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Anitta apoia Lula: qual é o peso do voto de celebridades na eleição

Assim como a cantora, outras personalidades já declararam voto no pré-candidato petista. Do outro, o cantor Gusttavo Lima e mais influenciadores afirmam apoiar o presidente Jair Bolsonaro. Qual é o efeito disso sobre o eleitor?

12 jul 2022 - 15h46
(atualizado às 19h25)
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Anitta disse que apoia Lula nestas eleições e que dará apoio irrestrito à campanha
Anitta disse que apoia Lula nestas eleições e que dará apoio irrestrito à campanha
Foto: EPA / BBC News Brasil

O apoio à campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), feito pela cantora Anitta, causou um alvoroço nas redes sociais na segunda-feira (11/7) e ficou no topo dos assuntos mais comentados do Twitter no Brasil.

Do outro lado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem o apoio declarado de celebridades como o cantor Gusttavo Lima e o jogador de vôlei Maurício Souza.

Mas qual o peso do apoio destas personalidades nas eleições? A BBC News Brasil ouviu cientistas políticos para entender se eles podem fazer a diferença nas urnas.

Os entrevistados afirmam que, sozinhos, esses apoiadores não são capazes de mudar o resultado. Mas são figuras com milhões de seguidores nas redes sociais e, por isso, são relevantes para a construção do eleitorado.

Somando Instagram (62,9 milhões), TikTok (20,3 milhões) e Twitter (17,6 milhões), Anitta tem mais de 100 milhões de seguidores. Nas mesmas redes sociais, Gusttavo Lima soma mais de 75 milhões — 43,7 milhões apenas no Instagram.

Claro que muitos dos seguidores se repetem entre estas redes, mas ainda assim isso dá uma medida do grau de influência que personalidades assim têm.

Ao lado de Lula, ainda aparecem nomes como o youtuber Felipe Neto e os cantores Mano Brown, Ludmilla, Pabllo Vittar e Chico Buarque.

Enquanto Bolsonaro conta com o apoio de diversos sertanejos, como Zé Neto e Sérgio Reis, além de jogadores de futebol como Ronaldinho Gaúcho e Felipe Melo.

Professor de Ciência Política na ESPM, Paulo Ramirez diz que a relevância desses famosos cresceu de maneira significativa junto com o papel cada vez mais decisivo da internet nos últimos anos, demonstrado nas últimas eleições em diversos países.

"No Brasil, em 2018, as redes estavam tomadas por bolsonaristas. Mas, desde então, os movimentos de esquerda tiveram tempo para aperfeiçoar suas estratégias e aumentar sua força nas redes", afirma.

Ele cita como um efeito disso a ida para o segundo turno de Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, nas últimas eleições municipais.

'O neutro não existe'

Ramirez afirma que toda figura pública, seja ela artista, jogador de futebol ou mesmo um pensador, exerce uma influência política.

"Até mesmo mesmo os que dizem não querer influenciar ninguém, acabam exercendo um papel político. Um exemplo é a cantora Elba Ramalho, que foi criticada depois de parar um show para condenar uma manifestação pró-Lula. Não existe neutralidade. Sempre tomamos partido, inclusive quando somos neutros", afirma.

Para ele, os atos desses influenciadores têm um peso importante, porque eles muitas vezes são vistos como exemplos por seus seguidores, principalmente os mais jovens.

"Até pouco antes de março, os cartórios eleitorais registravam recordes negativos de registros de novos títulos. Mas, no instante em que a Anitta e outros artistas iniciaram uma campanha para que as pessoas de 16 a 18 anos tirassem o documento, esse recorde foi invertido, e quase 3,5 milhões de adolescentes tiraram o documento.

"Como os defensores do Lula manifestaram esse desejo de atrair os jovens, a expectativa é que a maior parte desses votos seja para ele", diz.

Segundo ele, os mais jovens são mais influenciados pelas redes porque fogem dos meios tradicionais para se informar, como os jornais e as propagandas eleitorais, "que só mostram o lado bonito".

O professor explica que, ao mesmo tempo, o eleitorado com mais de 35 anos não é composto por "nativos virtuais" — aqueles que já nasceram com computador em casa — e são menos impactados pelos influenciadores.

Pablo Ortellado, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP) e que pesquisa como temas políticos são difundidos nas discussões de redes sociais, avalia que esses influenciadores atuam como um exército digital dos políticos.

"Eles são importantes no âmbito da disputa digital, mas não é possível dizer que são capazes de desequilibrar a disputa. É muito difícil determinar isso. Um peso eles têm, mas o tamanho a gente não sabe", afirma Ortellado.

O pesquisador da USP diz que, devido ao fato desses influenciadores falarem com muita gente, o empenho desses famosos pode favorecer os políticos, que por isso cortejam tanto o apoio dos influenciadores.

Mas Ortellado ressalta, no entanto, que nenhum apoio determina o resultado das eleições, e que o mais importante na disputa é criar um apoio definido em determinados meios sociais.

"O meio do teatro é muito lulista, por exemplo. Então, quando você vai a um show ou teatro, vai ter manifestação nesse sentido. Isso deixa o bolsonarista que está lá muito desconfortável e é mais relevante que o apoio do Chico Buarque de maneira isolada. O mesmo acontece no humor e sertanejo para o Bolsonaro", explica.

Ortellado afirma que o que faz a diferença para Bolsonaro não é um humorista específico, mas sim ter dominado a maior parte desse campo para que isso cause um apelo e incômodo nas demais pessoas que frequentam aquele espaço. O mesmo serve para as redes sociais. Algo que é considerado mais difícil.

Pablo Ortellado aponta que as pesquisas mostram que os mais jovens estão votando à esquerda, enquanto o bolsonarismo predomina entre os mais velhos.

Apoiador de Bolsonaro, Gusttavo Lima tem mais de 75 milhões de seguidores somando TikTok, Instagram e Twitter
Apoiador de Bolsonaro, Gusttavo Lima tem mais de 75 milhões de seguidores somando TikTok, Instagram e Twitter
Foto: Divulgação / BBC News Brasil

Em redes sociais, isso significa, segundo ele, que o TikTok tem mais jovens e, consequentemente, mais eleitores de esquerda. Enquanto o Facebook tem mais interações entre os mais velhos, o que favorece a direita.

"Essa briga do digital não é pelos mais jovens, mas pelo eleitor no geral porque a maior parte dos eleitores brasileiros usam as redes. A exceção são os pobres que moram em lugares remotos", afirma Ortellado.

Estrela global

O cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antonio Teixeira afirma que o fato dessa publicação da Anitta ter atingido o topo dos assuntos mais comentados do Twitter demonstra a importância dela.

"A gente tem que considerar que a Anitta não é uma influencer qualquer. Ela ganhou holofotes e é praticamente uma estrela global. Há tempos, ela vem ganhando o debate público e polarizando com o bolsonarismo. Por conta da morte (de um lulista) no Paraná, ela resolveu se posicionar, e isso tem um efeito enorme no debate público", diz Teixeira.

O professor da FGV afirma que, aliado a outros fatores, o peso da opinião dos influenciadores é vital para as campanhas políticas.

"Mas não é um influencer que vai reverter a imagem de um político. No fim das contas, as pessoas votam mais pela barriga e pelo bolso. O que eles ajudam é a dar uma relevância ao debate e as pessoas a terem elementos. As pessoas não vão votar porque a Anitta pediu, mas ela com certeza pode somar mais um ponto no processo."

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62130784

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