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Battisti lança livro e diz ter sorte de ter grandes amigos

Em entrevista à BBC, ex-ativista diz sentir compaixão pelas famílias das vítimas de cujo assassinato é acusado da autoria.

12 mar 2012 - 17h58
(atualizado às 19h06)
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O ex-ativista italiano Césare Battisti, que prepara o lançamento no mês que vem de seu novo livro, Ao Pé do Muro, disse em entrevista à BBC "ter sorte de ter feito grandes amigos" durante sua vida, após escapar de uma extradição para seu país natal. "As pessoas que me ajudaram são cidadãos comuns", afirmou o ex-ativista.

O livro do ex-ativista deverá ser lançado em abril
O livro do ex-ativista deverá ser lançado em abril
Foto: Jonathan Heckler/Agência Freelancer / Especial para Terra

Meses após escapar de ser extraditado à Itália, onde é condenado por assassinato, Battisti se declara um apaixonado pela América Latina e o estilo de vida das pessoas "que transformam a miséria em riqueza e o drama em alegria". O novo livro de Battisti, lançado pela editora Martins Fontes, conta histórias de presos que ele conheceu no Brasil, nos quatro anos em que permaneceu preso.

"Estou publicando um livro simplesmente porque sou escritor", disse o italiano de 57 anos de idade, que escapou de uma prisão na Itália em 1981. Ex-integrante do grupo Proletários Armados para o Comunismo (PAC), o ex-ativista é acusado do assassinato de quatro pessoas em seu país natal.

Determinado a construir uma nova vida no Brasil, após o indulto concedido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma decisão que provocou a ira do governo italiano, Battisti disse que pretende trazer ao país uma ONG com quem trabalhou na França para estimular a leitura. "Já tenho contatos em algumas favelas no Rio", completa.

Trajetória
Battisti vive em uma cobertura praticamente sem móveis no Rio de Janeiro, após decreto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusar o pedido feito pela Itália de sua extradição, o que enfureceu o governo em Roma. O ex-ativista sempre negou as acusações de assassinatos, que teriam sido cometidos no final da década de 1970 e pelos quais foi condenado.

Segundo a Justiça italiana, ele foi o autor material da morte de dois policiais e autor intelectual dos assassinatos de dois civis. Os crimes são atribuídos ao PAC, que ele integrou até ser preso em 1979.

À época, não eram incomuns os assassinatos políticos, cometidos tanto por grupos de esquerda como de direita. Julgado à revelia em 1990 na Itália, foi condenado à prisão perpétua. Battisti diz ter nascido em uma família extremamente ligada ao comunismo, admitiu ter integrado o PAC, mas nega relação com as mortes.

"No meu caso, ocorreu uma espécie de operação artificial que construiu de uma hora para outra o monstro Césare Battisti", disse ele. Ele diz sentir compaixão pelas famílias dos assassinados. "Choraria com eles pelo que passaram", afirma.

"Mas choraria também pelas famílias dos centenas de camaradas que foram assassinados, porque quando falamos de vítimas temos que falar de todas as vítimas e nunca falamos destas."

Fugas

A fuga de Battisti em 1981 da prisão italiana de Frosinone, executada pelo PAC, teve requintes cinematográficos. Começou aí um périplo como fugitivo, entre México, França e Brasil. Ele contou com a importante ajuda de alguns governos. No México, conta que tinha status de "semiclandestino", concedido pelo governo de José Lopez Portillo (1976-1982).

Depois se beneficiou de uma lei francesa conhecida como "Doutrina Mitterrand", de não extradição de esquerdistas italianos, e começou a escrever romances policiais. Quando sentiu que essa proteção podia acabar no governo conservador de Jacques Chirac (ele chegou a ser preso e liberado), fugiu ao Brasil em 2004 com uma identidade falsa. Posteriormente, Battisti chegou a dizer que o documento havia sido fornecido pelo serviço secreto francês.

Três anos depois, foi preso no Rio de Janeiro, mas ele voltou a ter ajuda do governo: em 2009, o ministro da Justiça lhe concedeu status de refugiado político. No último dia de seu mandato no ano seguinte, Lula rejeitou o pedido para sua extradição e a decisão foi validada pelo Superior Tribunal Federal.

"O que diria a Lula é obrigado. Ele não tomou essa decisão, como muitos dizem, por afinidade política. Lula é um grande estadista", disse ele. A Itália contestou a decisão do ex-presidente brasileiro e prometeu levar o caso para o Tribunal Penal Internacional de Haia.

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