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Bolsonaro e Fernández tentam "superar desencontros" em primeira reunião desde a posse do argentino

30 nov 2020 - 14h42
(atualizado às 14h44)
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Um ano depois de Alberto Fernández tomar posse como presidente da Argentina, a primeira reunião entre ele e o presidente Jair Bolsonaro, por videoconferência, nesta segunda-feira, durou quase uma hora e, de acordo com informações da embaixada argentina, teria sido cordial e focada na decisão de "superar os desencontros" entre os dois governos.

Presidente da Argentina, Alberto Fernández 
01/03/2020
REUTERS/Agustin Marcarian
Presidente da Argentina, Alberto Fernández 01/03/2020 REUTERS/Agustin Marcarian
Foto: Reuters

Em nota distribuída pelo governo argentino, Fernández, durante a reunião, defendeu que é hora de "deixar as diferenças do passado e encarar o futuro com as ferramentas que funcionam bem entre nós" para "potencializar todos os pontos do acordo" do Mercosul.

Ainda segundo o governo argentino, Bolsonaro teria respondido a Fernández que o Mercosul é o principal pilar de integração na região e pediu que se desenvolvam mecanismos mais ágeis e menos burocrático dentro do bloco, além de ter declarado a intenção de avançar em áreas de interesse comum, como o turismo.

O governo brasileiro não repassou nenhuma informação sobre o encontro. Procurados, a Secretaria Especial de Comunicação Social informou que não havia previsão de nota sobre o encontro. O Itamaraty não respondeu.

A própria divulgação da videoconferência foi feita também pela Argentina e nem mesmo entrou na agenda oficial de Bolsonaro. A Secom confirmou que a reunião ocorreria apenas depois da informação argentina ter chegado ao Brasil. A explicação para a reunião não estar na agenda é que seria "privada".

Sem nunca antes terem se encontrado ou conversado, a relação entre Bolsonaro e Fernández era vista como difícil. Durante toda a eleição argentina, em 2019, Bolsonaro deu diversas declarações torcendo pela reeleição de Mauricio Macri, ex-presidente alinhado com a direita.

Bolsonaro chegou a dizer que "bandidos de esquerda" ameaçavam voltar ao poder no país vizinho --Fernández tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner-- e afirmar que a Argentina seria a nova Venezuela.

Ao longo deste ano, criticou o governo de Fernández por diversas vezes, tanto no tratamento da pandemia de Covid-19 como em questões econômicas, citando a Argentina como exemplo do que pode acontecer "se a esquerda voltar ao poder". O presidente argentino tem evitado responder.

Apesar da relação conflituosa via imprensa, de acordo com uma fonte argentina que acompanhou a videoconferência, o encontro foi cordial e focou na cooperação entre os dos países, nas áreas comercial, de defesa e também na questão de acesso a vacinas que estão sendo desenvolvidas para a Covid-19.

O encontro entre os dois foi intermediado pelo embaixador argentino no país, Daniel Scioli, segundo a representação diplomática da nação vizinha. Desde que chegou no Brasil, Scioli tem tido dezenas de encontros com vários ministros do governo, não apenas da área econômica, mas próximos de Bolsonaro, como o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, para distensionar a relação.

Em crise econômica severa, a Argentina tem trabalhado para criar uma relação institucional com o governo brasileiro e comemora o aumento de 30% da corrente de comércio entre os dois países desde agosto, apesar da pandemia. O Brasil é primeiro destino das exportações de bens industriais argentinos e essencial para uma recuperação econômica do país.

De acordo com a fonte ouvida pela Reuters, o encontro, apesar de um certo incômodo no início, fluiu bem. Bolsonaro chegou a propor que se avance em acordos de cooperação nas áreas de combate ao crime organizado, defesa e também na revisão da Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC).

Do seu lado, Fernández levantou a questão ambiental, a preservação da Amazônia e propôs um acordo de preservação ambiental. Bolsonaro não comentou.

Depois do encontro bilateral entre os dois presidentes, foi feita uma cerimônia com a presença do ex-presidente José Sarney para marcar os 35 anos de um encontro entre Sarney e Raúl Alfonsín, primeiros mandatários civis depois do final das ditaduras militares em ambos os países, e que foi instituído como Dia da Amizade entre Brasil e Argentina. O encontro, em Foz do Iguaçu, marcou também o início das conversas entre Brasil e Argentina para criação do Mercosul.

MARADONA

Morto na semana passada, o jogador argentino Diego Maradona serviu para quebrar o gelo entre argentinos e brasileiros. Sem ter se manifestado publicamente sobre a morte até esta segunda, Bolsonaro deu os pêsames a Fernández e comentou que Maradona foi "um dos maiores jogadores do mundo".

O craque argentino morreu no último dia 25 após sofrer uma parada cardíaca em casa. Maradona, que estava com 60 anos, se recuperava de uma cirurgia.

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