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Assassinato de vereadora eleva pressão sobre intervenção

15 mar 2018 - 14h27
(atualizado às 14h30)
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Com apelos por investigação e esclarecimento rápido, morte de Marielle, em plena ocupação militar no Rio, é um teste para a promessa do Exército de fazer funcionar as instituições policiais do estado.O assassinato da vereadora Marielle Franco, na noite de quarta-feira (14/03), no Rio de Janeiro, eleva a pressão sobre o trabalho do interventor federal no estado, o general Walter Souza Braga Netto. Com apelos por investigação e um esclarecimento rápido, o crime, que ocorre em plena intervenção, é um teste sobre a capacidade dos militares de fazerem funcionar as instituições policiais fluminenses.

Polícia isola a área do assassinato: cobrança por apuração rápida do crime
Polícia isola a área do assassinato: cobrança por apuração rápida do crime
Foto: DW / Deutsche Welle

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Marielle foi morta por volta das 21h30, na região central do Rio. Nove tiros foram disparados de um carro que, segundo os primeiros relatos, emparelhou com o veículo onde estava a vereadora. Quatro tiros acertaram a cabeça de Marielle e outros três, o corpo de Anderson Pedro Gomes, motorista, que também morreu.

Os criminosos não levaram nada das vítimas e, de acordo com a polícia do Rio, sabiam o local exato em que a vereadora se encontrava no veículo. Todos esses aspectos são indícios de uma execução.

"Não há dúvidas de que esse crime mostra que o circuito da violência no Rio de Janeiro está convicto de sua impunidade", diz Ignácio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. "Eles acreditam que haverá impunidade mesmo assassinando uma pessoa de tanta visibilidade como a Marielle."

Feminista e ativista do movimento negro, Marielle se destacava também por ser uma crítica da violência policial no Rio. Ela entrou para a política após uma "bala perdida" em confronto entre traficantes e policiais matar uma amiga em 2005, no Complexo da Maré, onde nasceu. A militância na área a levou ao cargo de relatora da Comissão de Observação da intervenção federal na Câmara dos Vereadores. Ela nem teve tempo de iniciar seu trabalho.

"Espero que o interventor tenha muito interesse em resolver o caso, pois esse crime joga uma sombra sobre o momento que estamos vivendo", avalia Cano. Para ele, a investigação deve ser "rápida" e "profunda".

Opinião semelhante tem Maria Laura Canineu, diretora da Human Rights Watch para o Brasil. Ela classifica o assassinato de Marielle como uma "tragédia para todo o movimento de direitos humanos" no país.

"Estamos diante de um teste para o modelo de policiamento que o Brasil escolheu", diz, em referência à intervenção decretada pelo presidente Michel Temer e apoiada por cerca de 70% da população, segundo pesquisas recentes. "É o momento de o interventor, que é um interventor militar, mostrar seu comprometimento no que diz respeito ao combate à impunidade."

Para ela, o general Braga Netto, e o secretário de Segurança Pública do Rio, o general Richard Nunes, nomeado por ele, têm a obrigação de promover uma investigação "rápida, transparente e que leve à responsabilização" dos criminosos.

"As autoridades precisam garantir que os responsáveis pela investigação, seja a Polícia Civil, ou eventualmente a Polícia Federal, tenham recursos disponíveis e possam conduzir a apuração de forma independente, para que a sociedade tenha uma resposta", diz.

"Sua morte é para mandar um recado"

A ONU no Brasil manifestou consternação com o assassinato da ativista dos direitos humanos e disse esperar rigor na investigação do caso e uma breve elucidação, com responsabilização pela autoria do crime. A Anistia Internacional também pediu uma investigação imediata e rigorosa do assassinato.

Ocupante de um gabinete vizinho ao de Marielle Franco, o vereador Tarcísio Motta, também do PSOL, diz que o Rio, e o Brasil, estão diante de um "atentado político". "É uma execução pelo trabalho que ela fazia, é um atentado à democracia", afirma ele. Motta diz que seu partido não teve notícias de ameaças a Marielle, mas compara seu assassinato ao de outros líderes ativistas na história recente do Brasil, como o ambientalista Chico Mendes, executado em 1988, e a religiosa Dorothy Stang, morta em 2005. "Sua morte é para mandar um recado", diz.

Motta afirma que o assassinato da relatora da comissão de observação da intervenção deveria fomentar um debate a respeito da forma como se combate a violência no Brasil. "Precisamos repensar como tratamos a segurança pública. Não dá mais para enxugar gelo e derramar sangue".

Segundo o vereador, o PSOL está em contato com o secretário Richard Nunes. "Esperamos da intervenção, assim como de todos os agentes públicos do Rio de Janeiro, que deem todo apoio a uma investigação rigorosa, para que a Polícia Civil possa responsabilizar os criminosos e, principalmente, os mandantes", diz.

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, afirmou que "a morte da vereadora não afeta a intervenção federal no Rio". Em notas, no entanto, os generais Braga Netto e Richard Nunes destacaram a preocupação com o caso. O primeiro, interventor federal, afirmou que acompanha o caso "em contato permanente" com Nunes. O secretário de segurança, por sua vez, informou que determinou ampla investigação ao chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa.

O Planalto vai acompanhar as investigações. O recém-criado Ministério de Segurança Pública colocou a Polícia Federal à disposição para auxiliar na investigação. O ministro Raul Jungmann já acionou a PF e irá ao Rio junto com o diretor do órgão, Rogério Galloro.

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