Advogado de Pinto Molina diz que envio de comissão torna o caso político
O envio de uma comissão ministerial boliviana ao Brasil para tratar a situação do senador opositor Roger Pinto Molina, que saiu de seu país sem o devido salvo-conduto, torna o caso político e não jurídico, afirmou nesta quinta-feira o advogado do parlamentar, Fernando Tibúrcio.
O governo de Evo Morales confirmou que três ministros bolivianos se reunirão amanhã com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e com o advogado da Advocacia-Geral da União (AGU), Luis Inácio Adams, para tratar o caso.
A missão ministerial boliviana, que entregará ao governo brasileiro os documentos dos processos judiciais contra Molina, é integrada pelos ministros Carlos Romero (Presidência), Nardi Suxo (Transparência Institucional e Luta contra a Corrupção), Cecilia Ayllón (Justiça) e membros do Ministério Público.
"Não temos preocupação alguma com a chegada dessa missão de alto nível, pois isso só confirma que o assunto é tratado de maneira política, afinal há três ministros no grupo, além de integrantes do Ministério Público", declarou Tibúrcio em entrevista à Agência Brasil.
"É bom que todos venham para o Brasil e tragam os documentos que, na verdade, comprovam a inocência do senador", acrescentou o advogado.
Tibúrcio se referiu também à retenção em um aeroporto boliviano do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Luis Vásquez, outro dos advogados de defesa de Molina.
Vásquez foi retido durante várias horas no aeroporto de Santa Cruz de la Sierra quando viajava para o Brasil porque, segundo as autoridades, levava em sua bagagem selos diplomáticos sem a devida autorização legal.
"A retenção do advogado Vásquez Villamor é uma demonstração clara que o caso do senador é tratado como uma questão política. É um absurdo um advogado ficar retido no aeroporto. Isso não pode ocorrer em situação alguma. É um insulto", declarou Tiburcio.
No último dia 23 de agosto Molina fugiu ao Brasil da embaixada brasileira em La Paz, onde esteve como asilado diplomático durante quase 15 meses.
O senador saiu da Bolívia sem o salvo-conduto necessário de parte do governo do presidente Morales e com ajuda de funcionários da legação brasileira.
O fato provocou uma pequena crise diplomática entre os países, que provocou a queda do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, embora Morales já tenha dado por superado esse conflito, após reunir-se na semana passada com a presidente Dilma Rousseff.
O senador opositor assegura que é um perseguido político por ter denunciado supostos vínculos de funcionários com o narcotráfico, mas o Executivo boliviano rejeita essa versão e argumenta que Molina tem contas pendentes com a Justiça por corrupção.
Senador boliviano causa crise diplomática
Roger Pinto Molina, um inflamado opositor do governo de Evo Morales, estava na embaixada brasileira em La Paz desde 28 de maio de 2012. O governo brasileiro concedeu asilo político ao senador dez dias depois, mas o parlamentar não podia deixar seu país, pois a Bolívia não deu a ele um salvo-conduto, alegando que Roger Pinto responde a vários processos por corrupção.
No dia 23 de agosto de 2013, no entanto, o senador fugiu da embaixada em um carro oficial escoltado por fuzileiros navais e foi até Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Nesta cidade, foi recebido por agentes da Polícia Federal e, de lá, seguiu até Brasília em um avião privado enviado pelo senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que o esperou no aeroporto na madrugada do dia 25. Ferraço foi quem deu os primeiros detalhes sobre a saída de Roger Pinto da Bolívia, que para o governo de Evo Morales nada mais foi do que a "fuga" de um "criminoso comum".
Ao saber da situação, o então ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota, anunciou que o caso seria "investigado", seriam tomadas "as medidas administrativas e disciplinares" correspondentes e convocou para consultas o encarregado de negócios na embaixada em La Paz, Eduardo Saboia. O funcionário chegou a Brasília no dia 26 e, no aeroporto, disse a jornalistas que tinha "ajudado" o senador por razões humanitárias.
"Tomei a decisão porque havia um risco iminente para sua vida e uma ameaça à dignidade de uma pessoa", declarou Saboia, que assumiu a responsabilidade sobre o caso e disse que tinha optado "pela vida" e por "proteger" um "perseguido político".
Visivelmente contrariada pelo episódio, a presidente Dilma Rousseff aceitou na noite de 26 de agosto o pedido de demissão do chanceler Antonio Patriota, que foi substituído pelo representante do Brasil na ONU, Luiz Alberto Figueiredo Machado.
No dia seguinte, Dilma demonstrou irritação com a operação, que, segundo ela, colocou em risco a vida do diplomata e do senador boliviano. "O Brasil não poderia colocar em risco a vida de uma pessoa que estava sob a sua guarda", afirmou Dilma, em relação à ausência de garantia de um salvo-conduto por parte do governo da Bolívia. "Um Estado democrático e civilizado, a primeira coisa que faz é proteger a vida sem qualquer outra consideração. Protegemos a vida e a segurança e garantimos conforto ao asilado", criticou. "Se nada aconteceu, não é a questão. Poderia ter acontecido."