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Avião da Voepass voou sob "gelo severo" e caiu sem alertas de emergência, diz investigador

6 set 2024 - 20h14
(atualizado às 21h50)
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O avião ATR turboélice da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) no início de agosto, matando 62 pessoas, atravessou uma região com grande formação de gelo, o que causou acionamento de sinais de alerta visuais e sonoros aos pilotos e de sistemas de proteção da aeronave, afirmou nesta sexta-feira o investigador das causas da tragédia.

Segundo o tenente-coronel Paulo Fróes, do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), "em nenhum momento houve declaração de emergência" pelos pilotos da aeronave. O avião caiu em uma trajetória quase vertical sobre um condomínio da cidade no interior de São Paulo, antes de chegar ao destino no aeroporto de Guarulhos, depois de ter decolado de Cascavel, no Paraná.

Momentos antes da queda, sinais de alerta de velocidade baixa e de iminência de falta de sustentação foram ativados na aeronave, segundo os dados das duas caixas-pretas recuperadas dos destroços do turboélice, citaram os investigadores do Cenipa.

O relatório apresentado nesta sexta-feira não é final e as investigações devem levar mais de um ano, afirmaram os membros do órgão vinculado à Aeronáutica.

Durante o voo, uma das caixas-pretas gravou a voz de um dos membros da tripulação mencionando que havia "bastante gelo". Em outro momento, o piloto teria mencionado falha em um dos sistemas de redução de gelo do avião, mas essa informação não foi encontrada no gravador de dados da aeronave.

Segundo Fróes, o ATR possui equipamentos para ajudar a aeronave a lidar com a formação de gelo e os dados das caixas-pretas mostram seu acionamento, mas em alguns momentos o sistema foi desligado.

Questionado se o sistema poderia ser desligado pelos pilotos ou se poderia ter apresentado falha e ter se desligado sozinho, Fróes afirmou que o sistema "é desligado mediante botão".

O planejamento do voo da Voepass previa severas condições de formação de gelo, segundo os registros verificados pela equipe do Cenipa.

Questionado pela Reuters se o sistema antigelo pode não ter conseguido lidar com o volume que pode ter se acumulado nas asas - o que, quando acontece, pode fazer o avião perder a sustentação no ar - um dos membros da investigação afirmou que a aeronave é certificada para operar em condições gelo e que estava com manutenção em dia, de acordo com os registros.

Os membros da investigação também afirmaram que ainda não é possível saber quanto gelo poderia ter se acumulado nas asas do avião antes da queda.

"O que nós temos neste momento é que a aeronave não tinha nada que impossibilitasse aquela decolagem", disse o chefe do Cenipa, Brigadeiro Marcelo Moreno.

Para o piloto Rafael Bessa, que trabalha atualmente no Oriente Médio, e tem experiência prévia com ATRs, é preciso entender por que os sistemas antigelo ligaram e desligaram várias vezes e se houve alguma falha.

"⁠Se havia falha, por que não desceram buscando uma temperatura menor? Difícil dizer sem saber exatamente o que acontecia no cockpit", disse Bessa. "Acredito que inicialmente a condição de gelo estava controlável e se degradou rapidamente...Quando a condição degradou, acredito que não conseguiram descer devido às outras aeronaves na região", acrescentou, citando que somente o Cenipa poderá esclarecer com as apurações.

Segundo a investigação preliminar do Cenipa, o avião da Voepass decolou com 18 minutos de atraso e o planejamento do voo previa altitude de 17 mil pés após a decolagem, altitude que naquele momento, de acordo com dados meteorológicos, indicava a possibilidade de formação de gelo. Após estabilizar em 17 mil pés, o plano de voo previa a redução de altitude quando o ATR estivesse em um ponto ideal mais próximo de São Paulo.

Porém, os controladores de voo em São Paulo instruíram os pilotos da Voepass a manterem a altitude de 17 mil pés durante alguns minutos após os pilotos terem pedido permissão para reduzirem a altitude, conforme previsto no plano de voo, por causa da presença de outra aeronave na proximidade.

PARAFUSO

Um ponto que ainda será apurado, segundo os investigadores, é por que a aeronave na reta final do voo entrou em "parafuso chato" - uma queda na vertical - dando cinco voltas fechadas até a colisão contra o solo.

"Essa condição não é normal, é extremamente atípica", disse o coronel aviador Carlos Henrique Baldin, chefe de investigação do Cenipa.

A Voepass disse em nota à imprensa após a divulgação do Cenipa que o relatório preliminar confirmou que a aeronave estava com certificado de voo válido e todos os sistemas requeridos em funcionamento. A companhia afirmou ainda que o documento aponta que ambos os pilotos estavam aptos para realizar o voo, com todas as certificações de pilotagem válidas e treinamentos atualizados.

"Cabe lembrar que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do Cenipa poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido", afirmou a empresa.

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