Após referência a Goebbels, secretário de Cultura Roberto Alvim diz que semelhança com discurso nazista foi 'coincidência retórica'
'A frase em si é perfeita', escreveu Roberto Alvim, após dizer que é uma falácia associar a fala dele à do ministro de Hitler.
Depois de divulgar um vídeo que fez referência à fala de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda na Alemanha Nazista, o secretário da Cultura, Roberto Alvim, disse que se trata de uma "coincidência retórica". Em seguida, disse que "a frase em si é perfeita".
Um vídeo de Alvim divulgado pela Secretaria Especial de Cultura repercutiu nas redes sociais devido à semelhança com uma fala de Goebbels.
"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada", disse o brasileiro.
A frase foi comparada a um discurso de Goebbels reproduzido no livro 'Goebbels: a Biography', de Peter Longerich: "A arte alemã da próxima década será heróica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada".
A música utilizada no vídeo é a ópera Lohengrin, de Richard Wagner. Hitler era um amante de óperas e fã de Wagner. Na autobriografia 'Minha luta', ele descreve como assistir à obra wagneriana Lohengrin pela primeira vez, aos 12 anos de idade, foi uma experiência que mudaria sua vida.
Durante o Nazismo, obras de compositores judeus como Mendelssohn e Mahler foram banidos, e obras do compositor alemão Wagner foram promovidas —o que lhe rendeu grande popularidade.
Em perfil pessoal no Facebook, Alvim escreveu na manhã desta sexta-feira (17) o que chamou de "um breve esclarecimento". No texto, ele diz que "foi apenas uma frase do meu discurso na qual havia uma coincidência retórica" e diz que não citou Goebbels e "jamais o faria".
"Foi, como eu disse, uma coincidência retórica. Mas a frase em si é perfeita: heroísmo e aspirações do povo é o que queremos ver na Arte nacional", escreveu.
Alvim diz que "o que a esquerda está fazendo é uma falácia de associação remota" e que "é típico dessa corja".
No entanto, a associação foi vista com desconfiança inclusive por Olavo de Carvalho, considerado guru de parte dos integrantes do governo Bolsonaro. Ele escreveu: "É cedo para julgar, mas o Roberto Alvim talvez não esteja muito bem da cabeça. Veremos."
Horas depois, Olavo de Carvalho escreveu: "Ou o Alvim pirou, ou algum assessor petista enxertou a frase do Goebbels no discurso dele para assassinar sua reputação."
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu o afastamento de Alvim e disse que o secretário "passou de todos os limites".
"O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo", escreveu em sua conta no Twitter.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) informou, por meio de nota, que considera "inaceitável" o uso de discurso nazista por Roberto Alvim e pediu seu afastamento imediato.
"Emular a visão do ministro da Propaganda nazista de Hitler, Joseph Goebbels, é um sinal assustador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida. Goebbels foi um dos principais líderes do regime nazista, que empregou a propaganda e a cultura para deturpar corações e mentes dos alemães e dos aliados nazistas a ponto de cometerem o Holocausto, o extermínio de 6 milhões de judeus na Europa, entre tantas outras vítimas. O Brasil, que enviou bravos soldados para combater o nazismo em solo europeu, não merece isso. Uma pessoa com esse pensamento não pode comandar a cultura do nosso país e deve ser afastada do cargo imediatamente."
Denúncia sobre o Palácio do Planalto
O vídeo polêmico, que gerou muita repercussão nas redes sociais, foi divulgado em uma semana que o presidente Jair Bolsonaro enfrenta denúncias da imprensa a respeito de conflito de interesses dentro do governo.
Reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou que a empresa do titular da Secretaria Especial da Comunicação Social (Secom), Fábio Wajngarten, tem contratos em vigor com emissoras de televisão e agências de publicidade que recebem verbas do governo federal. A secretaria é responsável por direcionar os recursos de propaganda do Palácio do Planalto. A Secom disse se tratar de "mentira absurda, ilação leviana".