Bolsonaro cita 'interesse' em 'interferência na Amazônia' após encontro com príncipe Charles
Para presidente brasileiro, herdeiro da coroa britânica foi 'simpático' em encontro em Tóquio, mas o mundo todo está equivocado 'do que é a Amazônia'.
O príncipe Charles é um "homem simpático", mas, "como o resto do mundo, está equivocado sobre a Amazônia".
Ao menos foi esta a impressão do presidente Jair Bolsonaro sobre o encontro com o herdeiro da coroa britânica, que ocorreu na última quarta-feira (23), em Tóquio, e foi divulgada de surpresa nas redes sociais do presidente.
Em conversa breve com jornalistas na entrada do hotel em que se hospeda em Pequim, onde se encontra nesta sexta-feira com o presidente chinês Xi Jinping, o presidente foi questionado pela BBC News Brasil sobre o encontro com o filho da rainha Elizabeth 2ª.
"Não deixou de ser uma surpresa. Mas uma surpresa agradável", disse Bolsonaro quando questionado sobre o encontro.
A reportagem pergunta o que o líder brasileiro achou do príncipe.
"É uma pessoa simpática. Como você."
A BBC News Brasil questionou o presidente sobre o que os dois discutiram durante o encontro, que, segundo o mandatário brasileiro, durou 30 minutos. A Amazônia foi tema?
"Em um primeiro momento, há interesse deles, logicamente, né, de ter uma certa interferência, entre aspas, nessa questão", respondeu o presidente.
"Agora, o mundo todo está equivocado do que é a Amazônia, do que ela representa, e não sabe que lá existem mais de 20 milhões de brasileiros na região", prosseguiu.
Organização das Nações Unidas
A BBC News Brasil perguntou se Bolsonaro teria conseguido convencer o príncipe a mudar de ideia.
"Eu acho que sim. Não sei. Eu tenho a minha opinião, na mesma linha lá do meu discurso na ONU."
Na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro passado, Bolsonaro adotou tom duro ao falar sobre o assunto. O presidente disse que "os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional despertaram nosso sentimento patriótico" e que líderes estrangeiros teriam "embarcado em falácias da mídia sobre a Amazônia" e tratado o Brasil com "desrespeito e espírito colonizador".
No discurso, Bolsonaro citou nominalmente a França e a Alemanha e afirmou que os países destinam metade de seus territórios para a agricultura, contra 8% do Brasil.
"A Amazônia não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia. Cada um de vocês pode comprovar o que estou falando agora", afirmou o presidente na ocasião.
Brexit e a 'migração em massa'
O presidente também disse que conversou com o príncipe Charles brevemente sobre o intrincado processo de saída do Reino Unido da União Europeia, conhecido como Brexit.
"(Conversamos) por alto, sim. É uma questão interna. Talvez, o Brexit houve muito mais em função da migração em massa, que botou o povo contrário a política que reinava no momento", disse Bolsonaro.
Questionado por jornalistas sobre a situação da Bolívia, que declarou Estado de Emergência após uma onda de protestos e denúncias sobre suposta fraude nas eleições presidenciais, Bolsonaro citou suspeitas sobre o processo eleitoral.
"Na Bolívia, há uma pressão externa da OEA (Organização dos Estados Americanos) para que haja segundo turno. No meu entender, seria uma posição muito equilibrada do governo atual. Mas muita gente suspeita das eleições. Não sei se o governo voltará atrás", disse.
Um dia após afirmar que poderia pedir a suspensão da Argentina do Mercosul, caso um novo governo no vizinho sul-americano decidisse se opor à abertura comercial do bloco, Bolsonaro voltou a tocar no assunto após ser questionado por repórteres.
"Desde o começo, eu tinha uma posição. O Paulo Guedes me convenceu do contrário", disse, citando comentários antigos em que chegou a defender o fim do bloco sul-americano.
"A gente espera que a Argentina, caso mude a linha do governo, continue na mesma toada. Caso mude, uma decisão da nossa parte será tomada", afirmou o presidente.