Bolsonaro se encontra com líder da extrema direita italiana
Presidente se reuniu com Matteo Salvini, ex-ministro conhecido pela xenofobia, em monumento que homenageia pracinhas brasileiros mortos na Segunda Guerra. Evento foi evitado por políticos moderados da região.Em seu último compromisso antes de voltar ao Brasil, o presidente Jair Bolsonaro participou nesta terça-feira (02/11) de uma cerimônia em Pistoia, no norte da Itália, ao lado do político italiano de extrema direita Matteo Salvini, líder do partido xenófobo Liga Norte e um dos raros políticos do país europeu que não se incomoda em se associar ao líder brasileiro.
Os dois se encontraram em frente a um monumento que homenageia os cerca de 500 soldados brasileiros que morreram no combate ao nazifascismo durante a Segunda Guerra Mundial. O local ainda abriga um túmulo do soldado desconhecido, um "pracinha" brasileiro que nunca foi identificado.
O evento não contou com a participação de políticos da região, como o prefeito de Pistoia ou o governador da Toscana. O bispo local, Fausto Tardelli, que normalmente conduz orações durante cerimônias no monumento, também não compareceu alegando ser "abertamente contrário à instrumentalização da celebração". Um padre acabou liderando as preces em seu lugar.
Bolsonaro deixou uma coroa de flores no monumento e disse que estava "honrado" de visitar a "terra dos seus antepassados".
Em um discurso, o presidente mencionou a participação brasileira no conflito e afirmou: "Ouso dizer que, mais importante que a vida, é a nossa liberdade" - uma frase que ele vem usando regularmente para justificar muitas das medidas negacionistas da pandemia, como a oposição à adoção de passaportes sanitários ou obrigatoriedade da vacina.
Salvini pede desculpa por atos anti-Bolsonaro
Ao falar com jornalistas, o italiano Salvini pediu "desculpas" pelos protestos contra a visita de Bolsonaro ao país.
Na segunda-feira, Bolsonaro foi alvo de centenas de manifestantes no vilarejo de Anguillara Veneta, que protestaram contra a concessão pela prefeitura local - chefiada por uma política do partido de Salvini - de um título de cidadão honorário ao chefe de Estado brasileiro. O protesto foi reprimido pela polícia, que usou cassetetes e jatos d'água contra os manifestantes. O vilarejo de 4 mil habitantes é a terra natal de Vittorio Bolzonaro, bisavô do presidente brasileiro.
No mesmo dia, em visita à basílica de Santo Antônio, em Pádua, Bolsonaro também não foi recebido por nenhuma das autoridades católicas locais. A diocese local também criticou a homenagem do vilarejo Anguillara Veneta a Bolsonaro.
"Peço desculpas ao povo brasileiro, representado pelo seu presidente da República, pelas incríveis polêmicas, inclusive, na comemoração dos caídos que perderam a vida em nosso país para libertá-lo da ocupação nazista", disse Salvini, que foi ministro do Interior da Itália entre 2018 e 2019.
Acusado de "normalizar o fascismo"
Salvini ainda afirmou que "a polêmica política não é possível quando se trata de homenagear os caídos para nos brindar com liberdade".
A declaração não passou despercebida pela imprensa italiana, que lembrou que Salvini boicotou, à época em que era ministro, uma cerimônia para celebrar os 74 anos da libertação da Itália das forças nazistas e fascistas. Á época, Salvini menosprezou a data, falando que ela não passava de um "dérbi entre fascistas e comunistas". À época, a imprensa e intelectuais acusaram Salvini de "normalizar o fascismo".
Em agosto, o subsecretário de Economia da Itália filiado à Liga, o partido de Salvini, renunciou após sugerir que um parque de sua cidade natal fosse renomeado em homenagem ao irmão do ditador fascista Benito Mussolini. A sugestão provocou uma onda de críticas.
Atualmente, Salvini responde a uma ação judicial por ter impedido - na época em que ocupou o cargo de ministro do Interior - o desembarque de um navio com mais de 140 migrantes resgatados no Mar Mediterrâneo por uma ONG.
Conhecido por suas posições xenófobas, Salvini já se referiu várias vezes a Jair Bolsonaro como "o meu amigo brasileiro". Ele também tem relações com Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e já participou de lives com o deputado brasileiro. Salvini também já defendeu publicamente a forma como Jair Bolsonaro lidou com a pandemia, que deixou até o momento mais de 600 mil mortos no Brasil.
Questionado nesta terça-feira sobre a atuação de Bolsonaro na crise sanitária e as acusações de crimes contra a humanidade que foram imputadas ao presidente pela CPI da Pandemia, o líder da Liga Norte afirmou que "a história" deve julgar o assunto.
Bolsonaro foi à Itália na semana passada para participar da cúpula do G20. Em contraste com outros líderes, sua agenda foi bastante vazia. Ele protagonizou poucos encontros bilaterais. Imagens de Bolsonaro sozinho e isolado durante o encontro também chamaram a atenção. Sem muitos compromissos, Bolsonaro gastou parte do seu tempo com passeios em Roma e encontros com apoiadores.
jps/ek (DW, Efe, ots)