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Richa tem dia de "unanimidade" no Centro Cívico em Curitiba

Estudantes puxaram ofensiva contra o governador e de apoio aos professores agredidos da qual até eleitores do tucano em outubro participaram

30 abr 2015 - 21h27
(atualizado às 21h50)
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A concentração dos manifestantes foi em frente ao Palácio Iguaçu
A concentração dos manifestantes foi em frente ao Palácio Iguaçu
Foto: Janaina Garcia / Terra

Nem nas eleições de 2014 ele conseguiu – afinal, 55% dos votos válidos, ainda que em turno único, não representam 100% do eleitorado. Na tarde desta quinta-feira, porém, o governador Beto Richa (PSDB) foi, sim, unanimidade, ainda que por algumas horas. Mas não a unanimidade com a qual todo agente político sonharia: era impossível andar pelo Centro Cívico da capital paranaense e colher um único relato ou palavra de ordem que fosse em favor do chefe de Executivo reeleito com mais de 3,3 milhões de votos há apenas seis meses.

Os estudantes protestaram em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo paranaense
Os estudantes protestaram em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo paranaense
Foto: Janaina Garcia / Terra

É como se a ofensiva da Polícia Militar sobre professores e outros manifestantes, na véspera, às portas do Palácio Iguaçu (sede do governo paranaense) e da Assembleia Legislativa, tivesse atingido bem mais que a categoria profissional que era contrária a mudanças em seu próprio sistema previdenciário.

Em protesto, alunos de ensino Médio e Superior, de colégios e universidades públicos e privados, se uniram para repudiar a violência do dia anterior e ganharam a adesão de movimentos populares e até de quem deu a Richa, em outubro, mais quatro anos de governo.

“Votei nele, e, se tivesse como mudar meu voto, eu mudaria, de tanto que me arrependo. Minha filha está sem aula desde que começou a greve nas escolas do Estado, mas, pior que isso, foi ver a covardia de professores serem agredidos e impedidos de entrar em uma casa com pessoas que eles mesmos ajudaram a eleger”, lamentou a embaladora Noemi Zoleti, 43 anos, de Rio Negro, sul do Paraná. Gabriela, a filha sem aulas devido à paralisação, completou 15 anos ontem. “Nunca vou esquecer esse episódio, foi muito emblemático para a gente”, resumiu a mãe.

Ao menos 2 mil pessoas, segundo a coordenação do ato, estiveram no local
Ao menos 2 mil pessoas, segundo a coordenação do ato, estiveram no local
Foto: Janaina Garcia / Terra

Assistente de vendas em Curitiba, Joselene Nascimento, 34 anos, também foi ao ato de hoje no Centro Cívico. “É uma vergonha o que aconteceu aqui ontem; acho que nem procurando no dicionário eu consigo expressar. Cadê a ‘Curitiba cidade modelo’ de que tanto falam?”, questionou.

O ato teve início por volta das 13h comandado por estudantes. Eles deixaram a Praça 19 de Dezembro, nas imediações do Centro Cívico, e foram até o palácio do governo. Lá, um princípio de confusão acabou ganhando corpo quando um dos estudantes foi detido por desacato e levado pelo Choque ao 1º Distrito Policial. Os manifestantes tentaram então entrar por uma das portas do palácio, mas foram contidos por seguranças de terno e gravata. Os estudantes diziam que não deixariam o local até que o rapaz fosse solto – o que aconteceu por volta das 16h, segundo um advogado, após a assinatura de um termo circunstanciado.

Alunos de uma universidade particular fizeram intervenções artísticas em "luto pela democracia"
Alunos de uma universidade particular fizeram intervenções artísticas em "luto pela democracia"
Foto: Janaina Garcia / Terra

Além os gritos de guerra – “Richa fascista” era o principal , além de palavras de apoio aos professores –, os manifestantes levaram cartazes com a inscrição “Beto Ritler” e mensagens de apoio à educação pública. Em diversas faixas, lia-se ainda “luto à democracia” expresso também nas roupas dos presentes – predominantemente pretas.

Um grupo de estudantes deixou a bandeira do Paraná do palácio a meio-mastro e pôs, logo abaixo dela, uma bandeira menor, preta. Outros pintaram as mãos de vermelho e deixaram as digitais no mastro branco em sinal de apoio “ao sangue dos feridos” pela repressão policial da véspera.

Em intervenções artísticas, alunos de faculdades particulares, também de preto, deixaram rosas brancas em frente à sede do governo. Entraram e saíram aplaudidos.

No ato, sobraram críticas ao governador Beto Richa e palavras de apoio aos professores em greve
No ato, sobraram críticas ao governador Beto Richa e palavras de apoio aos professores em greve
Foto: Janaina Garcia / Terra

Os aplausos seriam mais fortes, porém, quando um grupo de professores em greve veio em direção aos estudantes. Pararam com o carro de som em frente à Assembleia e abriram o microfone a quem quisesse falar – uma fila de pelo menos 30 pessoas se formou, entre pais de alunos, sindicalistas, grevistas e participantes de segmentos tão distintos quanto skatistas e aposentados. Antes, porém, fizeram “um minuto de silêncio pela morte da democracia”.

“Governo picareta”, repetiu, por três vezes, um dos que se dispuseram a discursar. “Dormi ontem e só ouvia aqueles apitos e barulhos de bombas na cabeça”, disse uma estudante, também ao microfone. Outros tantos, acompanhados pelos manifestantes, pediram em mais de uma oportunidade “Fora Beto Richa”.

Rose Mari, dirigente sindical da APP, afirmou que uma comissão receberá os casos de violência e encaminhará aos órgãos de investigação
Rose Mari, dirigente sindical da APP, afirmou que uma comissão receberá os casos de violência e encaminhará aos órgãos de investigação
Foto: Janaina Garcia / Terra

Pelo sindicato que representa os professores estaduais paranaenses, a APP Sindicato, dirigentes explicaram que, durante todo o dia, conversaram com representantes da comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná e Comissão Estadual da Verdade para relatar os abusos de ontem e definir os rumos seguintes.

“Estimamos que pelo menos 200 professores se feriram ontem, mas estamos pedindo que façam exame de corpo delito e registrem isso em uma delegacia para que sirva de subsídio à investigação criminal aberta pelo MP. Criamos uma comissão, batizada de 29 de Abril, para receber esses casos e levar eles a quem investiga para que não fiquem impunes”, afirmou uma das dirigentes da APP, Rose Mari Gomes.

Para amanhã, feriado de 1º de Maio, a festa para o trabalhador que seria realizada pelo governo no Centro Cívico teve os palcos que eram erguidos todos desmontados. No lugar da festa, professores, estudantes e movimentos sociais farão uma “marcha fúnebre” pelos presos e feridos no ato de quarta-feira.

Curitiba: protesto tem confusão entre seguranças e estudantes:
Fonte: Terra
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