AM: laboratório de holograma deve atender ribeirinhos
Tecnologia transmite via satélite, em tempo real, imagens tridimensionais de um objeto ou pessoa. Como os dois lados se enxergam, permite, inclusive, que o examinador peça para o paciente se aproximar ou mostrar melhor alguma lesão
Poderia ser uma cena de Star Wars. Mas, em cerca de um ano, deve acontecer em comunidades ribeirinhas da Amazônia. Por meio da holografia, ou a transmissão de imagens tridimensionais em tempo real, os moradores da região devem receber cuidados médicos para diagnosticar, orientar e supervisionar tratamentos a distância.
Por enquanto, só a primeira parte do projeto está pronta - no último dia 10, foi inaugurado o primeiro laboratório holográfico do País, instalado no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Centro de Referência em Assistência à Saúde do Idoso e Serviço de Geriatria (Crasi). O projeto é parte do Programa Telessaúde e do Acordo de Cooperação Técnica, Acadêmica e Científica entre a UFF e a Marinha do Brasil.
Na inauguração do laboratório foi feita a primeira simulação de um atendimento. Para funcionar realmente, é preciso instalar tanto o laboratório do emissor quanto do receptor. A coordenadora técnica do projeto, Jamaci Lima, conta que os testes e pesquisas necessários para fazer a tecnologia funcionar acontecem há três anos e esta é apenas a primeira fase do projeto. Para completar a fase inicial, foram investidos cerca de R$ 500 mil para a montagem da sala, por parte da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
O coordenador acadêmico do programa, Licínio Esmeraldo Da Silva, explica que o atendimento por meio da holografia pode auxiliar no diagnóstico de doenças neurocognitivas como o Alzheimer, além de estabelecer condutas terapêuticas a distância. Mas os usos podem ir além. “Mais adiante, como a Marinha faz missões em outros países, a tecnologia pode auxiliar o intercâmbio na área de saúde com o exterior. Ou até ser utilizado por nossos pesquisadores baseados na Antártida. Estamos estudando a possibilidade”, conta. O professor garante que a holografia é eficiente o suficiente para ser utilizada na medicina. “Ela dá todas as condições de se fazer um atendimento médico e chegamos a essa conclusão por meio de testes e estudos anteriores.”
Para o vice-almirante da Marinha do Brasil e presidente da Fundação de Pesquisa dos Amigos do Hospital Naval Marcílio Dias, também parte do projeto, Edson Baltar da Silva, a utilização da tecnologia avançada em transmissão de imagens é importante para a medicina por permitir que o médio auxilie as populações remotas em tempo real. “As imagens holográficas são muito claras e permitem uma visão detalhada da situação do paciente. Se o médico da região remota precisar de uma orientação de um setor com maiores recursos, como os dois hospitais envolvidos, a holografia supre essa necessidade. Existem imagens transmitidas a distância atualmente, mas não com a qualidade e interatividade da holografia”, afirma.
A tecnologia transmite via satélite, em tempo real, imagens tridimensionais de um objeto ou pessoa por meio de de um ponto gerador do sinal, que passa as imagens para o ponto receptor. Os ambientes precisam estar equipados com iluminação e câmeras especiais, além de computadores apropriados para receber a transmissão. Como os dois lados se enxergam, a tecnologia permite, inclusive, que o examinador que está a distância peça para o paciente se aproximar ou mostrar melhor alguma lesão e interaja com ele para tirar dúvidas. Além da unidade que já está funcionando na UFF, ainda serão instaladas câmaras de holografia no Hospital Naval Marcílio Dias e nos navios hospitais que atuam na Amazônia, prestando atendimento à população ribeirinha.
Da Silva explica que para a Marinha, o leque de utilidades que a tecnologia pode ter no futuro é grande. “O paciente ribeirinho que a Marinha atende tem características de múltiplas patologias. A holografia permite o desenvolvimento de uma série de trabalhos, incluindo a análise e captação de dados de saúde na Região Norte, que teremos quando a parte tecnológica estiver pronta”, adianta. Ele informa que a Marinha está estudando qual seria o próximo passo no projeto, se as próximas câmaras holográficas serão instaladas no hospital naval, que já tem uma área definida para abrigar a tecnologia, ou nos navios hospitais.
Apesar da perspectiva de avanço para a medicina brasileira que a tecnologia traz, segundo Jamaci, não há previsão para o início dos atendimentos aos ribeirinhos. Ela informou que após prestar contas à Faperj sobre a primeira fase do programa, poderá ser feita nova licitação para dar seguimento às fases seguintes, mas sem estimativa do valor necessário. “Esperamos que dentro de um ano a população já possa ser atendida por meio da holografia. Isso será possível dependendo da possibilidade de verba disponível”, diz.