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As respostas de Bolsonaro às acusações de Sergio Moro

Presidente fez pronunciamento ao lado de ministros após o pedido de demissão do titular da pasta da Justiça.

24 abr 2020 - 18h55
(atualizado às 18h57)
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'Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para trocar o diretor [da Polícia Federal] ou qualquer outro que esteja na hierarquia do poder executivo', disse Bolsonaro
'Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para trocar o diretor [da Polícia Federal] ou qualquer outro que esteja na hierarquia do poder executivo', disse Bolsonaro
Foto: Carolina Antunes/PR / BBC News Brasil

Algumas horas depois que o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, deixou a pasta acusando Jair Bolsonaro de tentativa de interferência na autonomia da Polícia Federal, o presidente da República defendeu-se das acusações em um pronunciamento.

A seguir, compilamos algumas das frases mais importantes ditas por Moro, seguidas por respostas de Bolsonaro, dadas no fim da tarde desta sexta-feira (24/04):

Moro: "Passou a haver uma insistência (do presidente Jair Bolsonaro) pela troca do comando da PF. (...) Não é aceitável que se façam indicações políticas. E quando se começa a preencher cargos por questões político-partidárias, o resultado não é bom para a corporação."

Bolsonaro: "Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para trocar o diretor [da Polícia Federal] ou qualquer outro que esteja na hierarquia do poder executivo. É interferir na PF pedir a Sergio Moro que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? (...) Esperava, junto com o ministro, definir um nome para a instituição, ainda que pela lei essa seja uma prerrogativa exclusiva do presidente da república. Estou surpreso com o seu comportamento. Não se dignou a me procurar e preferiu uma coletiva de imprensa."

Moro: "Disse ao presidente que não tenho problema em trocar o diretor-geral da Polícia Federal, mas preciso de uma causa - seja insuficiente desempenho ou (o cometimento de) um erro grave. E o trabalho (de Mauricio Valeixo, diretor da PF exonerado por Bolsonaro) estava sendo bem feito. Não é uma questão de nome, porque temos outros bons nomes, de delegados competentes. O problema é a violação da promessa que eu tive, de ter carta branca."

Bolsonaro: "A PF de Sergio Moro se preocupou mais com quem matou Marielle (Franco) do que com quem tentou matar seu chefe supremo. Cobrei muito deles, interferi. (...) Será que é necessário implorar a Moro para que apurem quem mandou matar Jair Bolsonaro?"

Moro: "Estaria claro que haveria uma interferência política na Polícia Federal, que gera um abalo à credibilidade minha, mas também do governo. Ia gerar uma desorganização na Polícia Federal."

Bolsonaro: "Não tenho mágoa do sr. Sergio Moro. Hoje pela manhã 7 ou 8 deputados e governadores tomaram café comigo. Eu lhes disse: hoje vocês vão conhecer quem realmente não me quer na cadeira presidencial. Esse alguém não está no Judiciário nem no Parlamento. Vocês vão conhecê-lo às 11h (horário em que Moro fez seu pronunciamento). Se ele quer ter independência, poderia vir candidato em 2018. Agora, eu não posso conviver, ou fica difícil a convivência, com uma pessoa que pensa diferente de você."

Moro: "Busquei postergar essa decisão (de deixar o governo), sinalizando que poderia concordar (com a troca na PF). Mas cada vez mais me veio a sinalização de que isso seria um grande equívoco. Ontem, falei para o presidente que isso seria uma interferência política. 'Seria mesmo', ele falou. Mais de uma vez o presidente me disse que ele queria (no comando da PF) alguém do contato pessoal dele, com quem ele pudesse colher informações e relatórios de inteligência, e não é o papel da PF prestar esse tipo de informação. As investigações têm que ser preservadas. A autonomia da PF é um valor fundamental que temos que preservar. (...) Então quem (entra nessas condições), eu fico na dúvida se vai conseguir dizer não (a pedidos de interferência do presidente)."

Bolsonaro: "Conversando ontem com Moro, eu disse: tá na hora de por um ponto final nisso. Ele (Valeixo) está cansado, está fazendo o que pode no seu trabalho. Ele relutou e falou: 'mas o nome tem que ser o meu'. Vamos conversar. Porque tem que ser o dele e não possivelmente o meu? E o lembrei que a indicação é minha. A prerrogativa é minha. Quero um delegado, que eu sinta que eu possa interagir com ele. Porque não? Interajo com os homens da inteligência das Forças Armadas, interajo com a Abin. (...) Eu nunca pedi para ele o andamento de qualquer processo. Até porque, com ele, a inteligência perdeu espaço na Justiça."

Moro: "A exoneração (de Valeixo) eu fiquei sabendo pelo Diário Oficial. Não assinei esse decreto. Em nenhum momento isso me foi trazido, em nenhum momento ele (Valeixo) apresentou um pedido formal de exoneração. Sinceramente fui surpreendido."

Bolsonaro: "Mais de uma vez, Moro disse para mim 'Você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal'. Desculpe, mas não é por aí."

A troca na PF, segundo Moro, mostrou que "o presidente não me quer no cargo"
A troca na PF, segundo Moro, mostrou que "o presidente não me quer no cargo"
Foto: Ag Brasil / BBC News Brasil

Pelo Twitter, Moro fez a tréplica: "A permanência do diretor-geral da PF, Mauricio Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para minha nomeação ao STF. Aliás, se fosse esse meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do diretor-geral da PF."

Moro: "Eu não tinha como aceitar essa substituição, pela minha biografia como juiz em respeito à lei, ao Estado de Direito e à impessoalidade no trato das coisas com o governo. Não me senti confortável."

Bolsonaro: "Eu disse a alguns parlamentares: hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo próprio, com o seu ego, e não com o Brasil. (...) Hoje essa pessoa vai buscar uma maneira de botar uma cunha entre eu e o povo brasileiro. Isso aconteceu há poucas horas."

Moro: "Tenho que preservar minha biografia, mas acima de tudo tenho que preservar o compromisso que assumi inicialmente pelo próprio presidente, de que seríamos firmes no combate à corrupção, ao crime organizado e à criminalidade violenta. E o pressuposto necessário para isso é garantir a autonomia da PF contra interferências políticas."

Bolsonaro: "(Vou) dizer ao prezado ex-ministro Sergio Moro, o senhor disse que tinha uma biografia a zelar. Eu tenho o Brasil a zelar."

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