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Atentado a bomba prejudica retorno de Bolsonaro e aprofunda divisão política

O ataque, que resultou na morte do homem-bomba, não causou outras fatalidades

15 nov 2024 - 09h09
(atualizado às 09h30)
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Uma sequência de explosões na Praça dos Três Poderes fez o local ser isolado pela Polícia Militar. O corpo de um homem foi encontrado no local após os estrondos. Segundo o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, esse homem morreu em área próxima ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF)
Uma sequência de explosões na Praça dos Três Poderes fez o local ser isolado pela Polícia Militar. O corpo de um homem foi encontrado no local após os estrondos. Segundo o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, esse homem morreu em área próxima ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF)
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

O atentado a bomba sem sucesso ao Supremo Tribunal Federal na última quarta-feira deve reunificar Brasília contra o radicalismo de extrema-direita e afundar um possível retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro, que contesta a decisão judicial que o impede de concorrer a cargos públicos.

Mas essa resposta institucional também deve alimentar a crença de seus apoiadores de que eles estão sendo silenciados, polarizando ainda mais o país que vem presenciando um crescimento de violência política desde a ascensão de Bolsonaro em 2018, após décadas relativamente calmas.

O ataque, que resultou na morte do homem-bomba, mas não causou outras fatalidades, também coloca em foco o quanto o Supremo tornou-se perigosamente alvo da ira da extrema-direita, motivada por um profundo sentimento de que o tribunal procurou expulsá-la da arena política.

Como nos Estados Unidos, os dois lados do Brasil acreditam que a democracia está sob risco.

Os progressistas apontam para atos de violência como as bombas da última quarta-feira como um ataque direto às instituições democráticas do Brasil, enquanto a extrema-direita insiste que são essas mesmas instituições que estão manipulando a democracia contra ela.

Após as explosões, o ministro do STF Alexandre de Moraes reforçou a opinião de que o discurso de ódio da extrema-direita está ameaçando a democracia brasileira e estimulando a violência, argumentos utilizados por ele para silenciar alguns dos seus mais ferozes críticos nas redes sociais.

"O que ocorreu não é um fato isolado do contexto", disse Moraes na quinta-feira. "Foi se avolumando sob o falso manto de uma criminosa utilização da liberdade de expressão."

O ministro comparou o atentado a bomba aos atos de 8 de janeiro do ano passado na capital, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram a corte e as outras duas sedes de Poderes para protestar contra sua derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial.

"FIM DE PAPO"

As explosões de quarta-feira, que também detonaram um carro em um estacionamento do Congresso, parecem ter fortalecido um consenso no Congresso contra uma proposta de anistia para os participantes dos violentos protestos do ano passado.

Fontes graduadas de dois dos maiores partidos de centro no Congresso disseram que a proposta de anistia, que já estava perdendo força, agora parece morta.

"A possibilidade dessa proposta de anistia para o pessoal do 8 de janeiro, e por tabela o Bolsonaro, acabou -- fim de papo", disse André César, da consultoria Hold Assessoria Legislativa.

Até mesmo integrantes de uma direita não necessariamente bolsonarista acreditam que o ambiente ficou menos favorável para a proposta de anistia. O deputado Saullo Viana (União-AM), por exemplo, afirma que o atentado a bomba no STF é a razão pela qual o Brasil nunca deveria perdoar ataques à democracia.

"Sou terminantemente contra a concessão de anistia a atos desta natureza. Não podemos normalizar as explosões desta quarta-feira, tampouco os atos antidemocráticos de dezembro de 2022 e de 8 de janeiro 2023, sob pena de que se tornem constantes", disse o deputado do Amazonas.

Também pode ser a gota d´água para minar as esperanças de Bolsonaro de reverter a decisão que o tornou inelegível até 2030.

A decisão final desse recurso provavelmente caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF), agora ainda menos propenso a considerar o caso do ex-presidente com simpatia.

Esse novo foco nos apoiadores mais violentos de Bolsonaro também chega no momento em que a Polícia Federal está concluindo uma investigação sobre o suposto papel dele por trás dos ataques de 8 de janeiro e de uma conspiração para anular os resultados da eleição, com apoio dos militares.

"Vem em um momento péssimo para Bolsonaro", disse Carlos Melo, cientista político da universidade Insper, em São Paulo, referindo-se à queixa criminal pendente. "E isso vai se dar no contexto desse maluco que estourou as bombas na Praça dos Três Poderes."

Bolsonaro, que negou irregularidades e considera os inquéritos criminais uma caça às bruxas, respondeu aos atentados em uma publicação no X pedindo que o Brasil volte "a cultivar um ambiente adequado para que as diferentes ideias possam se confrontar pacificamente".

Após o bom desempenho de aliados nas eleições municipais brasileiras e da eleição dos Estados Unidos, o partido de Bolsonaro propagandeava suas chances de superar os obstáculos para concorrer à Presidência em 2026.

Por enquanto, no entanto, o atentado a bomba parece ter unido as fileiras de Brasília contra Bolsonaro e seus apoiadores. Pode ser que isso apenas alimente ainda mais as tensões.

"Se de um lado o Moraes vai se fortalecendo... do outro você vai tendo um pessoal mais radicalizado", disse o cientista político Creomar de Souza, da consultoria de risco político Dharma.

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