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Após suspeita de "operação abafa", governo discute trocas na cúpula da Abin

26 jan 2024 - 16h09
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O governo Lula discute nos bastidores trocas na cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) após a Polícia Federal ter levantado a suspeita de que o número 2 do órgão, o diretor-adjunto Alessandro Moretti, teria articulado para impedir o avanço das investigações sobre a chamada "Abin paralela", disseram nesta sexta-feira à Reuters duas fontes palacianas a par das tratativas.

De acordo com uma das fontes, o cargo do diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, também está em risco. A avaliação no Planalto é de que o delegado aposentado e ex-diretor-geral da PF não conseguiu ter o controle da instituição.

A operação deflagrada pela PF na quinta-feira, determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, teve como alvo principal o chefe da Abin na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), e investiga o suposto monitoramento ilegal de ministros do STF e outras autoridades por uma "Abin paralela" formada dentro da agência.

A PF apontou que haveria um "possível conluio" de parte dos investigados na operação com a atual direção da Abin, que teria causado prejuízo para a investigação, segundo relatório da corporação que consta em decisão de Moraes. O documento reproduzido por Moraes não cita nominalmente o chefe da Abin, mas faz uma série de referências ao número 2 da agência.

O relatório policial aponta, por exemplo, declarações de Moretti em reunião com investigados nas quais ele diz que a investigação da PF teria "fundo político e iria passar". O texto ressalva que isso "não é postura esperada de delegado de Polícia Federal que, até dezembro de 2022, ocupava a função de Diretor de Inteligência da Polícia Federal."

Uma fonte da PF envolvida diretamente nas investigações disse que o melhor cenário para garantir uma continuidade das apurações sem sobressaltos seria a saída do cargo de Moretti e também do diretor-geral da Abin.

Essa fonte disse que Moretti deve ser chamado a depor nos próximos dias para explicar seu eventual envolvimento na "Abin paralela".

A saída de Moretti é tida como praticamente certa, segundo duas fontes palacianas. A avaliação é que a situação dele seria insustentável, ainda mais diante do fato de ele ter ocupado importantes cargos durante a gestão Bolsonaro.

O diretor-adjunto da Abin trabalhou com o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres tanto na PF quanto na Secretaria de Segurança Pública do DF. No início do ano passado, Torres, que era secretário de Segurança Pública em Brasília, foi preso sob suspeita de ter facilitado os atos criminosos na Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.

Já a situação de Corrêa -- que foi diretor-geral da PF nas gestões Lula e Dilma, entre 2007 e 2011 -- ainda está sob análise, segundo as fontes. Uma das fontes palacianas afirmou que estão sendo analisados possíveis sucessores, mas o governo ainda não tem um nome que possa substituí-lo.

Procurada, a assessoria da Abin não respondeu de imediato a pedido de comentário sobre a possibilidade de troca de Moretti e também de Corrêa.

Na primeira fase da operação que investiga a Abin, em outubro passado, Moraes determinou o afastamento do então secretário de Planejamento de Gestão da Abin, Paulo Maurício Fortunato, espécie de número 3 da agência. Outros servidores da instituição, inclusive policiais federais cedidos à agência, também estão sob investigação.

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