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Bolsonaro demite Mandetta e diz que novo ministro terá de olhar empregos na luta contra coronavírus

16 abr 2020 - 18h13
(atualizado às 19h22)
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Depois de três semanas de fritura, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quinta-feira a demissão de Luiz Henrique Mandetta e a nomeação do oncologista Nelson Teich para o Ministério da Saúde, mudando o comando do enfrentamento à pandemia de coronavírus e com uma cobrança por maior atenção ao aspecto econômico da crise.

Bolsonaro no Planalto, antes de anunciar nome de novo ministro da Saúde, Nelson Teich 16/4/2020 REUTERS/Adriano Machado
Bolsonaro no Planalto, antes de anunciar nome de novo ministro da Saúde, Nelson Teich 16/4/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Ao apresentar Teich no Palácio do Planalto como novo ministro, Bolsonaro afirmou que começa agora uma transição que gradualmente vai servir para "redirecionar a posição" não apenas do presidente, mas dos 22 ministros que integram o governo, com relação ao novo coronavírus.

"O que eu conversei ao longo desse tempo com o oncologista doutor Nelson, ao meu lado, foi fazer com que ele entendesse a situação como um todo, sem abandonar, obviamente, o principal interesse, a manutenção da vida, mas sem esquecer que ao lado disso tínhamos outros problemas", disse Bolsonaro.

"Esse outro é a questão do desemprego, que cada vez mais nós vemos que está claro em nosso país. Junto como o vírus veio uma verdadeira máquina de moer empregos. As pessoas mais humildes começaram a sentir primeiro o problema, essas não podem ficar em casa por muito tempo", acrescentou o presidente, em pronunciamento.

Bolsonaro deixou claro que a troca dos ministros vinha se desenhando há bastante tempo e que a função de Teich será encerrar, ainda que aos poucos, o isolamento social no país, adotado na maior parte dos Estados por ordem dos governadores com o apoio de Mandetta, apesar da contrariedade do presidente.

Para Bolsonaro, somente os integrantes do grupo de risco deveriam ficar isolados, enquanto Mandetta publicamente recomendava à população que seguisse as orientações dos governadores -- que também são defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Sei, repito, que a vida não tem preço. Mas a economia, o emprego, tem de voltar à normalidade. Não o mais rápido possível, como conversado com o doutor Nelson, mas tem que começar a ser flexibilizado para que não viemos a sofrer mais com isso", disse Bolsonaro.

"DIVÓRCIO AMIGÁVEL"

O presidente teve uma reunião na manhã desta quinta-feira com Teich, o primeiro dos indicados a substituir Mandetta, e havia planejado encontros com pelo menos outro médico, Claudio Lottemberg, para sexta-feira.

No entanto, de acordo com uma fonte, Bolsonaro ficou muito bem impressionado com a apresentação do médico e o convidou no início da tarde para assumir o cargo.

Mandetta, que mantivera agenda normal durante o dia, participando de duas videoconferências --uma, pela manhã, com o setor médico, e outra, à tarde, com investidores-- avisou nas duas conversas que seria demitido ainda nesta quinta ou, no máximo, na sexta-feira.

O ministro foi chamado ao Planalto pouco depois das 15h para um encontro privado, que durou cerca de meia hora. Pouco depois, o próprio Mandetta informou no Twitter que havia sido demitido. Bolsonaro disse que ambos decidiram em comum acordo.

"Agora há pouco terminei uma reunião com o ministro Mandetta e discutimos a situação atual do ministério, bem como da pandemia. Uma conversa bastante produtiva, muito cordial, onde nós selamos um ciclo no ministério da Saúde", disse Bolsonaro. "E, em comum acordo, mas o termo técnico não é esse, eu o exonero do ministério nas próximas horas."

A demissão ocorreu após três semanas de ameaças em entrevistas, discussões ásperas em reuniões e algumas tentativas de trégua que não resolveram a crise. Na última terça-feira, depois de uma reunião ministerial em que ouviu calado o presidente deixar claro que era ele quem mandava no governo, Mandetta avisou seus principais auxiliares que seria demitido até o final da semana,

Inicialmente defendido pelos ministros militares e por alguns civis, além de ter um alto apoio na sociedade, Mandetta conseguiu se segurar por mais uns dias no cargo. Mas, depois da entrevista à TV Globo no domingo, em que afirmou haver uma dubiedade no governo e que as pessoas não sabiam se deviam ouvir o presidente ou ele, o apoio dos ministros acabou.

Em seu pronunciamento ao lado de Teich, Bolsonaro admitiu que as divergências entre ele e Mandetta vinham se avolumando, mas afirmou que a situação terminou em um "divórcio amigável".

"Não condeno, não recrimino e não critico o ministro Mandetta. Ele fez aquilo que, como médico, ele achava que devia fazer", afirmou. "Ao longo desse tempo, a separação cada vez mais se tornava uma realidade, mas nós não podemos tomar decisões de forma que o trabalho feito por ele até o momento fosse perdido."

Apesar de ter defendido o oposto de Mandetta nas últimas semanas, Bolsonaro evitou criticar seu ex-ministro que, nas últimas pesquisas, conseguiu uma aprovação no combate à epidemia de mais de 70%, maior que a do próprio presidente, que ficou em 33%.

"É direito do ainda ministro (Mandetta) defender seu ponto de vista como médico, e a questão de entender a questão do emprego não foi da forma que eu, como chefe do Executivo, achava que deveria ser tratada", disse o presidente.

Mesmo com os cuidados de não ofender seu ex-ministro, o pronunciamento de Bolsonaro atraiu panelaços em várias cidades do Brasil. No Rio de Janeiro, em Brasília e em São Paulo foram registrados protestos contra o presidente e gritos de "fica, Mandetta".

NOVO MINISTRO

Em sua primeira declaração pública após a indicação para o cargo, Teich rejeitou a polarização entre economia e saúde no combate ao coronavírus, afirmando ao lado de Bolsonaro que as duas áreas caminham juntas, e se disse completamente alinhado com o presidente

Apesar de ter sido encarregado de buscar formas de permitir a retomada gradual da economia, o oncologista defendeu recentemente medidas para conter a epidemia de coronavírus semelhantes às que o ministério vem adotando atualmente.

Em um artigo publicado na rede LinkedIn, ele destaca a necessidade de "reduzir o volume de entrada simultânea" no Sistema Único de Saúde —o chamado achatamento da curva— e do isolamento horizontal.

Teich disse que, em um primeiro momento, não vai haver qualquer "definição brusca" sobre o isolamento social, mas afirmou que vai trabalhar para que sociedade retome de forma cada vez mais rápida a vida normal.

O novo ministro anunciou que uma de suas medidas será ampliar o programa de testes de Covid-19 do ministério, envolvendo tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) como a saúde complementar, de forma a entender melhor a doença.

"Temos que entender mais da doença para administrar o momento, planejar o futuro e sair dessa política de isolamento", afirmou.

(Edição de Pedro Fonseca)

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