Associação: 25% dos acidentes de moto causados por cerol matam
- Fabiana Leal
Um passatempo aparentemente inocente e comum nas periferias das cidades brasileiras vem causando preocupação a quem passa a maior parte do dia sobre uma motocicleta. Linhas com cerol (mistura de caco de vidro e cola) usadas para soltar pipas causaram uma centena de acidentes no País nos últimos 12 meses e, destes, 25% foram fatais.
O levantamento é da Associação Brasileira de Motociclistas (Abram). De acordo com o presidente da associação, Lucas Pimentel, o último levantamento feito apontou que 50% dos acidentes deste tipo deixaram as vítimas em estado grave ou gravíssimo e outros 25% dos acidentes causaram danos leves.
Dados como esses levaram a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados (CCJ) a aprovar na última terça-feira um projeto de lei que torna obrigatória a instalação de antenas cortantes em motocicletas para proteger os condutores contra as linhas com cerol. A proposta ainda tem de ser apreciada pelo Senado para virar lei.
Os motociclistas que circulam próximo a rodovias, perto de comunidades mais simples, são os que correm mais riscos. É nesses pontos, segundo a Abram, que foram registrados a maioria dos acidentes com pipas com cerol nas linhas. Durante as férias escolares, os acidentes desse tipo também aumentam.
"Nas rodovias, os motocicletas andam em alta velocidade. Fizemos testes e verificamos que um fio corta uma corda grossa de nylon em 3 segundos. Imagina quando esse fio tem cerol. E, durante as férias, é o período em que as crianças dessas comunidades mais ficam em casa e mais soltam pipas", disse Leandro Jacob, proprietário da Jojafer Comércio de Peças e Acessórios para Motos.
A empresa de Santo André (SP) tem a patente de oito modelos de antenas e foi fundada em 2003, após o pai de Jacob, José, ter presenciado um grave acidente com linha de pipa envolvendo um motociclista.
São Paulo costuma liderar as estatísticas dos acidentes, mas Pimentel acredita que os números possam aumentar nos Estados do Norte e do Nordeste do País, já que a frota de motos está crescendo nessas regiões.
Projeto
As antenas, que não são item de fábrica em nenhum lugar do mundo, segundo a Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo), são instaladas na parte dianteira das motos, perto do painel de instrumentos. A associação informou que, atualmente, a decisão de colocar ou não a antena nas motos cabe à cada empresa.
O presidente da Abram acredita que a colocação da antena é uma medida importante porque a "ação é pequena, mas o benefício é muito grande". "A antena não elimina o risco do acidente com a linha de pipa, mas é o equipamento mais eficaz que existe".
De acordo com ele, muitos motociclistas sabem que deveriam usá-lo, mas, por comodidade, acabam deixando para depois e, muitas vezes, esquecem de colocá-lo. O preço dessas antenas varia entre R$ 3 e R$ 50, de acordo com Jacob.
"No início, ninguém utilizava esse equipamento. Vendíamos 10 peças por mês, como se fosse hobby. E aí fomos fazendo campanhas e colocando o nome da empresa embaixo (de cartazes e faixas), e as vendas foram aumentando. Hoje, a empresa vende, em média, 20 mil peças por mês", disse Jacob.
Essas antenas têm entre 65 e 70 cm de comprimento e são feitas de aço. Na extremidade superior, elas têm uma lâmina que só corta a linha. "A lâmina é protegida, só corta a linha e não machuca o dedo do motociclista. Ela foi projetada assim para evitar que o motociclista se machuque se cair sobre ela", afirmou Jacob.
*Colaborou Hermano Freitas