Após Macron, Bolsonaro agora acusa Bachelet de intromissão
Chefe de direitos humanos da ONU apontou aumento expressivo no número de mortes cometidas pela polícia no Rio e em São Paulo
O presidente Jair Bolsonaro acusou a chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, de se intrometer na soberania e nos assuntos internos do Brasil. A declaração, nesta quarta-feira (4), ocorre após a ex-presidente do Chile apontar um aumento da violência policial e uma redução do espaço cívico e democrático no País.
Segundo Bolsonaro, Bachelet segue a mesma linha do presidente da França, Emmanuel Macron, com quem o líder brasileiro travou um embate sobre questões ambientais em decorrência de críticas do mandatário francês sobre o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia.
"Michelle Bachelet, comissária dos Direitos Humanos da ONU, seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares", escreveu Bolsonaro em publicação nas redes sociais.
"Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época", acrescentou Bolsonaro, fazendo referência ao ano de início da ditadura militar chilena que governou o país com mão de ferro até 1990.
As afirmações de Bolsonaro foram uma resposta a declarações dadas mais cedo nesta quarta-feira por Bachelet em entrevista coletiva em Genebra, em que a ex-presidente chilena apontou um aumento expressivo no número de mortes cometidas pela polícia no Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente contra negros e moradores de favelas, além de uma "diminuição do espaço cívico e democrático" no País.
"Temos visto um aumento marcado na... violência policial em 2019 em meio a um discurso público que legimita execuções sumárias e a uma ausência de responsabilização. Também estamos preocupados com algumas medidas recentes como a desregulamentação das regras de armas de fogo, e propostas de reformas para reforçar o encarceramento e levando à superlotação de prisões, aumentando ainda mais as preocupações de segurança pública", disse.
"Obviamente, também é importante para nós quando ouvimos negações de crimes passados do Estado que se exemplificam com celebrações propostas do golpe militar, combinadas com um processo de transição jurídica que pode resultar em impunidade e reforçar a mensagem de que os agentes do Estado estão acima da lei e estão, na prática, autorizados a matar sem serem responsabilizados."
Bachelet foi presidente do Chile em duas oportunidades, de 2014 a 2018 e de 2006 a 2010. Ela assumiu o posto de alta comissária da ONU para os Direitos Humanos em setembro do ano passado.
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