Bolsonaro sobre caso Neymar: 'O que ela fez atravessando o Atlântico?'
Em Buenos Aires, presidente também comentou eleições argentinas, fazendo endosso explícito à reeleição de Mauricio Macri.
O presidente Jair Bolsonaro comentou durante sua visita a Buenos Aires a acusação de estupro contra o jogador Neymar.
Questionado por jornalistas se acreditava que o atleta era inocente, ele respondeu: "Pelo que eu vi até agora é, né?", afirmou logo após almoço com o presidente argentino, Mauricio Macri.
"Peraí, se você analisar o contexto ali, o que que ela fez atravessando o Atlântico, né? Ela falou, eu vi no Cabrini (Roberto Cabrini, jornalista do SBT) parte da entrevista, ela dizendo que foi lá pra fazer... fazer amor com ele", acrescentou, referindo-se à modelo Najila Trindade Mendes, que fez a denúncia.
Ao comentário de que o jogador não teria sido "muito amoroso" com Najila, o presidente afirmou: "Eu não sei, não tava no quarto".
Sobre o encontro com o jogador na noite de quarta-feira, no amistoso entre Brasil e Catar, Bolsonaro disse ter conversado "amenidades".
"É um jovem garoto. Tenho filhos mais novos e mais velhos que ele. Gosto do pai dele", emendou.
Eleições argentinas
O presidente também foi questionado sobre seus comentários a respeito das eleições argentinas, com endosso explícito à reeleição de Mauricio Macri, e sobre como ficaria a relação entre os dois países caso a chapa da ex-presidente Cristina Kirchner vença as eleições de outubro.
"A gente não veio aqui pra falar de política interna", declarou. "Mas tivemos uma experiência bastante triste no Brasil, semelhante à da Argentina, e a democracia e a liberdade têm que falar mais alto por ocasião das eleições".
Em maio, Kirchner anunciou que seria vice na chapa de Alberto Fernández, que foi seu Chefe de Gabinete por um curto período. A decisão da senadora de não ser cabeça de chapa, que surpreendeu o mundo político argentino, foi considerada uma estratégia da ex-presidente para tentar contornar o nível alto de rejeição à sua figura.
A jogada também foi interpretada como um aceno aos eleitores de centro, já que Fernández é visto como peronista moderado.
No comunicado conjunto com Macri, realizado na Casa Rosada na manhã desta quinta-feira (6), Bolsonaro pediu aos argentinos que votassem com a "razão" e não com a "emoção".
Ao contrário de outras ocasiões, entretanto, ele não citou o nome de Cristina Kirchner.
Perguntado sobre o mesmo assunto no fim do dia, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que a avaliação de que o governo brasileiro estaria interferindo em assuntos internos do vizinho seria uma "questão de interpretação": "A gente tá deixando claríssima nossa vontade de trabalhar com o presidente Macri, independentemente das circunstâncias hoje".
Quanto à possibilidade de vitória da chapa da senadora, declarou: "se vier outro cenário, nós vamos ver o que fazer". "A gente não pode se restringir do que fazer agora", acrescentou.
O presidente Bolsonaro tem dito que a eleição de Cristina aumentaria o risco de que a Argentina virasse uma "nova Venezuela".
A primeira visita oficial à Argentina
Bolsonaro foi a Buenos Aires acompanhado de sete ministros, entre eles o da Economia, Paulo Guedes, a da Agricultura, Tereza Cristina, e o do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno. O governador do Rio, Wilson Witzel, e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, também acompanharam a comitiva.
O Mercosul foi um dos principais temas do encontro. Segundo o ministro das Relações Exteriores, a negociação do acordo do bloco com a União Europeia, que se estende há 20 anos, está próxima à conclusão.
A expectativa é que a assinatura aconteça na reunião técnica entre as duas partes marcada para os dias 27 e 28 de junho na Bélgica, em paralelo à reunião da cúpula do G20.
De acordo com o Itamaraty, durante a visita também foram reafirmados compromissos antigos entre os dois países, como a cooperação na área de energia nuclear, por ocasião dos 25 anos do acordo quadripartite, e a aliança entre Forças Aéreas argentinas e Embraer na construção do cargueiro militar KC-390.
Brasil e Argentina reafirmaram ainda seu posicionamento em relação à Venezuela, de apoio ao presidente autodeclarado Juan Guaidó e de exercício de "pressão política e diplomática para sobre o regime de Maduro para que se permita o início de um processo de transição democrática", como definiu o chanceler.
Até a Guerra das Malvinas esteve na pauta. O comunicado do Itamaraty informa que o Brasil reiterou o apoio à soberania Argentina sobre o arquipélago, controlado pelo Reino Unido desde o início dos anos 80, após o conflito que marcou o fim da ditadura na Argentina.