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Bolsonaro muda tom, usa máscara e tenta mostrar comando em reação ao coronavírus

18 mar 2020 - 19h28
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Depois de minimizar por vários dias o impacto da pandemia de coronavírus, que classificou de histeria, o presidente Jair Bolsonaro, pressionado pela crescente reação negativa a sua postura e seu governo, mudou o tom ao conceder nesta quarta-feira uma longa entrevista, rodeado por seus principais ministros usando máscaras de proteção.

Bolsonaro, com máscara de proteção, em evento no Palácio do Planalto 18/3/2020 REUTERS/Adriano Machado
Bolsonaro, com máscara de proteção, em evento no Palácio do Planalto 18/3/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Criticado duramente por ter incentivado e participado das manifestações do último domingo, contra o Congresso e Supremo Tribunal Federal, em um momento em que a epidemia cresce no Brasil, tentou demonstrar que estava no comando da reação à epidemia. Mas começou sua fala defendendo-se. Disse que o movimento foi espontâneo e que decidiu estar "ao lado do povo sabendo dos riscos que corria".

"Mas o momento agora, com a realidade posta, com os riscos que parcela da população pode vir a sofrer, nós externamos toda a nossa preocupação bem como estamos tendo apoio incondicional por parte da Câmara e do Senado em todas as medidas que por ventura se façam necessárias para que esse problema seja atenuado", disse o presidente.

Na noite de terça-feira, o governo de Jair Bolsonaro enfrentou pela primeira vez um protesto espontâneo, um panelaço que veio principalmente dos bairros de classe média no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, além de registros menores em outras capitais como Porto Alegre e Recife. Um outro movimento está marcado para as 20h30 desta quarta-feira.

Nas redes sociais, desde o domingo, o presidente e seus defensores têm perdido a disputa por espaço e a onda de críticas cresceu consideravelmente. Em sua página no Facebook, eleitores reclamaram da postura do presidente em relação à epidemia e chegaram a dizer que estavam retirando seu apoio.

Perguntado sobre os panelaços, Bolsonaro não atacou. Disse apenas que seria mais uma demonstração de democracia.

"No tocante ao panelaço, parece que é um movimento espontâneo por parte da população. Qualquer movimento por parte da população eu encaro como uma expressão da democracia", disse. "Não interessa o que venha acontecer. Qualquer manifestação popular nas ruas ou dentro de casa, com panelaço, nós políticos devemos entender como uma pura manifestação da democracia."

Mas, reclamando da imprensa, Bolsonaro cobrou que seja divulgado também um suposto panelaço a seu favor, também marcado para essa noite.

Questionado sobre chamadas para um novo ato a seu favor que estaria surgindo nas redes sociais, marcado para 31 de março - dia do golpe militar de 1964 - Bolsonaro afirmou que não tinha participação, mas que já teriam cancelado.

"Não tem clima para fazer nenhuma manifestação, mesmo espontânea", disse.

HISTERIA

Em momento algum o presidente admitiu arrependimento por ter incentivado as manifestações do dia 15 ou por ter participado delas. Nem recuou explicitamente do fato de ter chamado a crescente preocupação com a epidemia de coronavírus uma "histeria".

Seu papel, disse ele, era levar "paz e tranquilidade" ao povo brasileiro, e o governo estava se preparando desde fevereiro para a epidemia.

"Também diria que o pânico não leva a lugar nenhum. Repito que o momento é de grande preocupação, é de grande gravidade, mas devemos evitar que esse clima chegue a nós, adotando essas medidas", disse ao final da entrevista, que durou quase duas horas.

Bolsonaro tentou, ao longo da entrevista, usar um tom presidencial e ponderado, mesmo atacando novamente a imprensa em diversas ocasiões. Fez seguidos elogio ao Congresso e ao Judiciário, em uma tentativa de reverter o impacto de seu apoio à manifestação do dia 15 e ataques que fez depois aos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Bolsonaro chamou para o início da noite um encontro e uma declaração à imprensa com os demais Poderes, incluindo ainda o Tribunal de Contas da União, Superior Tribunal de Justiça e Procuradoria-Geral da República. Alcolumbre não deve comparecer, já que está com coronavírus. Maia, não deu certeza, uma vez que conduz votações na Câmara.

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