À espera de 'circo pegar fogo', PF de Curitiba tem poucos manifestantes e 'ambiente agradável' para Lula
Ante expectativa pela chegada de ex-presidente, foram acionados policiais que atuam em situações de risco e preparados os locais onde Lula deverá cumprir pena.
A manhã começou normalmente na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Desde as 8h, formava-se a fila para fazer passaportes. Do lado de dentro do prédio, ninguém diria que este é o dia em que Luiz Inácio Lula da Silva deve se apresentar para cumprir a ordem de prisão expedida pelo juiz Sergio Moro - menos de 24 horas depois que o STF decidiu que o ex-presidente poderia ser preso.
Mas enquanto manifestantes se aglomeram no Instituto Lula, em São Paulo, e no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, em Curitiba a aglomeração é principalmente de jornalistas de todo o Brasil.
"Hoje o circo pega fogo", disse uma agente da polícia a um homem que a perguntava sobre o "grande dia" da operação Lava Jato.
O anúncio de que Lula não pretende se entregar na capital paranaense tornou mais incerta a mobilização dos policiais federais.
No estacionamento do prédio, agentes do Grupo de Pronta Intervenção (GPI), acionados apenas para situações de alto risco, esperavam por instruções sobre como se organizar no caso de manifestações ou tumultos no momento da chegada do ex-presidente.
"Estamos tranquilos, mas a expectativa é grande, né", disse à BBC Brasil um agente que não quis se identificar.
Há sete presos da Lava Jato ali, incluindo o ex-ministro de Lula Antonio Palocci, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o empreiteiro Leo Pinheiro.
O chefe da equipe de escolta e carcerário da PF, Jorge Chastalo, afirmou à BBC Brasil que outros presos da Lava Jato na carceragem da PF não comentaram a prisão de Lula, mas que Palocci e Duque "deram umas risadinhas" ao ouvir sobre a chegada iminente do ex-presidente.
"Não conheço um país democrático em que um ex-presidente foi preso assim. É uma coisa grande no mundo todo."
De acordo com o policial, há uma escala especial para garantir que o local esteja preparando para possíveis manifestações. A Polícia Militar também teria sido acionada para ajudar no controle de uma eventual multidão.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná, às 14h haverá uma reunião com as polícias Federal, Militar, Civil, Departamento de Inteligência do Paraná e Polícia Rodoviária Federal para tratar do esquema de segurança.
'Alívio na alma'
Da multidão, no entanto, nem sinal. Segundo o ex-deputado Federal Dr. Rosinha, presidente do PT no Paraná, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) está trazendo ônibus de sindicalistas de Joinvile (Santa Catarina) e do Rio Grande do Sul para Curitiba.
Até o meio da manhã, as únicas manifestações diante da PF foram contra Lula. Alunos dentro de vãs escolares gritam "Fora PT" e "Lula ladrão" para os veículos de comunicação.
Além disso, cerca de meia dúzia de manifestantes com camisetas da seleção brasileira e bandeiras do Brasil se posicionam na frente do prédio, no bairro periférico de Santa Cândida, a favor da prisão de Lula e em apoio ao juiz Sergio Moro.
A técnica de contabilidade Penha Lustosa, de 70 anos, mora perto da Polícia Federal e foi uma das primeiras a aparecer, ao lado do filho e de um amigo.
"Achei que ia ter um grupo maior aqui, do qual fazemos parte, mas eles ainda não chegaram. Na prisão de (Eduardo) Cunha tinha muita gente", disse à BBC Brasil.
Segundo Penha, que não acredita que o ex-presidente ficará muito tempo detido, a prisão dá "um alívio na alma, de saber que a lei é para todos, como o doutor Moro disse".
"Se Lula quer ser igual a Jesus Cristo, ele tem que ir para a cruz. Ele podia ter saído da história do país como um grande estadista, mas vai sair como bandido, não como mártir. Mas espero que ele tenha a dignidade de fazer como disse e denunciar muita gente. Agora a fila vai andar."
'Ambiente agradável'
A imprensa não tem acesso à parte interna do prédio da PF, onde fica a sala especial em que Lula deve cumprir pena. No início da manhã, o delegado Igor Rosário de Paula, responsável pela Lava Jato, disse que a cela de Lula, no terceiro andar, fica ao lado da sala onde começou a escuta telefônica que deu origem à investigação.
Chastalo, o chefe da equipe de escolta da PF, afirmou que a sala de Lula vem sendo preparada há 15 dias e que é um ambiente "tranquilo, agradável de se estar e humanizado".
A sala tem cerca de 15 metros quadrados e servia como alojamento para oficiais da PF de outros Estados. Ela tem banheiro próprio e janela, mas não ar-condicionado, nem câmera interna.
Segundo o policial, uma beliche foi retirada da sala, que recebeu uma cama de solteiro e uma mesa. "Ele terá um dia de visita normal, que vamos definir qual será. Advogados estão liberados e membros próximos da família. De resto, vamos avaliando caso a caso."
Chastalo afirmou ainda que Lula poderá receber advogados no sábado e domingo caso chegue a Curitiba ainda nesta sexta.
"Doutor Moro nos pediu, por causa das circunstâncias, que são especiais. Mas não é a nossa praxe", disse.