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As novas revelações sobre participação de Braga Netto na tentativa de golpe

Polícia Federal prendeu preventivamente o general da reserva neste sábado após acusações de tentativa de obstrução das investigações.

15 dez 2024 - 07h52
(atualizado às 08h11)
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O ministro da Defesa, Braga Netto, durante a cerimônia militar de promoção de Graduados do Quadro Especial de Sargentos (QESA), na Base Aérea de Brasília, em 2022
O ministro da Defesa, Braga Netto, durante a cerimônia militar de promoção de Graduados do Quadro Especial de Sargentos (QESA), na Base Aérea de Brasília, em 2022
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / BBC News Brasil

O depoimento do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid, no último dia 21 de novembro, trouxe novos elementos sobre a atuação do general Walter Souza Braga Netto no planejamento de um golpe de Estado.

Candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022 e ministro da Casa Civil e da Defesa do ex-presidente, Braga Netto foi preso preventivamente neste sábado (14/12).

Segundo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a prisão, o general teria tentado obter dados sigilosos da delação de Mauro Cid. Tal ação foi caracterizada como ação de obstrução da Justiça, ao "impedir ou embaraçar as investigações em curso"

Braga Netto nega as acusações de que é alvo no inquérito sobre a tentativ de golpe de Estado. A defesa do militar divulgou nota oficial após a prisão dele no sábado, afirmando que "se manifestará nos autos após ter plena ciência dos fatos" e que acredita que terá "oportunidade de comprovar que não houve qualquer obstrução às investigações".

Mas a decisão de Moraes sobre a prisão preventiva de Braga Netto, que teve seu sigilo levantado, também traz trechos da delação de Mauro Cid que até então não eram de conhecimento público.

No documento, Moraes ressalta que, no depoimento prestado em 21 de novembro, do ex-ajudante de ordens "trouxe novos fatos relacionados ao financiamento das ações de forças especiais pelo investigado Walter Braga Netto".

Também segundo o relatório, o ex-ministro da Defesa teria obtido e entregado recursos para a operação Punhal Verde e Amarelo, que tinha como objetivo o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio ministro Alexandre de Moraes.

A ação ocorreria como um desdobramento do golpe de Estado em 2022, caso ele fosse consumado.

Em seu depoimento, Mauro Cid afirmou que Braga Netto repassou dinheiro em "uma sacola de vinho" ao então major Rafael de Oliveira, integrante dos chamados "kids pretos" preso na Operação Contragolpe, em fevereiro deste ano.

Os fundos serviriam para o financiamento das despesas necessárias à realização da operação, segundo Cid.

Também de acordo o delator, Braga Netto teria dito aos militares que o dinheiro "havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio". No trecho do depoimento revelado pelo ministro do STF não há informação sobre quem seriam os doadores nem qual valor teria sido entregue.

Diante das novas evidências, Moraes afirma que "há fortes indícios e substanciais provas de que, no contexto da organização criminosa, o investigado Walter Braga Netto contribuiu, em grau mais efetivo e de elevada importância do que se sabia anteriormente, para o planejamento e financiamento de um golpe de Estado" e da prisão e possível execução de autoridades.

Ainda segundo o ministro do STF, o ex-companheiro de chapa de Bolsonaro teve "gravíssima participação" nos fatos investigados, exercendo "papel de liderança, organização e financiamento".

Cid fez novas revelações

O relatório do ministro Alexandre de Moraes também traz um trecho que indica mudanças nas informações reveladas por Cid em seu depoimento de 21 de novembro, no STF, em relação ao que ele havia dito na oitiva realizada em 11 de março deste ano na sede da Polícia Federal, em Brasília.

O magistrado cita a representação da PF que pede a prisão de Braga Netto. No inquérito, a Polícia afirmou que Cid apresentou depoimentos "dissonantes" sobre reuniões realizadas entre militares após a eleição de Lula em 2022.

A principal delas foi a que ocorreu na casa de Braga Netto, em Brasília, no dia 12 de novembro de 2022.

Além de Cid e Braga Netto, também participaram da reunião o major Rafael Martins de Oliveira, das Forças Especiais do Exército, e o tenente-coronel Helio Ferreira Lima.

O primeiro foi indiciado por integrar os "kids pretos", militares de elite suspeitos de planejar um golpe de Estado em 2022 para impedir a posse de Lula e atacar o STF. O segundo, por participar do plano "Copa 2022", para monitorar Moraes.

De acordo com a PF, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, apresentou novas informações sobre reuniões realizadas entre militares após a eleição de Lula em 2022
De acordo com a PF, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, apresentou novas informações sobre reuniões realizadas entre militares após a eleição de Lula em 2022
Foto: EPA / BBC News Brasil

Apenas no depoimento de 21 de novembro de 2024 Mauro Cid revelou que Braga Netto entregou o dinheiro para financiar a operação Punhal Verde e Amarelo ao major Rafael de Oliveira durante a reunião em Brasília.

Anteriormente, o tenente-coronel havia mencionado apenas uma primeira reunião na casa de Braga Netto, na qual, segundo ele, os militares pediram para tirar uma foto com Bolsonaro e "discutiram sobre a conjuntura nacional do país, a importância das manifestações, o pedido de intervenção militar", entre outros pontos relacionados ao "contexto do que estava acontecendo no país".

A mudança de versão na delação premiada foi um dos pilares da decisão do ministro Alexandre de Moraes que determinou a prisão de Braga Netto.

O magistrado também argumentou que o general da reserva teria tentado interferir nas investigações, ao tentar obter dados sigilosos do acordo de colaboração de Mauro Cid.

Ex-ministra da Defesa teria tentado interferir nas investigações, ao tentar obter dados sigilosos do acordo de colaboração de Mauro Cid, segundo PF
Ex-ministra da Defesa teria tentado interferir nas investigações, ao tentar obter dados sigilosos do acordo de colaboração de Mauro Cid, segundo PF
Foto: Agência Brasil / BBC News Brasil

Segundo a PF, as primeiras provas de tais ações foram encontradas no celular do pai do tenente-coronel, Mauro César Lorena Cid.

A PF afirma ainda ter apreendido na sede do PL em fevereiro, em mesa usada pelo coronel Peregrino, um documento com perguntas e respostas sobre a delação de Mauro Cid.

Segundo a Polícia, essa é mais uma prova de que o general da reserva teria tentado obter informações sobre a delação de Mauro Cid para "alterar a realidade dos fatos apurados, além de consolidar o alinhamento de versões entre os investigados".

Em sua decisão, Alexandre de Moraes também transcreve outro trecho da delação de Cid em que ele mesmo confirma a tentativa de Braga Netto de obter informações sobre sua colaboração.

No depoimento, Mauro Cid diz que não só o ex-ministro da Defesa, como outros intermediários, "tentaram saber o que eu tinha falado".

O delator também disse que o general procurou diretamente seu pai para pedir detalhes do que havia falado na colaboração premiada.

Na tarde de sábado, Braga Netto participou, por videoconferência, de uma audiência de custódia com um juiz instrutor do STF, onde corre a investigação. Após o procedimento de rotina, a prisão foi mantida.

Pouco depois, Bolsonaro se pronunciou sobre o caso através das redes sociais, sem mencionar o nome de Braga Netto.

"A prisão do General. Há mais de 10 dias o 'Inquérito' foi concluído pela PF, indiciando 37 pessoas e encaminhado ao MP [Ministério Público]. Como alguém, hoje, pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?", questionou o ex-presidente em postagem no X (antigo Twitter).

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