Artistas criam painel em homenagem ao bonde de Santa Teresa
O bondinho de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, que completou 120 anos de existência em 2016, ganhou neste sábado (4) mais de 90 mosaicos de artistas brasileiros e estrangeiros. Eles foram instalados em um muro de cerca de 20 metros na Rua Paschoal Carlos Magno, uma das vias que eram percorridas pelo bonde antes do acidente que levou à paralisação do meio de transporte em 2011. O funcionamento do bondinho foi retomado em 2015, embora ainda com trajeto parcial.
A ideia partiu da artista plástica e mosaicista Andrea Aires Imbiriba, preocupada em fortalecer a importância do bonde como patrimônio legítimo do bairro carioca. Sem contar com patrocínio, ela conseguiu mobilizar os artistas através das redes sociais, para que criassem diferentes versões do bondinho.
"Trabalhar esse tema é dar mais vivacidade à importância do bonde enquanto patrimônio cultural. A poesia se perde quando o bondinho não circula", ressaltou Andreia, para quem o mural será um registro de memória e também um apelo para que o veículo volte a percorrer todas as ladeiras do bairro por onde passava anteriormente. "A repercussão do projeto foi grande e hoje temos aqui bondinhos criados por mais de 90 participantes, do Brasil e de outros países, principalmente Argentina e México", destacou.
O muro onde foram instalados os mosaicos pertence à residência do empresário Hans Rauschmeyer, pioneiro no Rio de Janeiro no uso de energia solar e que, ao ser procurado pela idealizadora do projeto, aplaudiu a iniciativa. "A sustentabilidade é um fundamento motor da vida e da minha casa aqui. O que me faltava era a arte, que é um outro motor para a vida. Fiquei muito agradecido com essa proposta da Andreia. Adoro Santa Teresa, adoro o bonde e quero essa arte invadindo o bairro", disse.
Mosaicista há dois anos, a carioca Ana Sales fez de seu trabalho uma homenagem ao sogro, Deoclécio Luna, falecido em 1993, que foi condutor do bonde de Santa Teresa. "Eu não o conheci, mas fiz um bonde sertanejo, porque ele era pernambucano. O meu bondinho está com chapéu de couro, cactos. Fico muito feliz de estar aqui, é o primeiro movimento de que participo", contou.
Natural de Santos (SP), Vera Gonçalves atendeu à convocação para participar da criação coletiva, semelhante às do grupo Mosaico Paulista, do qual ela participa. "O mosaico nasceu para mim depois de uma depressão, quando eu vi que juntando os caquinhos eu pude juntar também os meus caquinhos internos. O mosaico alegra as pessoas, é uma união de cores", definiu.
As obras foram feitas em cacos de azulejos, ladrilhos ou pastilhas coloridos, e em formato A4. Muitos participantes enviaram seus trabalhos já montados e 26 artistas cuidaram da instalação.
Andreia Imbiriba vê na intervenção urbana um caminho para a difusão do mosaico. "É uma arte com mais de 3 mil anos de história e permanece muito viva, mas assim como acontece com o grafitti, não tem espaço em galerias. A ideia é de que a gente consiga outros muros na cidade para instalar os mosaicos, sempre trabalhando com temas que tratem da cultura e da valorização e do resgate das nossas memórias", defendeu.