A sombra de um atentado às vésperas da cúpula do G20 no Brasil
Kamikaze bolsonarista atacou o coração da democracia
A sombra do ataque contra o Supremo Tribunal Federal (STF) paira sobre a cúpula dos líderes do G20, no Rio de Janeiro, na próxima segunda-feira (18). Não foi um ataque isolado de um lobo solitário, como inicialmente se supôs, mas fruto do delírio de grupos de extrema direita atuantes no Brasil.
Um "plano há muito meditado" que, segundo os investigadores, tinha como "principal objetivo o juiz Alexandre de Moraes", considerado pelos bolsonaristas o mais ferrenho inimigo do ex-presidente de direita. Uma trama perturbadora, fruto da polarização no país, que se fortaleceu com a eleição de Donald Trump e da "tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023".
O cenário do novo golpe à democracia verde-amarela foi a mesma Praça dos Três Poderes violada em janeiro de 2023 com o ataque aos edifícios pelas tropas soberanistas.
No entanto, desta vez foi um único homem quem agiu, uma pessoa transtornada vestida de Coringa e recheada até os dentes de explosivos, que com um extintor transformado em lança-chamas, espalhou bombas pela Esplanada dos Ministérios e pela casa que alugou a cerca de 30 quilômetros do local do ataque.
O número de artefatos explosivos artesanais encontrados e neutralizados ainda é desconhecido, mas as explosões foram ouvidas diversas vezes, desde a noite de quarta-feira (13) até a manhã de hoje (15).
As três primeiras explosões foram acionadas pelo próprio agressor, Francisco Wanderley Luiz. Duas bombas caseiras, como granadas, preparadas para causar danos, e um carro cheio de fogos de artifício e bombas, explodidos com um controle remoto.
Já na casa alugada por Luiz em Ceilândia, além de vários artefatos não detonados, os investigadores encontraram escrito no espelho do banheiro.
"Débora Rodrigues. Por favor, não desperdice batom!! Isso é para deixar as mulheres bonitas!!! Estátua de merda se usa TNT".
Uma mensagem em referência aos ataques golpistas de 8 de janeiro, quando Débora Rodrigues vandalizou com batom a estátua da Justiça em frente ao Supremo. Símbolo da icônica praça, contra a qual o próprio Luiz atacou antes de morrer.
Pouco antes do ataque, o agressor havia enviado mensagens no Whatsapp avisando as forças de ordem que teriam "72 horas para desarmar a bomba na casa dos comunistas". Nas postagens, ele havia indicado alvos como o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e os ex-presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso.
"Cuidado ao abrir gavetas, guarda-roupas, estantes e armários. O jogo termina no dia 16 de novembro de 2024. Boa sorte".
Todos os textos, aqueles encontrados pelos investigadores nos perfis sociais de Luiz, que além de uma boa dose de loucura, indicam seu pertencimento a círculos de extrema direita. Por outro lado, o agressor natural de Rio do Sul, cidade do estado de Santa Catarina, concorreu em 2020 como candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL), força política do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ex-chefe de Estado de direita, que com este caso vê desaparecer a possibilidade de qualquer amnistia e acabar definitivamente com o sonho de reabilitação para as eleições presidenciais de 2026, tentou minimizar o incidente, chamando-o de "um caso isolado de uma pessoa com doença mental".
Mas o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, que acompanhou os acontecimentos na noite de quarta-feira ao lado do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, esclarece: foi "um ato terrorista, uma ação muito grave, uma tentativa de homicídio inaceitável". .