operação no Brasil e divulgando um despacho sigiloso de Moraes destinado à empresa.

28 de agosto - Moraes dá ultimato ao X

Moraes determinou no dia 28 de agosto que o X nomeasse em 24 horas um novo representante legal no Brasil, conforme exigido pela legislação local.

A intimação foi feita por uma postagem no perfil oficial do Tribunal na própria rede social.

O ministro advertiu que, se a empresa não o fizesse, ele poderia determinar que a rede social fosse imediatamente tirada do ar.

O STF disse que ''Musk é investigado no Inquérito (INQ) 4957, que apura a suposta prática dos delitos de obstrução à Justiça, organização criminosa e incitação ao crime.''

Como forma de "cobrar multas" aplicadas contra a rede social X por descumprir decisão judicial, Alexandre de Moraes também decidiu bloquear as contas da empresa Starlink, também pertencente a Elon Musk, no Brasil.

O X criticou a decisão.

"Essa ordem é baseada em uma determinação infundada de que a Starlink deve ser responsável pelas multas aplicadas —de forma inconstitucional— contra o X", divulgou a empresa.

Elon Musk publicou memes satirizando Alexandre de Moraes, e o comparando a Voldemort e Sith Lord, vilões de filmes
Elon Musk publicou memes satirizando Alexandre de Moraes, e o comparando a Voldemort e Sith Lord, vilões de filmes
Foto: X / BBC News Brasil

Elon Musk reagiu à determinação com uma série de posts sobre Alexandre de Moraes na rede social. Entre as publicações, estavam memes que comparavam o ministro ao vilão Voldemort, dos filmes da série Harry Potter, e outros ataques diretos, chamando Moraes de uma "vergonha para as togas de juízes".

30 de agosto - X sai do ar no Brasil

No dia 30 de agosto, uma sexta-feira, Moraes determinou que o X saísse do ar. Ao longo do final de semana, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) começou a cumprir a decisão.

Na decisão, Moraes argumentou que Musk e sua rede social estariam incentivando, com sua postura, discursos extremistas e antidemocráticos. Além disso, estariam obstruindo a Justiça ao não seguir determinações judiciais como bloqueio de contas e ao deixar de apontar um representante legal no país.

No dia seguinte, usuários de internet no Brasil já não conseguiam acessar o X. O texto fixa fixou um prazo de até cinco dias para que todos os envolvidos na operação, incluindo empresas de telefonia e servidores, cumprissem com o bloqueio da plataforma.

A decisão de Moraes também impôs uma série de medidas contra usuários de um mecanismo de proteção ou burla de barreiras na internet chamado VPN. Entre elas estava a aplicação de multas a quem usar VPN para acessar o X no Brasil.

Moraes estipulou uma multa de R$ 50 mil para pessoas físicas ou jurídicas que utilizem VPN para burlar o bloqueio determinado por ele e acessar a o X a partir do Brasil.

Moraes também havia determinado que Google e Apple retirassem de suas lojas de aplicativos aqueles que oferecem esse serviço, mas após uma série de críticas em redes sociais, o ministro recuou deste ponto de sua decisão.

Logo após a decisão, Elon Musk reagiu em sua conta no X. Disse que "a liberdade de expressão é a base da democracia e um pseudo-juiz não eleito no Brasil está destruindo-a para fins políticos".

A notícia do bloqueio do X teve ampla repercussão internacional — com meios de comunicação criticando algumas decisões do STF, mas também criticando a postura de Musk de desobedecer as leis brasileiras.

"A proibição do X colocaria o Brasil entre um grupo de nações autocráticas, como Coreia do Norte e Venezuela, que também proíbem a plataforma", escreveu o jornal britânico Financial Times. "Moraes liderou uma repressão judicial contra a desinformação online, mas é uma figura controversa que divide opiniões no Brasil."

O jornal americano Washington Post destacou que a medida aconteceu após Musk se recusar a nomear um representante legal no Brasil.

O X criou uma conta chamada AlexandreFiles ("Arquivos Alexandre") para divulgar decisões tomadas pelo juiz que a empresa considera ilegais ou inconstitucionais.

18 de setembro - X 'dribla' bloqueio no Brasil

Usuários em cidades como São Paulo e Belo Horizonte conseguiram acessar a plataforma normalmente, o que chamou a atenção de usuários e autoridades brasileiras.

O retorno foi conseguido por meio de uma manobra técnica na forma de hospedagem na rede social na internet, desafiando o bloqueio estabelecido pelo STF.

O ministro Alexandre de Moraes reagiu determinando que a rede social retomasse o cumprimento do bloqueio imediatamente, com multa de R$ 5 milhões por dia de violação. Moraes estabeleceu que a multa poderia ser cobrada da Starlink, outra empresa de Musk que mantém atuação no Brasil.

A empresa disse que o acesso no Brasil foi um efeito colateral "não intencional e temporário" da troca de provedores de rede.

"Embora esperemos que a plataforma fique inacessível novamente em breve, continuamos os esforços para trabalhar com o governo brasileiro para retornar muito em breve ao povo do Brasil", dizia declaração do X.

20 de setembro - X diz que vai cumprir decisões

A rede social X anunciou que decidiu cumprir todas as decisões do STF e nomeou a advogada Rachel de Oliveira Villa Nova Conceição como representante.

"A empresa decidiu cumprir com todas as determinações judiciais", disse à BBC News Brasil o criminalista Sérgio Rosenthal, nomeado pelo X como um dos seus advogados. "O importante é regularizar a situação da empresa no Brasil."

Alguns perfis de contas de bolsonaristas e envolvidos nos tumultos de Brasília foram excluídos do X.

No dia 21, Moraes deu um novo prazo para que o X enviasse mais dados antes que o site volte a funcionar no Brasil.

Segundo o ministro, uma decisão judicial anterior para que os advogados apontados pela rede social comprovassem a regularidade e a validade da representação legal da empresa no país "não foi devidamente cumprida" no prazo estipulado de 24 horas.

Perfis de bolsonaristas aparecem bloqueados para usuários no Brasil
Perfis de bolsonaristas aparecem bloqueados para usuários no Brasil
Foto: X / BBC News Brasil

Moraes pediu que diversos órgãos, como a Receita Federal, o Banco Central, a Polícia Federal, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e a própria Secretaria Judiciária do STF, prestem esclarecimentos e compartilhem informações sobre o X no país para esclarecer "a atual situação da representação legal do X no Brasil" e fazer cálculos de "eventual multa a ser aplicada".

4 de outubro - X paga multa em conta errada

Moraes disse que o X fez o depósito do valor das multas devidas em uma conta bancária errada.

O valor de R$ 28,6 milhões foi depositado em uma conta da Caixa Econômica Federal e não na conta judicial no Banco do Brasil.

Moraes determinou que a Caixa transferisse o dinheiro para a conta certa.

O ministro determinou que o caso fosse encaminhado para manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR). Depois disso, o STF avaliaria o desbloqueio da plataforma.

Nesta terça-feira (8/10), o X anunciou que fez o pagamento na conta correta, e que agora aguarda a liberação da plataforma no Brasil.

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