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Apesar de 1ª queda em 4 anos, Brasil continua com juros reais mais altos do mundo

19 out 2016 - 18h41
(atualizado às 18h48)
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Foto: Agência Brasil

Apesar da primeira queda em quatro anos, o Brasil continua praticando os juros reais (descontada a inflação) mais elevados do mundo, à frente de países como Argentina e Venezuela.

Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, por unanimidade, reduzir em 0,25 ponto percentual a Selic, a taxa básica de juros, de 14,25% para 14% ao ano. Foi o primeiro corte desde outubro de 2012. A queda está em linha com as expectativas do mercado.

"Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 14% a.a., sem viés", informou o BC em nota à imprensa.

"O Comitê entende que a convergência da inflação para a meta para 2017 e 2018 é compatível com uma flexibilização moderada e gradual das condições monetárias. O Comitê avaliará o ritmo e a magnitude da flexibilização monetária ao longo do tempo, de modo a garantir a convergência da inflação para a meta de 4,5%", acrescentou o comunicado.

A Selic serve de referência para as demais taxas de juros da economia, como as que envolvem empréstimos bancários ou títulos públicos. A taxa é o principal instrumento usado pelo BC para controlar a política monetária, aquecendo ou desaquecendo a atividade econômica.

Mas, segundo levantamento da consultoria brasileira Infinity Asset, mesmo com o corte de 0,25 ponto porcentual, o Brasil ainda ocupa a liderança entre os maiores pagadores de juros reais do mundo (8,49%) ─ ou seja, descontadas as projeções médias de inflação futura.

Rússia (4,27%), Colômbia (3,61%), Argentina (2,55%), China (2,30%), México (1,35%), África do Sul (1,13%), Índia (0,95%) e Indonésia (0,48%) completam o topo da lista.

Países como Argentina ou Venezuela, por exemplo, embora tenham taxas de juros nominais mais altas (26,75% e 21,99%, respectivamente), também apresentam índices de inflação maiores do que no Brasil. Assim, os juros reais (ou seja, descontados a inflação futura) pagos por essas nações acabam sendo menores.

Um exemplo: imagine que você aplique 100 hoje. Após um ano, o valor nominal resgatado seria de 114 no Brasil e de 126,75 na Argentina. Mas, se descontarmos a inflação projetada para o período (que corrói o poder de compra do dinheiro), o valor real seria, na prática, de 108,49 e 102,55, respectivamente.

Segundo a Infinity Asset, somente um corte de 4,75 ponto porcentual retiraria o país da posição atual.

Causas

Segundo economistas consultados pela BBC Brasil, a decisão do Copom de reduzir os juros pela primeira vez em quatro anos resulta, principalmente, do enfraquecimento da atividade econômica, aliado a uma menor pressão inflacionária.

Indicadores econômicos divulgados recentemente sustentam essa avaliação. As vendas ao varejo, por exemplo, apresentaram queda de 0,6% em agosto ante julho. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a contração foi maior, de 5,5%.

Quando maiores os juros, menos propensos os consumidores se sentem para gastar, deixando de contrair empréstimos no banco, por exemplo, devido às altas taxas que têm de pagar.

Já o empresariado prefere manter o dinheiro parado em aplicações a investi-lo (ora comprando novas máquinas ora contratando empregados de modo a elevar a produção), já que a remuneração do capital é mais atraente.

Tudo isso gera impacto negativo na economia. É por isso que entidades como a Fiesp (Federação de Indústrias do Estado de São Paulo) normalmente defendem redução dos juros como forma de retomar o crescimento.

"Houve uma descompressão do item alimentação, um dos principais motores para o aumento da inflação, devido à estabilidade climática. Já a valorização do real reduziu o preço dos importados", diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

"Com o enfraquecimento da economia e o aumento do desemprego, a alimentação fora de casa foi outro componente da inflação que caiu", acrescenta.

Além disso, a redução dos preços da gasolina e do diesel nas refinarias, anunciada pela Petrobras na última sexta-feira, também deve aliviar a inflação neste ano.

Os especialistas lembram ainda que o apoio majoritário do Congresso à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) número 241, que limita os gastos públicos, transmite uma mensagem de "estabilidade política", abrindo espaço para uma maior queda dos juros.

"Os juros têm de cair para a PEC ficar de pé, já que não adianta o governo querer frear os gastos se continuar remunerando segundo as taxas atuais", comenta André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, em referência ao pagamento dos juros da dívida pública.

Como fica o bolso do brasileiro?

Na avaliação dos economistas, o corte na Selic, apesar de tímido, é importante porque representa o início de um ciclo de redução da taxa de juros.

"Mas há alguns desafios pela frente, como, por exemplo, se haverá aumento da taxa de juros nos Estados Unidos", ressalva Perfeito, da Gradual Investimentos.

Um aumento da taxa de juros nos Estados Unidos tornaria os títulos do governo americano mais atraentes, causando fuga de capitais de países emergentes. Como resultado, o dólar tende a se valorizar, agravando a crise no Brasil.

Para o brasileiro comum, as consequências da redução da Selic só serão percebidas a médio e longo prazo, avaliam os economistas.

"A curto prazo, não haverá benefício substancial para o bolso do consumidor, dado que a redução é insignificante. O importante é a mensagem que o BC passa, ou seja, como vai ficar a curva dos juros", explica Perfeito.

"Isso, evidentemente, impacta decisões de investimento no futuro", acrescenta.

O corte dos juros, no entanto, mexe com a remuneração de aplicações ─ tanto de investidores que já têm dinheiro aplicado em rendimentos pós-fixados (quando o poupador não sabe qual será a taxa, que é determinada ao longo do período de investimento) quanto daqueles que ainda pretendem fazê-lo.

Fato é que as taxas no mercado de juros futuros, onde se negociam contratos para obter proteção contra flutuações, vêm caindo desde meados de setembro e muitos investidores já apostavam no corte da Selic antes mesmo da decisão anunciada pelo Copom.

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